Da Escola Paulista de Arquitetura Brasileira para o Japão
Diário da Manhã
Publicado em 5 de novembro de 2016 às 01:38 | Atualizado há 4 mesesCapixaba de nascença e paulista de coração, Paulo Mendes da Rocha é um dos arquitetos brasileiros mais experimentados, sem mencionar o vasto currículo de indicações e premiações mundo afora. Saído da Escola Paulista de Arquitetura Brasileira, o arquiteto e urbanista é tido como um dos maiores urbanistas modernistas da atualidade, tendo iniciado carreira ainda na década de 1950, quando formou-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em uma das primeiras turmas.
Em 1961, Paulo Mendes da Rocha passa a lecionar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), num período de intenso debate social entre mestres e alunos. Em uma de suas palestras, o então professor põe-se a questionar o papel social do arquiteto, o que incomodou o Regime Militar, deflagrado em 1964. Paulo Mendes da Rocha tem então seus direitos políticos cassados em 1969, e é impedido de lecionar até 1980, quando retorna à Universidade de São Paulo, juntamente com outros professores cassados. Entre eles encontrava-se João Batista Vilanova Artiagas, grande líder da geração de arquitetos modernistas do Brasil.
Aposenta-se em 1998, no mesmo ano em que torna-se professor titular de Projeto Arquitetônico, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Sua obra tem sido apontada como exemplo paradigmático da Escola Paulista de Arquitetura. Esta escola vem sendo brandamente criticada devido ao seu alto custo financeiro e social, já que seu objetivo principal era de expor uma arquitetura limpa “crua, limpa, clara e socialmente responsável”. Mendes da Rocha usa em suas obras o concreto exposto, a fim de propor uma visão clara, uma síntese do conjunto arquitetônico.
O arquiteto modernista conquistou prêmios como o Leão de Ouro, na Bienal de Veneza, na Itália, em 2016. Neste mesmo ano também recebeu o Prêmio Imperial do Japão, um dos mais prestigiados do mundo. tendo recebido cerca de 15 milhões de ienes, e uma medalha de honra, entregues pelo príncipe Hitachi. Dez anos antes, Paulo Mendes da Rocha já havia conquistado o Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial. Também foi condecorado com o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina pelo projeto de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo (galardeado em 2001).
Paulo Mendes da Rocha em Goiânia
O arquiteto é responsável pelo projeto arquitetônico do Jóquei Clube de Goiânia e do projeto arquitetônico do Estádio Serra Dourada. O convite para o projeto do estádio veio por parte da empresa ganhadora da licitação, dez anos após a concretização do projeto do Jóquei Clube. Sobre o convite para a elaboração do projeto, o arquiteto disse em entrevista à época a um jornal que a arquitetura do local era uma das obras mais gentis, “um teatro a céu aberto” de onde podia-se ver toda a cidade. “É uma das coisas mais importantes que eu fiz, pelo menos para mim mesmo. O português Souto de Moura veio para Goiânia para ver o Serra Dourada. Minha obra foi muito publicada no exterior. Há livros lançados na Suíça, que eu mesmo não consigo ler”, afirmou Mendes da Rocha.
O projeto do Jóquei Clube de Goiânia foi realizado em 1962. Em artigo publicado pela Universidade Federal de Goiás, de autoria de Raiane da Silva Dias, então graduanda da Faculdade de Artes Visuais da UFG, relembra a derrubada do bosque do Jóquei Clube e a descaracterização da obra, por meio de intervenções que não agradaram a todos, desde que o prédio foi desativado e alugado para uma instituição de ensino. “Sem uso como clube, e alugado para uma instituição de ensino, o edifício passa por uma série de adições, novos apêndices que alteram substancialmente a lógica espacial do projeto. Parte de suas estruturas de concreto foram descaracterizadas por intervenções discutíveis, como adições metálicas circunstanciais, que acabaram mutilando a elegância de seu sentido ‘transverso’. A derrubada do bosque, para a construção de um estacionamento, pôs fim à ideia norteadora de Mendes da Rocha para o projeto, que era a integração da área das piscinas com o bosque. Em busca de ‘maquiar’ o edifício, suas paredes em concreto aparente foram pintadas, ferindo completamente os princípios estéticos brutalistas de expressão construtiva da natureza dos materiais”, enfatiza a acadêmica.