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Entrevista

“Arte brasileira me interessa muito”, diz artista argentino Pablo Martín

Pablo lança neste sábado, 18, livro na Feira de Arte de Goiás (Fargo). Ao DM, fala sobre política, líderes extremistas e criação

Pablo Martín, artista visual Pablo Martín, artista visual

No universo das artes plásticas e da literatura, o encontro entre visões críticas e expressões artísticas é essencial para provocar reflexões profundas sobre a sociedade contemporânea. O artista visual argentino Pablo Martín apresenta sua obra mais recente, "Señores del Mal" (Senhores do Mal), lançada pela Hidrolands Grafisch Atelier. Nascido em Buenos Aires em 1974, Martín é reconhecido internacionalmente por suas exposições em diversas partes do mundo, como Paris, Berlim e São Paulo, impactando coleções privadas globalmente.

"Señores del Mal" consiste em uma série de 30 retratos imaginários, cada um representando uma figura sinistra que ecoa os desafios políticos contemporâneos. Inspirado pelos vilões dos quadrinhos, Martín mergulha no mundo sombrio da política, destacando o avanço da extrema direita não apenas na Argentina, mas em toda a América Latina. O lançamento do livro ocorre neste sábado, 18, às 18h30, no estande da Hidrolands Grafisch Atelier, na Feira de Arte de Goiás (Fargo), no Centro Cultural Oscar Niemeyer.


		“Arte brasileira me interessa muito”, diz artista argentino Pablo Martín
Capa da obra. Foto: Divulgação


Além dos 150 exemplares numerados e assinados por Martín, o livro oferece duas opções de capa, em vermelho e preto, com uma técnica de serigrafia manual que preserva a essência artística de cada retrato. Durante o evento de lançamento, algumas obras de Pablo Martín serão expostas, proporcionando aos visitantes uma imersão completa em seu universo criativo. A Hidrolands Grafisch Atelier, liderada pelo artista plástico goiano Marcelo Solá, destaca-se por promover obras de coleção com tratamento artesanal e tiragens limitadas.

Na entrevista que se segue, o artista fala sobre arte e tece opiniões a respeito de política. Confira a íntegra da entrevista que o Diário da Manhã realizou com Pablo Martín:

Diário da Manhã - Qual foi a inspiração por trás da série "Señores del Mal" e como você acha que ela reflete a política contemporânea?

Pablo Martín - A série surgiu porque comecei a perceber um padrão global em que os líderes da extrema direita estão chegando ao poder pelo voto popular. Na maioria das vezes, vejo esses líderes como vilões das histórias em quadrinhos, como a antítese do super-herói que faz tudo pelo povo.

DM - Pode nos contar mais sobre o processo de criação dos desenhos presentes no livro? Quais foram os principais desafios enfrentados?

Pablo - Esses desenhos saíram de forma violenta, eu poderia dizer, ou como um vômito, uma necessidade de expressar e não algo premeditado ou planejado. Atualmente, estou trabalhando com colagem, o que demanda muito mais tempo e planejamento, e com abstração. Então, você poderia dizer que estava saindo completamente do meu registro atual, entrando nos reinos do humor gráfico e dos quadrinhos, linguagens que me interessam muito.

"A "aberração", o “diferente” ou original atrai muito mais do que o modelo político a que estamos habituados. Eu não vejo no futuro próximo a possibilidade de fazer política sem levar em conta as novas linguagens Pablo Martín, artista visual

DM - Como foi a transição de suas obras anteriores, fortemente influenciadas pela arte dos povos nativos latino-americanos e africanos, para uma abordagem mais centrada nos quadrinhos em "Señores del Mal"?

Pablo - Acho que embora muitos dos meus trabalhos pareçam formalmente diferentes dos desenhos do SDM. Sempre foi em mim aquele gosto pelo que há de mais popular: quadrinhos, humor gráfico e arte impressa, revistas, fanzines, etc. Por isso, não sinto que, embora estejam em outro registro do que costumo fazer, não sejam algo que carrego dentro de mim e esteja pronto para surgir.

DM - Você mencionou que muitos líderes da extrema direita exercem uma forte atração sobre parte do público, semelhante aos vilões das histórias em quadrinhos. Como você acha que essa dinâmica influencia o cenário político atual?

