Balé Folclórico da Bahia chega à capital goiana
DM Redação
Publicado em 19 de outubro de 2025 às 19:27 | Atualizado há 3 horas
Marcus Vinícius Beck
Salvador (BA) – Festejado pela sua excelência coreográfica, o Balé Folclórico da Bahia (BFB) traz nesta quarta (22/10) o espetáculo “O Balé Que Você Não Vê” para o Teatro Rio Vermelho. A sessão faz parte da turnê nacional que celebra os 37 anos do grupo.
Também marca a volta do BFB aos palcos após paralisação imposta pela pandemia, período marcado por desafios artísticos e, sobretudo, incerteza financeira. “O Balé Que Você Não Vê” emerge como um ato de resistência proposto pela companhia fundada em Salvador (BA).
Walson (Vavá) Botelho, criador do grupo, confessou ao DM a dificuldade para viabilizar o projeto. “Teve sua estreia mundial depois de mais de dois anos sem a companhia se apresentar. Foi um enorme desafio”, disse Vavá no Palacete Tira-Chapéu, em Salvador.
No palco, o público goianiense verá quatro coreografias. Em “Bolero”, de Carlos Durval, BFB apresenta visão criativa a respeito do pianista francês Maurice Ravel. Já “Okan”, criada por Nildinha Fonseca, mostra o universo feminino como condutor na condição humana.

“2-3-8”, por sua vez, foi criada por Slim Mello, que rememora os tempos em que precisava apanhar o ônibus da linha 238 para sair da periferia e chegar ao Pelourinho. Ele evoca a vida, as cores e texturas de sua cidade, mas também espelha a vivência nos guetos de Nova York.
Entre jazz e ballet clássico, a dança afro-brasileira junta-se ali aos movimentos modernos. O repórter está sentado, olhos atentos, ouvidos espertos: ressoa a música na Rua Maciel de Baixo, no Pelourinho. Corpos balançam. Vêm e vão — sempre coordenados, sinuosos.
Além dessas três coreografias, o espetáculo inclui uma obra clássica da companhia. “Afixirê”, da coreógrafa Rosângela Silvestre, é uma festa da ancestralidade que obteve notoriedade crítica internacional. Pudera: é imersiva, envolve palco-plateia e põe peles em arrepios.
Como escreveu Clarice Lispector, que tão bem traduziu o fluxo dos sons em seus textos, não se compreende música: ouve-se. Ensina ela: “Ouve-me então com teu corpo inteiro.”
Quando “O Balé Que Você Não Vê” foi montado no Teatro Castro Alves, em Salvador, houve intervenção da cantora Maria Bethânia declamando o poema “Mandado de Despejo aos Mandarins do Mundo”, de Fernando Pessoa, a partir do heterônimo Álvaro de Campos.

Originalidade
Para o crítico Wagner Corrêa de Araújo, o BFB surpreende especialistas e público “por seu original dimensionamento estético” desde que abriu o Festival de Dança de Joinville. É sempre aplaudido, diz Araújo, mas não apenas porque traz a temática da cultura popular.
Sobre o espetáculo, o crítico pontua: “Todas estas obras [foram] ampliadas em seu recado de valoração da herança cultural e artística afro-brasileira por um aquarelado figurino numa diversidade autoral de cores vibrantes ressaltadas sob luzes vazadas (Marcos Souza).”
O corpo de baile, sob direção artística do incansável José Carlos Arandiba (Zebrinha) desde 1993, chegou a um reconhecido nível de aprimoramento técnico-interpretativo. Tudo abençoado pela Bahia, seu povo e suas expressões, a verdadeira inspiração para o grupo.
De acordo com Zebrinha, o objetivo do BFB é a educação. “No Balé, há pessoas de todas as faixas etárias e de todas as classes sociais”, informou no Palacete Tira-Chapéu, em junho. A partir do momento que alguém entra por nossa porta, deixa fora um monte de estigma.”

Em maio, foi homenageado com a Ordem do Mérito Cultural, entregue pela Presidência da República e Ministério da Cultura (MinC). Na última década, em 2013, a prefeitura de Atlanta, nos EUA, instituiu o dia 1° de novembro como o Dia do Balé Folclórico da Bahia.
Não parou por aí: uma rua em Aného, no Togo, país da África Ocidental, foi batizada com o nome do Balé Folclórico. Durante visita da reportagem à sede do BFB, no Pelourinho, em Salvador, Vavá falou ainda das apresentações em cerca de 300 cidades e 30 países.
“Seguramente, somos um dos principais embaixadores da cultura popular brasileira e afro-baiana para o mundo”, afirma Vavá, que é antropólogo formado pela UFBA. Ainda assim, o grupo sobreviveu — com qualidade técnica — sem ter um patrocinador regular.
Segundo a crítica Anna Kisselgoff, do jornal norte-americano “New York Times”, “o prazer dos dançarinos, músicos e cantoras em fazer o que eles fazem sobre o palco é obviamente parte da vida deles que contagia todo o teatro”. Ingressos a partir de R$ 75 pelo Sympla.