Cultura

Entenda por que o Dia do Trabalhador é comemorado em 1° de maio

Redação DM

Publicado em 1 de maio de 2020 às 09:52 | Atualizado há 5 meses


Sacco e Vanzetti – Foto: Picture-alliance/ Photo 12/ Archives Snark

No Brasil, o movimento sindical também se articulou, entrou em greve e ameaçou o lucro sem escrúpulo dos patrões. Durante a República Velha, com condições péssimas de trabalho e de vida, os operários cobravam, entre outras coisas, a soltura de militantes detidos por protestar contra empresários e pediam que nenhum trabalhador fosse mandado embora por ter participado da Greve Geral. A paralisação durara 30 dias e fora a primeira experiência de sucesso no País, com focos lançados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Rolaram, é claro, prisões e arbitrariedades, mas a revolta anarcossindicalista manteve-se firme.

“Todas as conquistas dos trabalhadores de hoje, como a jornada de 8 horas e salário mínimo, vieram em grande medida por meio dos sindicatos. Foram essas organizações que permitiram que a gente avançasse nos direitos e ainda hoje têm importância mesmo com todas as suas contradições, aparelhamento e desgaste, porque sabemos que os direitos não caem do céu e não se mantém pela boa vontade das elites políticas e econômicas. É preciso que esses trabalhadores se manifestam dentro e/ou fora das organizações sindicais”, analisa Lays. “Desde o governo Michel Temer, passou-se a adotar medidas como a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista”.  

600 operárias

Em 25 de março de 1911, aproximadamente 600 operários e operárias de uma fábrica de roupas da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, estavam trabalhando, num sábado à tarde, num sábadão!, quando foram surpreendidas por um incêndio suspeito. Certamente havia o desejo de os patrões ganharem dinheiro com a tragédia, vai saber, não é mesmo? Os empresários da Triangle Shirtwaist Factory tinham, digamos, um histórico estranho: suas instalações com frequência pegavam fogo. E os dois anos antes, a fábrica fora alvo da greve dos trabalhadores da indústria do vestuário, que era liderada por mulheres.



Operárias da indústria do vestuário em greve no início do século XX – Foto: Reprodução

Embora trágico e mortal, o fogo na Triangle escancarou as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos costureiras e costureiros, em sua maioria mulheres e meninas que não compreendiam bem a língua inglesa, qualquer semelhança com bolivianos, angolanos em São Paulo é mera coincidência, hein. Motivados pela vontade de não morrerem queimados, os jovens tentaram escapar de alguma maneira, mas as saídas estavam trancadas por fora. Os números, sempre eles, são alarmantes: 143 trabalhadores morreram, sendo 14 homens e 129 mulheres. 49 não resistiram às queimaduras.

O incêndio na fábrica da Triangle é considerado o mais mortífero da história. Mesmo que a data do Dia Internacional do Trabalho seja atribuída ao Congresso Operário Socialista da Segunda Internacional, a morte das trabalhadoras é sempre tido como um dos episódios laborais mais trágicos da história. “É de extrema importância o movimento feminista no mundo do trabalho, não só por questões como diferença salariais e assédio moral, mas é importante pela questão do chamado ‘cuidado’ nas várias esferas da reprodução social, como por exemplo, a esfera privada, do lar, marcada por hierarquias de poder generificadas”, diz a cientista Lays Vieira, acrescentando: “É muito mais profundo do que simplesmente salários equivalentes e proteção contra assédio no ambiente de trabalho”.

Saiba mais

‘Germinal’

Escrito pelo escritor francês Émile Zola, a obra retrata a condição precária dos trabalhadores das minas durante a década de 1880. Zola relata o fervor provocado pelas ideias marxistas e anarquistas que fervilhavam no movimento sindical. O autor, que é considerado um dos pais da literatura realista, passou dois meses trabalhando com os mineiros.

