Cultura

Era uma vez na Itália

Diário da Manhã

Publicado em 6 de abril de 2017 às 01:30 | Atualizado há 4 meses

Há muitos anos conheci a então delegada Vânia Guia, muito nova e bela assumiu a posição em uma delegacia de Goiás. Não tardou para a imprensa nacional descobri-la. O Fantástico fez uma ótima matéria sobre seu trabalho e ela terminou a entrevista declamando uma de minhas poesias do meu livro Emoção. Sempre mostrou uma mulher firme em sua função, mas nunca deixou sua sensibilidade feminina. Foi também vereadora em Goiânia e muito atuante. Vânia sempre gostou de viajar e de vinho. Dizia sempre para os amigos que um dia iria se aposentar e iria estudar sobre vinhos da Itália. E assim o destino lhe presenteou fazer o curso de sommelier logo que se aposentou. Segundo Vânia, a Itália lhe proporcionou a maravilhosa celebração e exaltação da comida e do vinho e, assim, impactaram seus sentidos. Antipasto, primo, secondo, contorno, dolci. Vinho espumante, vinho branco, vinho tinto, vinho de sobremesa. Tudo harmonizado, uma verdadeira sinfonia. Vânia diz que fez amigos no local e ficou encantada com a simplicidade das pessoas. O quanto eles se preocupam em comer bem e com produtos frescos, pois a maioria planta a sua horta. O vinho é engarrafado pelo dono da casa, na lua certa para não estragar ou refermentar, depois é guardado no subsolo da casa, mas que em italiano recebe o nome de cantina, junto com as deliciosas compotas e conservas feitas em casa.

Vânia voltou diversas vezes à Itália, e cada vez com temporadas mais longas. Quando chegava, os seus amigos faziam uma festa e a levavam junto para comprar o vinho. Segundo Vânia, comprar o vinho significa conversar com seu produtor, ouvir dele como foi a produção naquele ano, como estava a uva, como foi a colheita, se choveu, se nevou, quais intempéries ele venceu. E, claro, provar os diversos vinhos, com o queijo ou um salame fatiado ali, sem frescura.

Vânia diz que seu trabalho muito lhe exigia e depois que se aposentou foi passar um tempo na Itália, percebeu o quanto era feliz naquela comunidade com pessoas simples e aquilo era um sopro de vida. “Comecei a estudar italiano, e para aprender ouvia a música de Andrea Bocelli. A Itália é isso, comida, vinho e arte. E, obviamente, drama.” Segundo ela, a Itália lhe salvou, como salvou e reeditou a vida das protagonistas dos filmes Comer, Rezar, Amar e Sob o Sol da Toscana. Foi para a Itália em busca de vida. Morou por um tempo, na região de Veneto, entre Verona e Veneza. O Veneto é o maior produtor de vinhos da Itália e entre aquele mar de vinhedos, fui iniciada no mundo do vinho. Na Itália o vinho não é um produto de luxo, como no Brasil. Ele faz parte da vida e é muito comum que as famílias o produzam para o consumo. “Tinha um vinhedo do lado da minha casa, onde acompanhava o ciclo vegetativo da parreira, do seu florescer até a vindima”, ela conta.

“Comecei a fazer amigos no local e nas conversas na cozinha, sempre ficava muda, pois eles falam muito do mundo do vinho. Aí fui fazer o curso de sommelier para aprender sobre vinhos. Existem diversas escolas na Itália e escolhi a Federazione Italiana Sommelier – Fisar. Fiz o curso em um ano e meio, período em que frequentei as melhores feiras de vinhos da Itália, conversei com vários produtores renomados, participei de degustações. Ao final, para obter o título de sommelier, é necessário ser aprovado numa prova escrita e uma oral e de serviço. Confesso a vocês que passar na prova final foi uma das vitórias da minha vida, tão difícil ou até mais do que passar no concurso para delegada de polícia, onde fiquei em primeiro lugar. Meus amigos italianos ficaram muito, mas muito orgulhosos de mim e do tastevin que eu conquistei. Os italianos respeitam quem sabe sobre o vinho, é quase uma religião lá”, conta.