Pablo - Acho que esses líderes sabem se cercar com muita habilidade de pessoas que gerenciam redes sociais, o imediatismo de um tweet ou de um meme e que capta a atenção dos eleitores mais jovens. Portanto, a "aberração", o “diferente” ou original atrai muito mais do que o modelo político a que estamos habituados. Eu não vejo no futuro próximo a possibilidade de fazer política sem levar em conta as novas linguagens. Eu sinto que neste momento é a extrema direita que compreendendo melhor como comunicar com os eleitores.

DM - O livro apresenta uma visão ácida e sombria da política contemporânea. Como você acha que a arte pode contribuir para a reflexão e o debate sobre questões políticas e sociais?

Pablo - Esperamos que este livro possa contribuir pelo menos um pouco para olharmos para esses líderes com humor, sem levá-los tão a sério, e fazer você pensar ao votar: "Será que vou mesmo votar nesse personagem?" Eu acredito fortemente que a arte pode fazer a diferença, mas tem que ser um movimento coletivo mais do que nunca para ter algum efeito positivo e imediato.


		“Arte brasileira me interessa muito”, diz artista argentino Pablo Martín
Obras do artista. Foto: Divulgação


DM - Quais são suas expectativas para o lançamento do livro durante a Feira de Arte de Goiás (Fargo)?

Pablo - Espero que as pessoas queiram ter o livro. É um objeto lindo. Além de ver os desenhos, pode-se gerar até uma pequena reflexão sobre para onde o mundo está indo. E claro que tenho muito interesse em poder gerar vínculos na cena da arte goiana, conhecer artistas e criar comunidade.

DM - Como foi a colaboração com a Hidrolands Grafisch Atelier para a produção e publicação do livro? Quais foram os aspectos mais significativos dessa parceria?

Pablo - O trabalho foi ótimo. Do momento em que Marcelo Solá me propôs escrever este livro até o momento em que foi finalizado, foi tudo tranquilo. Me senti muito respeitado como artista, sempre consultado sobre como a obra seria impressa. Para mim, tem sido uma relação muito nutritiva e espero que este seja apenas o ponto de partida para muito mais.

DM -Você mencionou que está sempre observando o que está sendo feito no Brasil com a arte contemporânea e popular. Existem artistas brasileiros ou movimentos artísticos que o inspiram?

Pablo - A arte brasileira interessa e me influencia muito. Em 2023 tive a sorte de estar em São Paulo, visitar a Bienal e visitar vários museus e galerias. Fiquei fascinado por artistas como Rubem Valentim, Tunga e Arthur Bispo do Rosário. As raízes afro, o art-brut ou outsider e as coisas mais contemporâneas que pude ver me impressionaram muito.

"Acredito que a arte e a cultura são sempre essenciais na identidade de um país Pablo Martín, artista visual

DM - Além da série "Señores del Mal", você tem planos para futuros projetos ou exposições? Pode compartilhar um pouco sobre seus próximos passos na sua carreira artística?

Pablo - Atualmente estou inaugurando uma exposição com a artista Jazmín Koimara, com curadoria de Lucía Di Pietro em um espaço em Buenos Aires chamado Abra cultural. Para o mês de setembro deste ano tenho planejado uma exposição individual em um espaço pouco convencional, os vitrais de uma oficina de vidro chamada Espinosa, também em Buenos Aires. Além disso, estou iniciando meu próprio projeto editorial, do qual já editei o primeiro fanzine, em que a ideia é fazer publicações com outros artistas, escritores, etc. Trabalho há algum tempo com espaços na Inglaterra, França, Estados Unidos e Uruguai. Espero poder continuar fortalecendo e ampliando os laços com outros países como o seu.

DM - Como você vê o papel da arte e da cultura na sociedade contemporânea, especialmente em tempos de mudança política e social?

Pablo - Acredito que a arte e a cultura são sempre essenciais na identidade de um país. Sinto que mais do que nunca temos que trabalhar coletivamente para que não nos possam silenciar, tirar-nos financiamento ou pôr-nos de lado como voz de um povo. Estou convencido de que a arte pode ser um lugar de resistência e uma possível semente de mudanças profundas.

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