‘Sacco e Vanzetti’

Anarquistas atuantes no movimento operário norte-americano no início do século XX, o sapateiro Nicola Sacco e o vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti foram acusadas de roubar uma loja fábrica de sapatos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ambos foram condenados à morte. Dirigido pelo cineasta Giuliano Montaldo, filme foi lançado em 1971.




Representação da Revolta de Haymarket, em 1886 – Ilustração: Autor desconhecido

“Nas grandes potências da época, como França e Inglaterra, que acabaram influenciando os Estados Unidos anos depois, houve diversas revoluções que foram importantes para consolidar o sistema capitalista que a gente tem hoje. Uma delas, por exemplo, é a Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra”, explica a cientista social Lays Vieira. Segundo a estudiosa, a exploração dos patrões eram “imensas” com cargas horárias exaustivas que não poupavam do trabalho sequer crianças. “Não havia nenhum tipo de segurança para os trabalhadores desempenharem suas funções nas fábricas”, conta.

À base da luta sindical, os trabalhadores conseguiram diminuir a jornada laboral, mas a repressão das elites econômica e política continuou a todo vapor, e fez duas vítimas que até hoje são lembradas ao redor do mundo. Foi o caso de Sacco e Vanzetti. Em 1908, o sapateiro Ferdinando “Nicola” Sacco e o vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti se engajaram no movimento operário anarquista e foram acusados de assaltar uma fábrica de sapatos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ambos foram condenados à morte. O episódio foi levado às telas do cinema no filme “Sacco e Vanzetti”, de 1971, com direção de Giuliano Montaldo.



Sacco e Vanzetti – Foto: Picture-alliance/ Photo 12/ Archives Snark

No Brasil, o movimento sindical também se articulou, entrou em greve e ameaçou o lucro sem escrúpulo dos patrões. Durante a República Velha, com condições péssimas de trabalho e de vida, os operários cobravam, entre outras coisas, a soltura de militantes detidos por protestar contra empresários e pediam que nenhum trabalhador fosse mandado embora por ter participado da Greve Geral. A paralisação durara 30 dias e fora a primeira experiência de sucesso no País, com focos lançados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Rolaram, é claro, prisões e arbitrariedades, mas a revolta anarcossindicalista manteve-se firme.

“Todas as conquistas dos trabalhadores de hoje, como a jornada de 8 horas e salário mínimo, vieram em grande medida por meio dos sindicatos. Foram essas organizações que permitiram que a gente avançasse nos direitos e ainda hoje têm importância mesmo com todas as suas contradições, aparelhamento e desgaste, porque sabemos que os direitos não caem do céu e não se mantém pela boa vontade das elites políticas e econômicas. É preciso que esses trabalhadores se manifestam dentro e/ou fora das organizações sindicais”, analisa Lays. “Desde o governo Michel Temer, passou-se a adotar medidas como a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista”.  

600 operárias

Em 25 de março de 1911, aproximadamente 600 operários e operárias de uma fábrica de roupas da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, estavam trabalhando, num sábado à tarde, num sábadão!, quando foram surpreendidas por um incêndio suspeito. Certamente havia o desejo de os patrões ganharem dinheiro com a tragédia, vai saber, não é mesmo? Os empresários da Triangle Shirtwaist Factory tinham, digamos, um histórico estranho: suas instalações com frequência pegavam fogo. E os dois anos antes, a fábrica fora alvo da greve dos trabalhadores da indústria do vestuário, que era liderada por mulheres.



Operárias da indústria do vestuário em greve no início do século XX – Foto: Reprodução

Embora trágico e mortal, o fogo na Triangle escancarou as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos costureiras e costureiros, em sua maioria mulheres e meninas que não compreendiam bem a língua inglesa, qualquer semelhança com bolivianos, angolanos em São Paulo é mera coincidência, hein. Motivados pela vontade de não morrerem queimados, os jovens tentaram escapar de alguma maneira, mas as saídas estavam trancadas por fora. Os números, sempre eles, são alarmantes: 143 trabalhadores morreram, sendo 14 homens e 129 mulheres. 49 não resistiram às queimaduras.

