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"Bob Marley - One Love" retrata período criativo fértil da lenda do reggae

Dirigido por Reinaldo Marcus Green, produção mostra a história do artista entre 1976 e 1979. Cineasta fala sobre desafios de caracterizar Marley

Ator Kingsley Ben-Adir interpreta lenda do reggae em longa-metragem - Foto: Chiabella James/ Paramount Pictures Ator Kingsley Ben-Adir interpreta lenda do reggae em longa-metragem - Foto: Chiabella James/ Paramount Pictures

A gente não quer só comprar seus discos, embora sejam vendidos em números substanciais mundo afora; a gente quer escutá-lo falando sobre como a paz poderia resolver os problemas bélicos do planeta. A gente não quer só enfileirar elepês dele na estante de nossas casas; a gente quer ouvi-lo cantando “Positive Vibration”. Algo fascinante ocorre desde a morte do cantor Bob Marley, em maio de 1981, na Flórida, EUA: sua música continua em pé.

Cinco anos antes de falecer, em dezembro de 1976, sete homens por pouco não lhe tiraram a vida. Conhecia muito bem o semblante dos opressores: era lânguido, trazia sofrimento, ilustrava a dor. Durante anos, seu necessário reggae foi evitado pela elite da Jamaica, mesmo quando a popularidade se fazia aumentar, seduzindo a percepção musical de nomes como Gilberto Gil, Jards Macalé, Mick Jagger ou Keith Richards - só pra ficar nessas quatro lendas.

Há tempos, então, sonhávamos com um filme sobre Robert Nesta Marley. Afinal de contas, falamos aqui de um artista brilhante, letrista engajado nas causas sociais e homem sacerdotal. Nunca foi marxista, era rastaman, ou seja, devotava-se à religião rastafari. Já doente, com a metástase cancerígena se espalhando pelo corpo, esforçou-se para criar um concerto gratuito pela paz na Jamaica. A violência jamais será capaz de calar a arte.


		"Bob Marley - One Love" retrata período criativo fértil da lenda do reggae
“Bob Marley - One Love” entra em cartaz nos cinemas goianos num bom momento. Foto: Chiabella James/ Paramount Pictures

“Bob Marley - One Love” entra em cartaz nos cinemas goianos num bom momento. Dirigido pelo cineasta Reinaldo Marcus Green, a produção retrata a história do artista entre 1976 e 1979. É um período rico na vida de Marley, mas nem por isso incólume às tragédias. Aqueles sete homens que invadiram a casa do músico também atiraram contra a cabeça de Rita Marley, esposa do artista, e alvejaram na sequência os instrumentistas da banda The Wailers, que acompanhavam o reggaeman - meses antes, lançara o disco “Rastaman Vibration”.

Em conversa com jornalistas na cidade de São Paulo, realizada na segunda, 5, Marcus Green conta que escolheu mostrar uma “janela” na vida de Marley que permitisse ao espectador entender sua humanidade. Mas a construção do personagem, diz, o desafiou especialmente por se tratar de uma estrela. “Trata-se de um ícone e nossa responsabilidade era retratá-lo da forma mais autêntica possível, mostrando o homem que está por trás das roupas. Conseguimos isso graças ao Kingsley Ben-Adir e ao Ziggy Marley”, afirma o diretor.

Pode-se dizer que o reggae marleyniano habita nossos tímpanos há décadas. “Is This Love”, “One Love” e “Three Little Birds” subiram ao longo dos anos ao posto de símbolos supremos da canção de paz popularizada por Marley nos década de 1970. Um dos clássicos é justamente o disco “Rastaman Vibration”, lançado em 1976, e conhecido pelas faixas “Roots, Rock, Reggae”, “Positive Vibration”, “Who The Cap Fit” e “Crazy Baldhead”.

