Descobrindo o passado
Redação DM
Publicado em 14 de julho de 2016 às 21:24 | Atualizado há 6 mesesNo dia 6 de janeiro de 2016, a página Goiânia Antiga, criada no Facebook, disponibilizou seu primeiro álbum de fotografias que transportam-nos para diversas camadas do passado da cidade. Em menos de uma semana, mais de 10 mil pessoas já acompanhavam a página no site. Hoje, seis meses depois do pontapé inicial, mais de 150 imagens compõem um acervo criado com a ajuda da própria população da cidade, empenhada em construir um patrimônio gratuito e acessível ao público geral. A máquina do tempo permite que as novas gerações reconstruam o visual do passado da cidade e do bairro onde vivem, ao mesmo tempo que resgata memórias e sensações daqueles que presenciaram a reconfiguração constante de Goiânia ao longo de seus 82 anos.
A reação do público à página não poderia ser melhor. Milhares de agradecimentos e lembranças já foram compartilhados. O “boca a boca virtual” funciona bastante na Goiânia Antiga. Amigos se marcam para lembrar histórias dos lugares congelados por lentes no passado, relembrando as atmosferas proporcionadas pela cidade ao longo do tempo. Assim o número de seguidores só aumenta. São eles que se encarregam em compartilhar nos comentários fotos atuais em comparação às antigas postadas pelos organizadores da página. “É um passado nostálgico até pra quem não viveu esta época”, comentou o seguidor Osvaldo Galvão. “Parabéns pela página. Chamei minha mãe para ver ela até chorou se lembrando de tudo”, acrescentou o seguidor Marcos Júnio Ferreira.
A página foi definida pela jornalista Daniela Martins, do jornal “Tribuna do Planalto”, como “uma declaração de amor à Capital”. Na matéria ela conta que o grupo de organizadores que contribui com o projeto prefere manter-se no anonimato para que o reconhecimento do público seja voltado apenas para a página. Na postagem principal da página, fixada ao topo para que seja imediatamente vista por aqueles que acessam, os administradores esclarecem que os objetivos da página são de proporcionar diversão e conhecimento, e em outros momentos já deixaram claro que não existe nenhum tipo de interesse comercial por trás do Goiânia Antiga. Caso o leitor tenha alguma imagem da cidade velha para enriquecer o acervo, entre em contato com a Goiânia Antiga no Facebook.
Futuro
E o projeto pretende tornar-se ainda mais amplo, segundo os administradores da página. A intenção, segundo eles, é começar a compartilhar imagens antigas de outros municípios do Estado, englobando ainda mais realidades que contribuam com o conhecimento histórico da população goiana. Tais atitudes ajudam a corrigir uma lacuna de informações que explique em imagens como as coisas foram evoluindo até que a cidade chegasse ao ponto atual, com centenas de bairros e quase 1,5 milhão de habitantes. Eles também explicaram que a redução da frequência de postagens se deve a uma escassez momentânea de arquivos, mas que novas fontes de imagens já foram encontradas e estão passando por tratamento antes de serem divulgadas.
Memória
Por motivos legais, a página foi proibida de compartilhar imagens que pertencem ao fotógrafo Hélio de Oliveira, pioneiro do fotojornalismo goianiense. Hélio foi o primeiro a registrar o processo inicial de consolidação da cidade, e já lançou dois livros a partir de seu arquivo de imagens, que teve início nos anos 1950. Mesmo com a restrição, o empenho dos seguidores da página faz com que ela siga firme em seu propósito inicial, e desde então a página é alimentada por várias fontes, como arquivos pessoais e familiares e arte de cartões telefônicos. Ao mesmo tempo, surgem nomes de outros fotógrafos, até então pouco conhecidos pelo grande público, como Silvio Berto, Alois Feichtemberher, Eduardo Bilemjian, Ivo de Paiva Lenza, José Henrique da Veiga Jardim, entre outros.
O desapego à memória da cidade e a pouca acessibilidade aos seus registros visuais podem ser vistos na facilidade em que a indústria imobiliária tem de eliminar construções históricas para erguer edifícios mais lucrativos. O problema também já havia sido comentado pelo fotógrafo Hélio de Oliveira no cura-metragem As Transformações da Paisagem Urbana de Goiânia–Registro Fotográfico, desenvolvido pelas pesquisadoras Kelly Cristina, Huaína Kélvia e Eládio Júnior e concluído em 2008. “Goiânia é uma cidade sem memória”, conta o fotógrafo. “O sacrifício que eu tive pra fazer isso tudo, hoje em dia está valendo alguma coisa. Hoje em dia está mostrando. E vai continuar mostrando pra posteridade.” O vídeo foi disponibilizado no Youtube, e compartilhado pela página Goiânia Antiga.