O incêndio na fábrica da Triangle é considerado o mais mortífero da história. Mesmo que a data do Dia Internacional do Trabalho seja atribuída ao Congresso Operário Socialista da Segunda Internacional, a morte das trabalhadoras é sempre tido como um dos episódios laborais mais trágicos da história. “É de extrema importância o movimento feminista no mundo do trabalho, não só por questões como diferença salariais e assédio moral, mas é importante pela questão do chamado ‘cuidado’ nas várias esferas da reprodução social, como por exemplo, a esfera privada, do lar, marcada por hierarquias de poder generificadas”, diz a cientista Lays Vieira, acrescentando: “É muito mais profundo do que simplesmente salários equivalentes e proteção contra assédio no ambiente de trabalho”.

Saiba mais

‘Germinal’

Escrito pelo escritor francês Émile Zola, a obra retrata a condição precária dos trabalhadores das minas durante a década de 1880. Zola relata o fervor provocado pelas ideias marxistas e anarquistas que fervilhavam no movimento sindical. O autor, que é considerado um dos pais da literatura realista, passou dois meses trabalhando com os mineiros.

‘Sacco e Vanzetti’

Anarquistas atuantes no movimento operário norte-americano no início do século XX, o sapateiro Nicola Sacco e o vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti foram acusadas de roubar uma loja fábrica de sapatos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ambos foram condenados à morte. Dirigido pelo cineasta Giuliano Montaldo, filme foi lançado em 1971.




Na década de 1880, o escritor francês Émile Zola sentira na pele a extensa jornada que regia as relações de trabalho na Europa no cenário sócio-político pós-Revolução Industrial. Sob o pretexto de vivenciar o fervilhante ambiente sindical desses anos, o pai da literatura realista passara dois meses colocando a mão na massa junto com mineiros. Foi explorado por patrões gananciosos, com o perdão da redundância, muito explorado. E lançou o romance “Germinal”. Viu de perto a sedução provocada pelo fervor das ideias marxistas e anarquistas, mas, sobretudo, experimentou moradias escravocratas, salários irrisórios e a comida escassa.  

Eram tempos em que os empresários estavam em êxtase com a possibilidade de seus subordinados pegarem no batente por 16 horas diárias. Pouco importava se morreriam trabalhando. Como medida para reduzir a jornada laboral, os operários entraram em greve. Alguns pararam no xilindró e outros tretaram com os homens da lei no episódio que ficara conhecido como Revolta de Haymarket, em 1886. Três ativistas foram detidos e outros cincos executados pelo sistema de justiça norte-americano. No dia 1° de maio de 1889, no Congresso Operário Socialista da Segunda Internacional, as vítimas foram homenageadas.



Representação da Revolta de Haymarket, em 1886 – Ilustração: Autor desconhecido

“Nas grandes potências da época, como França e Inglaterra, que acabaram influenciando os Estados Unidos anos depois, houve diversas revoluções que foram importantes para consolidar o sistema capitalista que a gente tem hoje. Uma delas, por exemplo, é a Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra”, explica a cientista social Lays Vieira. Segundo a estudiosa, a exploração dos patrões eram “imensas” com cargas horárias exaustivas que não poupavam do trabalho sequer crianças. “Não havia nenhum tipo de segurança para os trabalhadores desempenharem suas funções nas fábricas”, conta.

À base da luta sindical, os trabalhadores conseguiram diminuir a jornada laboral, mas a repressão das elites econômica e política continuou a todo vapor, e fez duas vítimas que até hoje são lembradas ao redor do mundo. Foi o caso de Sacco e Vanzetti. Em 1908, o sapateiro Ferdinando “Nicola” Sacco e o vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti se engajaram no movimento operário anarquista e foram acusados de assaltar uma fábrica de sapatos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ambos foram condenados à morte. O episódio foi levado às telas do cinema no filme “Sacco e Vanzetti”, de 1971, com direção de Giuliano Montaldo.



