‘Carbonário’, repórter-fotográfico é expert em imagens da luta de classe
Diário da Manhã
Publicado em 17 de março de 2017 às 02:33 | Atualizado há 4 meses
- A Polícia Militar do Estado de Goiás [PM-GO] reprimia estudantes. O ato realizado era um protesto contra o aumento das passagens de ônibus, em Goiânia. Agressões. Fotograva as cenas. Um policial apontou para mim. Ordenou a minha prisão. Corri. Apesar disso, acabei pego, jogado no chão do canteiro central da Avenida Goiás, centro da cidade. A ponta do cassetete apertava a minha cabeça, que ficou, imóvel, na grama. A minha mão esquerda, algemada. Já a minha mão direita, que protegia a câmera fotográfica, entre meu peito e o chão, retirava o cartão de memória, para que não tivesse as fotografias da violência policial apagadas. Sem pensar duas vezes, coloquei o cartão de memória na boca e o engoli.
O relato do repórter-fotográfico Vinícius Schmidt, graduado no Senac, em seu batismo de fogo, mostra os riscos da profissão no Brasil Contemporâneo. Não era 1964. Muito menos 1968 e estava longe da retomada das manifestações, em 1977, contra a ditadura civil e militar. Em tempos de democracia. Sombrios. O profissional da área de comunicação, que tem Robert Capa, da Magnum, que cobriu a Guerra Civil na Espanha, entre 1936 e 1939, como referência no fotojornalismo e em estética, nutre uma verdadeira e visceral paixão pelo perigo das lutas de classes na América Latina. Opções ideológica e estética. Aos 28 anos de idade, ele aprendeu que o aparato policial do Estado detesta a liberdade. Tenho medo das ações da PM, dispara. Apesar disso, diz preferir o sabor dos cassetetes nas costas do que perder o instante da imagem. Registros para a história, como os das manifestações de 15 de março de 2017, atira.
– Contra a Reforma da Previdência.
Em preto e branco e colorido, captou manifestação que parou Capital, em 15 de março de 2017, contra Reforma da Previdência
Para não perder os cliques da violência policial, teve de engolir cartão de memória, foi preso, algemado e parou na cadeia
Fotografias de Vinícius Schmidt revelam tempos sombrios no Brasil pós -2016 e o sufocamento das liberdades em Goiânia