De corpo e alma
Redação DM
Publicado em 9 de dezembro de 2015 às 21:00 | Atualizado há 5 mesesFica em cartaz de hoje a sábado (12) no Centro Cultural UFG, o instigante espetáculo teatral Autópsia. A peça é dividida em duas partes, cada uma delas encenada em horários distintos – o Ato I, às 19h e o Ato II, às 21h. Com performances intensas, com direito até a “nus” artísticos, a montagem é uma adaptação do grupo brasiliense Sutil Ato para cinco obras do dramaturgo paulista Plínio Marcos – 0 conhecido “autor maldito”.
Dirigido por Jonathan Andrade e com o elenco composto por oito atores, o espetáculo chega à Goiânia com aval da crítica brasiliense. A peça que estreou ano passado, já foi apontada pelo jornal Correio Braziliense, como d0na da melhor direção no Festival Internacional de Brasília Cena Contemporânea, em 2015.
As obras de Plínio Marcos que inspiram Autópsia são: Navalha na Carne, Abajur Lilás, Querô – Uma Reportagem Maldita e Quando as Máquinas Param. E, um de seus textos mais famosos Dois Perdidos Numa Noite Suja não ficou de fora.
Para trazer ao público a atmosfera do dramaturgo, que foi uns dos primeiros a retratar a vida dos submundos de São Paulo – e por isso sofreu fortes censuras na ditadura militar -, os atores se entregam completamente ao público. Na montagem aparecem nus, despidos de pudor ou moralidade. A intenção é de buscar a partir da arte, discussões sobre violência, opressão e liberdade.
ENTREVISTA COM O DIRETOR DO ESPETÁCULO JONATHAN ANDRADE
DMRevista: Por que o Sutil Ato se identificou com a obra de Plínio Marcos?
Jonathan Andrade: A gente se identifica com o universo do Plínio Marcos, primeiro a partir de como o autor traz à cena a voz de uma série de papéis sociais muito “invisibilizados” e marginalizados. A forma como ele discute a opressão, a forma como ele desenha os ensaios de liberdade. E a gente percebe que as obras dele, que foram tão censuradas, ainda são muito presentes, e ainda estão muito pertinentes no dia de hoje. Elas traduzem o nosso desejo de discutir politicamente o lugar desse ser humano, o lugar de como a gente se coloca diante dessas figuras. Vimos que nesse conteúdo de obra, aparentemente marginalizado, coisas que são comuns a qualquer pessoa, a qualquer lar, a qualquer família, como o desejo de ser amado, o desejo de carinho, a solidão, a necessidade de dinheiro pra sobreviver, a necessidade de cuidar do filho, o desejo de ter uma vida melhor… e assim vai.
DMRevista: Por que o grupo separou a peça em dois atos, em horários diferentes?
Jonathan Andrade: No processo de ensaio vimos que por ser um compacto dos textos, isso daria uma extensão muito grande. E, dada a densidade do material, achamos melhor que o espetáculo fosse dividido em dois atos autônomos, de forma que o público também pudesse escolher, se queria assistir no mesmo dia outras histórias que também são densas. Isso dá mais flexibilidade ao espectador e não condensa tanta densidade de uma vez só, porque é muito extenso.
DMRevista: A peça trata de aspectos viscerais e brutais do comportamento humano. Como foi o trabalho de composição deste espetáculo?
Jonathan Andrade: Como foi um processo de adaptação das obras a gente compactou os textos e o norteador foi as reviravoltas e os fatos mais importantes dessa dramaturgia, tentando respeitar a dramaturgia do Plínio. Tivemos um processo de sete meses de treinamento de ator, imersões de trabalho, focado em voz, e um treinamento físico muito exaustivo, a partir de princípios de violência, disponibilidade, disposição emocional e física. Depois partimos então para montagem dessas cenas.
DMRevista: Os atores aparecem nus em cena, qual o impacto que pretende causar no público, com essa exposição total?
Jonathan Andrade: Não há nenhuma vontade, nenhuma necessidade, de gerar com o nu um impacto em quem assiste. O espetáculo não discute o nu. Essa lupa de aumento que as vezes a gente dá pro nu é engraçado, porque depois do espetáculo, isso é o que menos o público discute, pelas experiências que já tivemos. O nu faz parte da obra do Plínio. Está contextualizado na medida em que você fala sobre sexualidade, sobre sexo, sobre prostituição. O nu, então, vem simbolicamente como um espaço de legitimar a obra do Plínio, como também um espaço nosso, enquanto artistas, intérpretes, de se desnudar para vestir esses papéis, que são muito distantes da gente. O intérprete se expõe diante do público respeitosamente para vestir essa obra e se abrir da forma mais emocional e mais humana e para poder vivenciar essa rinha, esse jogo, essa história.
DMRevista: O Sutil Ato acha que a cultura tem sido deixada em último plano pelos governantes no País?
Jonathan Andrade: Eu vou falar por mim, Jonathan. Eu acho que tem uma atitude do governo nesses últimos oito anos sim, de dar um pouco mais de destaque para cultura. Então, a gente tem uma série de outras leis de fomento, de editais. E, de fato houve uma melhora no campo da cultura. No entanto, também sabemos que a cultura é absolutamente subjugada, e nós passamos por episódios muito complicados aqui em Brasília, onde, a verba da cultura foi desviada e bloqueada até por uma medida inconstitucional. Mas, eu acho que há um amargor nosso, enquanto artistas, de saber que a nossa luta é muito grande, e que talvez o “ser ouvido” ainda é menor do que a gente gostaria. Faltam mais leis de incentivo sim, as verbas dos editais diminuíram, pelo menos no caso de Brasília, e acaba que a gente vive uma realidade onde a cultura é sim relegada ao terceiro, quarto, quinto, ou décimo plano.
Serviço
Espetáculo Autópsia
Quando: De hoje a sábado (12), às 19h (Ato I) e 21h (Ato II)
Onde: Local: Centro Cultural UFG(Praça Universitária)
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada para estudantes, idosos, professores e classe artística)
Classificação Indicativa:18 anos