Ensaiando para a revolução
Redação DM
Publicado em 23 de novembro de 2016 às 00:37 | Atualizado há 8 mesesVivemos tempos de extremos, por um lado uma busca pela autonomia de pensamento e ação, tanto no cotidiano quanto em questões políticas mais amplas. De outro lado a repressão também se especializa, levando junto um grupo que se organiza para ser ferramenta desse processo de repressão.
Um recurso bem conhecido tanto a serviço quanto ao desserviço das lutas, de todo tipo, é a comunicação. Não tratando apenas da comunicação midiática, mas em todas as expressões, como as artes, por exemplo, as visuais e as cênicas. No caso do Teatro do Oprimido (TO), desenvolve-se cenicamente uma ferramenta de ativismo político.
Nea segunda-feira, 21, Bárbara Santos iniciou em Goiânia uma atividade que ministra durante as noites um curso do Laboratório Madalenas (Teatro das Oprimidas) para educadoras de Goiânia comprometidas com a multiplicação deste laboratório em nível local. O curso se estende até o dia 24 de novembro, quinta-feira.
O Teatro das Oprimidas é um conjunto de jogos e técnicas de criação teatral e desmecanização do corpo que auxilia na construção de intervenções artísticas que discutem e buscam soluções para problemas sociais. No ano que vem essas educadoras irão aplicar o que aprenderam nesta e em outras formações do Laboratório Madalenas, em atividades gratuitas que serão realizadas em quatro escolas públicas de Goiânia e entorno.
Durante o dia, ela participará de outras atividades do calendário de luta pelo fim da violência contra as mulheres e realizará atividades de lançamento de seu livro, Teatro do Oprimido, Raízes e Asas: uma teoria da práxis, hoje, às 19h30, no Evoé Café com Livros.
Bárbara Santos é carioca radicada em Berlim desde 2009 e participará de atividades em todo o Brasil até o fim de novembro. Em dezembro, apresentará seu livro em conferências e seminários na Carolina do Norte e em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Bárbara trabalha na difusão do Teatro das Oprimidas, uma experiência estética, agora teorizada de forma didática em seu livro, sobre opressões enfrentadas por pessoas socializadas como mulheres. Ela é diretora artística da Rede Ma(g)dalena Internacional. No Rio de Janeiro, é diretora artística do Coletivo Madalena-Anastácia, composto por mulheres negras e colaboradora artística do grupo Cor do Brasil, composto por artistas afrodescendentes.
As minas do grupo goiano Ocupa Madalena
O Projeto Magdalena é voltado para mulheres que dedicam-se a experiências cênicas, propondo uma rede que fortaleça as discussões e práticas do coletivo, como informa seu site: “O Magdalena Project é uma rede dinâmica e intercultural de mulheres no teatro e na performance, facilitando a discussão crítica, apoio e treinamento. É uma conexão para diversos grupos de performances e indivíduos cujo interesse comum situa-se no comprometimento de assegurar a visibilidade do empenho artístico das mulheres”.
Sobre seu livro, Bárbara Santos ressalta: “Comecei a escrever esse livro para tornar o conteúdo teórico que alicerça o Teatro do Oprimido mais acessível para as pessoas interessadas em desenvolver uma atuação prática. A necessidade de responder a questões práticas e dar base teórica às mesmas garantiu consistência à escrita. O objetivo foi evitar que a práxis das pessoas que eu formava ficasse esvaziada de conteúdo, queria que entendessem o ‘porquê’ daquilo que faziam”.
A abordagem de cunho didático apresentada pelo livro de Bárbara Santos facilita a compreensão tanto da estrutura dramática e pedagógica deste método cênico quanto da especificidade de sua estética. “A diversidade de exemplos contextualiza a teoria e joga luz sobre questões éticas, filosóficas e políticas que envolvem a aplicação do método, características que qualificam esta publicação para o ensino formal e/ou informal do método do Teatro do Oprimido”.
Teatro do oprimido: sobre assumir o seu papel
A ideia do Teatro do Oprimido, iniciado pelo dramaturgo brasileiro Augusto Boal, era construir uma experiência cênica de cunho político, libertário e transformador. Bárbara Santos trabalhou por vinte anos ao lado de Boal como coordenadora do Centro de Teatro do Oprimido, na concepção e desenvolvimento do Teatro-Legislativo e da Estética do Oprimido.
A ideia desse tipo de prática teatral é questionar a passividade do espectador, impelindo com que ele assuma um papel ativo naquela ação dramática. Em resumo, um ensaio para assumir seu papel na luta. Desta forma o espectador encontra espaço para pensar a prática de não terceirizar seu papel diante os fatos.
As técnicas envolvidas no TO são diversas. Entre elas exercícios que transformam as notícias veiculadas nos jornais em base para ações dramáticas; a leitura de diferentes publicações, que inicia-se de forma simples, apenas lendo o enunciado, e evolui para várias formas de recriar a “realidade” apresentada nos periódicos. Tal técnica é intitulada “Teatro- Jornal”.
O “Teatro-Fórum” é um recurso cênico onde os atores apresentam a encenação de um problema e cabe aos espectadores representar a solução do problema apresentado.
Uma técnica do TO como ferramenta de ensaio para a luta, apresentada por Boal, é a “Quebra de Repressão”. Trata-se de um ensaio para resistência a uma repressão futura. Um participante da atividade teatral apresenta um momento ao qual tenha sido vítima de uma repressão. Então esta pessoa escolhe outras presentes para participarem da reconstrução de tal cena vivenciada. Após a dramatização da vivência, pede-se que o protagonista resista a tal opressão e que os outros espectadores mantenham as ações repressivas.
Lançamento
Noite de autógrafos e Roda de Conversa do livro Teatro do Oprimido, Raízes e Asas: uma teoria da práxis
Data: 23 de Novembro de 2016, Quarta-feira, às 19:30h
Local: Évoé Café com Livros
Endereço: Rua 91, 489, St. Sul, Goiânia – GO
Tel.: 62 3092-3733