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Banda Eddie leva chanson carnavalesca para o Shiva

Com 35 anos de estrada, grupo acaba de lançar obra dedicada à folia momesca. Trabalho tem releitura de composições assinadas por ícones da música

Banda Eddie despontou na cena pernambucana nos anos 90 - Foto: Clara Gouveia/ Divulgação Banda Eddie despontou na cena pernambucana nos anos 90 - Foto: Clara Gouveia/ Divulgação

Seria mais fácil amarrar os pés. Ou as mãos. Imagine pés e mãos colados, entrelaçados: batidas agitadas, guitarra furiosa, voz punk. É som pesado, meio Clash, meio Ramones, mas rockão – acima de qualquer suspeita – pernambucano. E corre pelas veias. E está nas alturas da dignidade e do respeito que se vão. Alguma coisa me conserva vivo: banda Eddie.

O mangue punk habita esta lauda jornalística-roqueira. Escrevo curtindo rock. “Não resta muito em que se apoiar/ ou você briga para se manter/ ou você reza para não cansar”, constata Fábio Trummer, vocalista e guitarrista da Eddie, numa canção que traduz a sociedade brasileira dos anos 90. “Pedra”, caramba!, é a segunda faixa de “Sonic Mambo”.

Lançado em 1998, o disco pode ser repassado pela Eddie nesta sexta-feira, 24, no Shiva Alt-Bar, Setor Oeste. Dane-se aquela gente violenta e reacionária, tal qual se ouve no punk nordestino “Buraco de Bala”: “Sai correndo/ Sai da frente!/ Gente correndo por cima de gente/ O desespero tomou conta daquele lugar/ A bala acertou um pobre homem”.

Quando se discute mangue beat, vêm à nossa cabeça Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Otto. Certamente existem mais. Veja, por exemplo, a Eddie: pouca gente saca. Mas uns e outros hão de conhecê-la. Trummer foi o autor do hit “Quando a Maré Encher”, gravado por Nação e Cássia Eller. A banda simplesmente luta no metiê da contracultura nacional desde 1989.

Não é pouco tempo. Ao contrário, passaram-se três décadas. Inclusive, transcorreram-se três décadas e meia. Trummer costuma declarar à imprensa que ter uma banda era sinônimo de diversão. Por volta de 85 ou 86, quando Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Titãs eram estourados dentre os jovens, começou a arriscar uns acordes, ensinados pelo pai.


		Banda Eddie leva chanson carnavalesca para o Shiva
Grupo é considerado um dos expoentes do mangue beat. Foto: Clara Gouveia/ Divulgação

Pouco tempo depois, já passou a integrar bandas e, daí em diante, nunca mais deixou de tocar e compor. Sacando o som do The Smiths, curtindo Bauhaus e antenado ao The Cure, Trummer atravessou os anos 90 vendo a Eddie ter – chuta-se por baixo – zilhões de formações. Até que, em meados da década, une-se ao baterista Animal e ao baixista Rogério.

Conforme o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, do cantor Fred Zero Quatro, Recife assistia nessa época mangueboys e manguegirls gostando de hip-hop, moda e Jackson do Pandeiro. Curtiam rádio, Josué de Castro, sexo não-virtual e música de rua. Interessavam-se por conflitos étnicos e avanços da química direcionados à expansão da consciência.

O som do Eddie carrega todos os elementos do movimento: ritmos regionais, rock barulhento, samba, samples e pop. Contudo, as letras revelam aquilo que, em essência, Fábio Trummer e companhia são até hoje: uma banda de Olinda. Não há mal nenhum. Ao escutá-los – e, por extensão, admirá-los –, é difícil não se perder nas estradas da imaginação.

Com Karina Buhr, Fred Eremita, Bernardo Chopinho e Roger Man, a banda estava afiada entre os anos 97 e 98. Tocava, faturava e se programava. Trummer diz à revista “Continental” que queriam estar em São Paulo na época de “Sonic Mambo”, porém o disco passou um ano atrasando. Muita frustração, então, se criou no ambiente coletivo: Roger saiu, Karina idem, Berna também. Kiko e Rob Meira, portanto, foram chamados por Trummer.

Nova cama

Havia uma nova cama para se deitar. Em 2003, saiu o disco “Original Olinda Style”, cujo texto fala do lugar em que vieram: Olinda. A Eddie explora as tradições afro-brasileiras, estendendo a mão para o poeta e músico Erasto Vasconcelos, irmão de Naná Vasconcelos. Em seguida, o grupo escolheu ir além das ladeiras pernambucanas, numa obra definida por Trummer assim que chegou às lojas (sim, à época se vendia CD) como “abrangente”.

Publicado em 2006, “Metropolitano” se tornou marco na discografia da Eddie. Com guitarras pesadas, o disco abre com base calma: “A pele ardendo/ Os dentes caindo/ O sol rachando os lábios secos/ E o homem cansado, traído, afastado, botado de lado”. Politizado e ácido, Eddie põe ainda o dedo na ferida, sem pudor: “Política da câmara despudorada, fuleragem”. Houve também ginga (“As Flores e as Cores”) e samba (“Lealdade”).


		Banda Eddie leva chanson carnavalesca para o Shiva
Banda lançou discos relevantes nos últimos anos. Foto: Clara Gouveia/ Divulgação

Depois desse álbum, vieram outros tão bons quanto – caso de “Carnaval no Inferno” (2008), “Veraneio” (2011), “Morte e Vida” (2015), “Mundo Engano” (2018), “Atiça” (2021) e “Carnaval Chanson” (2023). Este último, inclusive, foi dedicado à festa momesca. Ao que tudo indica, deve ser a trilha sonora para o rolê no Shiva, nesta sexta-feira, 24. Haverá – isto é certo – o pique do frevo e o romantismo que leva Serge Gainsbourg para Olinda.

Elogiado pelo público e aplaudido pela crítica, “Carnaval Chanson” traz canções de Alceu Valença, Capiba, Moraes Moreira e Zé Kétti, a partir dos arranjos de Fábio Trummer, Alexandre Urêa, Andret Oliveira, Rob Meira e Kiko Meira – sob as vozes especialíssimas de Karina Buhr e Isaar. Seja na melancolia de certas músicas ou no clima festivo de outras tantas, o show celebrará, digamos assim, a chanson momesca. Assista a banda Eddie.

Banda Eddie

Sexta-feira, 24,

A partir das 17h30

Discotecagem com Poli

Shiva Alt-Bar

Alameda das Rosas, 1371, St. Oeste

A partir de R$ 50 (segundo lote)

Classificação: 18 anos

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