Ao analisar a obra em 2005, num ensaio publicado na revista “Rolling Stone”, o crítico musical Richard Abowitz afirmou que nem a música de Marley e tampouco a mensagem contida nela perderam vigor. “Além de uma coleção de músicas bônus, esta edição ampliada também contém um verdadeiro prêmio: faixas ao vivo gravadas em 1976 no Roxy em Hollywood”, escreveu o especialista. O cantor faria ainda nos anos 70 outros quatro discos aclamados pelos fãs: “Exodus” (1977), “Kaya” (1978), “Survival” (1979) e “Uprising” (1980).

Por dentro da lenda

Questionado por jornalistas sobre o maior desafio de interpretar Marley, o ator Kingsley Ben-Adir, protagonista de “Bob Marley - One Love”, diz que foi o processo para compreender e descobrir quem era a lenda do reggae nos seus momentos mais vulneráveis. Para tanto, Ben-Adir precisou mergulhar na família do astro, saindo fora da figura pública influente na história da Jamaica ou da ideia que as pessoas tinham dele. E isso, acredita, exigiu uma conversa profunda com Ziggy Marley, com a família e com os amigos do artista.


		"Bob Marley - One Love" retrata período criativo fértil da lenda do reggae
Ator comenta processo para viver lenda do reggae: "desafio". Foto: Chiabella James/ Paramount Pictures

“Foi quando eu tive que ouvir mais do que nunca porque eu nunca conseguiria descobrir quem ele era num nível pessoal sem o apoio da família. E achar a nuance da vulnerabilidade dele precisou de muitas conversas com o Ziggy, com o Reinaldo, com o Neville Garrick - que infelizmente faleceu - mas que esteve conosco todos os dias no set e que esteve com o Bob na turnê do ‘Exodus’. Então, eu diria que tentar achar a vulnerabilidade do Bob foi um desafio, mas eu tive o apoio de tantas pessoas que conheceram e amaram ele”, explica o ator.

Marley esteve no Brasil uma única vez, em 1980. Veio de Londres, cidade em que morava na época, e desembarcou em Manaus, capital do Amazonas. De acordo com o produtor Marco Mazzola, em relato publicado na obra “Ouvindo Estrelas - a Luta, a Ousadia e a Glória dos Maiores Produtores Musicais”, de 2007, os militares acharam estranho os visuais do guitarrista Junior Marvin, do cantor Jacob Miller, do executivo Chris Blackwell e sua esposa Nathalia Delon, atriz e modelo, assim que os quatro colocaram os pés em solo pátrio.


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Artista era fanático por futebol. Foto: Chiabella James/ Paramount Pictures

Até o destino final, o voo fez duas escalas: além da capital amazonense, parou em Brasília. O jato particular, que pertencia à gravadora jamaicana Island Records, chegou ao aeroporto Santos Dumont, de frente para a Baía da Guanabara, às 18h30, de uma terça-feira. Quando saiu do avião, com uma boina tradicional da Jamaica conhecida como tam, Marley expressou desejo de conhecer Gilberto Gil – o brasileiro, um ano antes, gravara “Não Chores Mais”. Inclusive, Gil é um dos responsáveis pela popularização da obra de Bob Marley no Brasil.

No Copacabana Palace, hotel no qual se hospedara, Marley afirmou que samba e reggae são a mesma coisa: “têm o mesmo sentimento de raízes africanas”. Produtor do filme “One Love”, Ziggy Marley revela que seu pai era apaixonado por futebol e o apresentou a Pelé. “Meu pai é uma parte de mim, é impossível me separar dele, somos como um só, tanto física quanto espiritualmente”, afirma, na entrevista coletiva. Após o câncer se espalhar pelo corpo, Marley morreu em 11 de maio de 1981, aos 36 anos. Deixou mais de 10 filhos.

Bob Marley - One Love

Direção: Reinaldo Marcus Green

Elenco: Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch, James Norton

Duração: 1h47 min

Em cartaz nos cinemas

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