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Dissertação de mestrado investiga produção de grafite em Goiânia

O Beco da Codorna passou no ano passado por revitalização. Cerca de 90 muralistas goianos, de outras regiões do Brasil e até de fora se reuniram na Capital

Beco da Codorna, museu a céu aberto - Foto: Andréia Pires Beco da Codorna, museu a céu aberto - Foto: Andréia Pires

O pesquisador Flávio de Lima Ferreira investiga, na dissertação de mestrado “Da Codorna ao Bacião: A Construção do Grafite em Goiânia”, como Goiânia ganhou entre 2008 e 2018 volumosas intervenções de murais. Ele contextualiza a história das artes urbanas no Brasil.

Nos anos de ditadura, por exemplo, o grafite foi utilizado como instrumento para expressar ideias contrárias ao regime militar. Ganhou, durante a década de 1970, caráter poético por meio da geração mimeógrafo. Em Nova Iorque, essa forma de arte é popular desde os anos 70, com adeptos da cultura punk e outros movimentos de contracultura.

“A informal nomeação do Beco da Codorna como Museu de Arte Urbana pode ser vista como uma tentativa dos grafiteiros em institucionalizar o espaço, mais que isso, uma tentativa de aproximar a rua do cubo branco que dá lugar ao sacralizado mundo da arte”, diz Flávio, cujo trabalho pode ser acessado no repositório da UFG, a biblioteca virtual da universidade - trabalho foi defendida na Faculdade de Artes Visuais (FAV).

Segundo ele, essa tentativa de vinculação do grafite com a arte, que pode ser encarado como um processo de artificação, procura distanciá-lo da pichação e aproximá-lo do público. “Pelo senso comum entende a pichação como algo negativo, que agride e ‘enfeia’ a cidade, contrariamente a um suposto embelezamento que o grafite e a arte urbana promoveriam.”

O fotógrafo alemão Nicholas Ganz, autor da obra “O Mundo do Grafite: Arte Urbana dos Cinco Continentes, diz que o Brasil representam a influência mais significativa sobre os estilos mundiais da arte urbana nos últimos anos. Goiânia não está distante disso.

Revitalização

O Beco da Codorna passou no ano passado por revitalização. Cerca de 90 muralistas goianos, de outras regiões do Brasil e até de fora se reuniram na Capital para fixar nas paredes do museu de arte urbana suas obras.


		Dissertação de mestrado investiga produção de grafite em Goiânia
Beco da Codorna, museu a céu aberto - Foto: Andréia Pires. Andréia Pires

Fundado em 204, o Beco - iniciativa posta em pé num trabalho coletivo que envolvia artistas, trabalhadores e membros da Associação dos Grafiteiros de Goiânia - ganhou traços de Efixis, Iori, Fael, Kajamam, Max e Talu, grafiteiros do Rio de Janeiro. De São Paulo, a Capital foi embelezada com a força da obra de Pomb, Shock e Does. Marcou presença também o chileno Rotika, especialista em grafites abstratos, alguns dos quais aclamados mundo afora.

Sem esquecer, contudo, do mineiro Dequete, do baiano Nikol e de Sowto, Atoa, Toys, Bazek, que são vizinhos do Distrito Federal, e donos de rabiscos questionadores. Desde 2014, ano em que o Beco da Codorna - Museu a Céu Aberto foi inaugurado, nunca havia rolado uma revitalização tão significativa, como foi a do último final de semana. E quem duvida que o espaço se tornou mais charmoso do que era? Ninguém. E, vejam vocês, o Beco possui todas as credenciais para lhe assegurar o instinto vocacional para aquilo que o artista visual Diego Rustoff chama de mais democrática das galerias.

Como não poderia deixar de ser, goianos também estão no Beco revitalizado, a exemplo Iowa, Tchella, Selton, Cacto, Decy, Kaso e Wes Gama, que tem obras em murais espalhados por Goiânia. Conhecido de norte a sul e até lá fora, Gama é um dos autores também do projeto “Manifesto Urbano”, uma espécie de fragmentos de futuro. E, com esse desenho, sabe-se que a arte urbana se transforma numa janela para a cidade, com novas possibilidades de enxergar as ruas, as avenidas e, claro, os murais.

“Por fim, nota-se no caso de Goiânia, que o espaço urbano sempre está em um processo de expansão e de alteração de suas dinâmicas de povoamento, quase sempre obedecendo aos desejos do capital, o que pode gerar certo desinteresse em áreas mais antigas, em prol do interesse em regiões capazes de dar maior rentabilidade aos interessados”, afirma o pesquisador Flávio de Lima Ferreira, na dissertação de mestrado da UFG.

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