Sacco e Vanzetti – Foto: Picture-alliance/ Photo 12/ Archives Snark

No Brasil, o movimento sindical também se articulou, entrou em greve e ameaçou o lucro sem escrúpulo dos patrões. Durante a República Velha, com condições péssimas de trabalho e de vida, os operários cobravam, entre outras coisas, a soltura de militantes detidos por protestar contra empresários e pediam que nenhum trabalhador fosse mandado embora por ter participado da Greve Geral. A paralisação durara 30 dias e fora a primeira experiência de sucesso no País, com focos lançados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Rolaram, é claro, prisões e arbitrariedades, mas a revolta anarcossindicalista manteve-se firme.

“Todas as conquistas dos trabalhadores de hoje, como a jornada de 8 horas e salário mínimo, vieram em grande medida por meio dos sindicatos. Foram essas organizações que permitiram que a gente avançasse nos direitos e ainda hoje têm importância mesmo com todas as suas contradições, aparelhamento e desgaste, porque sabemos que os direitos não caem do céu e não se mantém pela boa vontade das elites políticas e econômicas. É preciso que esses trabalhadores se manifestam dentro e/ou fora das organizações sindicais”, analisa Lays. “Desde o governo Michel Temer, passou-se a adotar medidas como a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista”.  

600 operárias

Em 25 de março de 1911, aproximadamente 600 operários e operárias de uma fábrica de roupas da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, estavam trabalhando, num sábado à tarde, num sábadão!, quando foram surpreendidas por um incêndio suspeito. Certamente havia o desejo de os patrões ganharem dinheiro com a tragédia, vai saber, não é mesmo? Os empresários da Triangle Shirtwaist Factory tinham, digamos, um histórico estranho: suas instalações com frequência pegavam fogo. E os dois anos antes, a fábrica fora alvo da greve dos trabalhadores da indústria do vestuário, que era liderada por mulheres.



Operárias da indústria do vestuário em greve no início do século XX – Foto: Reprodução

Embora trágico e mortal, o fogo na Triangle escancarou as péssimas condições de trabalho a que eram submetidos costureiras e costureiros, em sua maioria mulheres e meninas que não compreendiam bem a língua inglesa, qualquer semelhança com bolivianos, angolanos em São Paulo é mera coincidência, hein. Motivados pela vontade de não morrerem queimados, os jovens tentaram escapar de alguma maneira, mas as saídas estavam trancadas por fora. Os números, sempre eles, são alarmantes: 143 trabalhadores morreram, sendo 14 homens e 129 mulheres. 49 não resistiram às queimaduras.

O incêndio na fábrica da Triangle é considerado o mais mortífero da história. Mesmo que a data do Dia Internacional do Trabalho seja atribuída ao Congresso Operário Socialista da Segunda Internacional, a morte das trabalhadoras é sempre tido como um dos episódios laborais mais trágicos da história. “É de extrema importância o movimento feminista no mundo do trabalho, não só por questões como diferença salariais e assédio moral, mas é importante pela questão do chamado ‘cuidado’ nas várias esferas da reprodução social, como por exemplo, a esfera privada, do lar, marcada por hierarquias de poder generificadas”, diz a cientista Lays Vieira, acrescentando: “É muito mais profundo do que simplesmente salários equivalentes e proteção contra assédio no ambiente de trabalho”.

Saiba mais

‘Germinal’

Escrito pelo escritor francês Émile Zola, a obra retrata a condição precária dos trabalhadores das minas durante a década de 1880. Zola relata o fervor provocado pelas ideias marxistas e anarquistas que fervilhavam no movimento sindical. O autor, que é considerado um dos pais da literatura realista, passou dois meses trabalhando com os mineiros.

‘Sacco e Vanzetti’

Anarquistas atuantes no movimento operário norte-americano no início do século XX, o sapateiro Nicola Sacco e o vendedor ambulante Bartolomeo Vanzetti foram acusadas de roubar uma loja fábrica de sapatos em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ambos foram condenados à morte. Dirigido pelo cineasta Giuliano Montaldo, filme foi lançado em 1971.



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