Cultura

Baudelaire: o poeta mórbido e sarcástico

Redação DM

Publicado em 9 de abril de 2015 às 02:31 | Atualizado há 10 anos

Isabela Lacerda Da Editoria DMRevista

O poeta, crítico de artes, ensaísta, tradutor e teórico da arte francesa, Charles-Pierre Baudelaire, reconhecido como o fundador da tradição moderna em poesia, faria aniversário nesta quinta-feira (9).

Considerado um dos precursores do simbolismo – escola literária que tem caráter subjetivo e interesse na visão particular do poeta–, Baudelaire também influenciou profundamente as artes plásticas do século 19.

Para Helissa Soares, professora de literatura e mestre em literatura francesa, “o mais interessante na obra de Baudelaire é o teor mórbido e sarcástico ao mesmo tempo. Esse estilo revela uma revolta típica do ser humano que não se acomoda e, em se tratando de artista, essa sensibilidade fica ainda mais aguçada”.

Sua poesia expressa imagens cotidianas, porém às vezes era incompreendido. Em 1857 o livro As Flores do Mal foi lançado contendo 100 poemas. No mesmo ano, o autor é acusado pela justiça francesa de ultrajar a moral pública.

Os exemplares são apreendidos e o autor é obrigado a pagar uma multa de 300 francos – na cotação atual, R$ 600. A censura foi causada por seis poemas do livro, depois substituídos pelo que Baudelaire afirma serem “mais belos que os suprimidos”.

 

Outras faces

Mesmo sendo conhecido principalmente como poeta, Charles atuou também como tradutor de renomados escritores, como Edgar Allan Poe. “Conheci a obra de Baudelaire em 2006, lendo as obras e biografias de Edgar Allan Poe. Mais do que me influencia, foi graças à possibilidade de estudar as obras de Poe e Baudelaire que fiz meu mestrado”, explica Soares.

Baudelaire tem como obras principais A arte romântica, As flores do mal, Pequenos poemas em prosa, Miudezas e Os paraísos artificiais, mesmo nome de um filme brasileiro. De acordo com o diretor do drama, Marcos Prado, “o título se encaixava perfeitamente no filme, embora aborde outra época e o consumo de outras drogas – vinho, ópio e haxixe”, explica.

Outra referência a Baudelaire no mundo cinematográfico é no filme A Series of Unfortunate Events (do inglês: Desventuras em Série). O filme inspirado na série de livros de Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler) traz as aventuras de três irmãos: Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. O sobrenome dos protagonistas é uma homenagem ao poeta.

Morreu aos 46 anos, em agosto de 1867, sem conhecer a fama. Seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris. No mesmo cemitério, diversas personalidades francesas estão sepultadas, como o sociólogo Émile Durkheim, os fiósofos Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir e o político Maximilien Robespierre.

 

O homem e o mar

Homem liberto, hás de estar sempre aos pés do mar!
O mar é teu espelho; a tua alma aprecias
No infinito ir e vir de suas ondas frias,
E nem teu ser é menos acre ao se abismar.

Apraz-te mergulhar bem fundo em tua imagem;
Em teus braços a estreitas, e teu coração
Às vezes se distrai na própria pulsação
Ao rumor dessa queixa indômita e selvagem.

Sois todos esses deuses turvos e discretos:
Homem, ninguém sondou-te as furnas mais estranhas;
Ó mar, ninguém tocou-te as íntimas entranhas,
Tão ciumento que sois de vossos bens secretos!

E todavia há séculos inumeráveis
Combatíveis sem nenhum remorso nem piedade,
Tamanho amor guardais à morte e à crueldade,
Ó meus irmãos, ó gladiadores implacáveis!

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