“Uma garrafa de vinho não é o resultado só da uva, ela é fruto da história, da geografia do local, da forma que as pessoas vivem e cultivam o vinhedo. Nada melhor do que viajar por diversas regiões produtoras para conhecer e aprender melhor sobre o vinho. Com uma vantagem, na Itália tudo é perto. E assim eu fiz. No Veneto, onde morava, tinha os Amarones, Valpollicela e Prosecos. Fui ao Piemonte, conhecer Barolo e Barbaresco; na Toscana, conhecer Chianti e Brunello; na Sardenha, Vermentino e Cannonau, cada região com suas uvas, práticas de cultivo e vinificação diferentes entre si. E ainda tinha que provar os pratos da cozinha regional, que harmoniza com os vinhos, em cenários que me faziam tirar o fôlego. Confesso que vivi, comi e bebi muito bem”, relata a delegada aposentada Vânia Guia.

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Itália, terra do vinho!

Os gregos na antiguidade denominavam a Itália Enotria (terra do vinho). Ela possui, como a França, um mar de vinhos e com ela vem se alternando, de tempos em tempos, na posição de maior produtor e consumidor mundial de vinhos.

O vinho italiano é um dos mais difíceis de se compreender.

Atualmente, existem cerca de 350 variedades de uvas viníferas, entre as italianas autóctones e as uvas francesas internacionais, utilizadas nas denominações de origem controlada (DOC).

 

Legislação italiana: DOC e DOCG

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A legislação especifica a zona de produção, tipologia de uva que pode ser utilizada, a quantidade de plantas por hectare, o sistema de colheita da uva (manual ou mecânica).

Disciplina também a técnica de vinificação, a percentagem de uvas empregadas nos cortes (blend) e, ainda, a duração e forma do envelhecimento do vinho.

A lei mais restritiva é da denominação de origem controlada e garantida – DOCG (5% da produção em 2014), depois denominação de origem controlada – DOC (39%) e indicação geográfica típica–IGT (32%).

 

Piemonte: aos pés da montanha

Circundada pelos Alpes, fazendo divisa com a França, o Piemonte é a região vinícola mais importante da Itália.

Nos tintos, predominam as cepas Nebbiolo (dos famosos Barolo e Barbaresco) e Barbera, a essência dos vinhos Dolcetto e Grignolino.

Entre os brancos, destacam-se os secos feitos com uvas Cortese e Arneis e o raro Erbaluce di Caluso e ao Moscato, com o seu sabor adocicado.

A Nebbiolo é a mais nobre das uvas do Piemonte. Seu nome deriva de “neblina” (“nebbia” em italiano), porque a uva amadurece tarde quando as colinas já estão com as primeiras neblinas do outono.

A uva dá o melhor de si na produção de vinhos de grande corpo e estrutura que, durante o envelhecimento, conseguem complexidade e elegância.

 

O Rei e a Rainha do Piemonte: Barolo e Barbaresco

O Barolo é um vinho que os italianos chamam de ‘O vinho do Reis’ ou o ‘rei dos vinhos’. Obra-prima do Piemonte, fica excepcional a partir do 8-10º ano.

O Barbaresco, outra joia do Piemonte, cidade vizinha de Barolo (a 24 km de distância), provém da Nebbiolo, só que deve ser bebido jovem, a partir do terceiro ano.

 

Quatro vinhos italianos que você tem que experimentar:

A Itália é um dos maiores produtores de vinhos do mundo e conta com uma enorme variedade de uvas autóctonas. Em cada região que você visitar, vai encontrar um tipo de vinho diferente. É muito difícil eleger os melhores, porque cada um tem suas características de acordo com a zona de produção e o tipo de cultivo. Considerar a história do vinho na Itália é considerar a história da própria Itália, e que vinho e civilização italiana são praticamente sinônimos. Tanto que dizem que, ao nascer, um italiano torna-se um cidadão da “terra do vinho”. O fato é que a vinicultura está enraizada na consciência nacional, na sua imaginação e em seu dia a dia. O italiano é um herdeiro de milhares de anos do cultivo das vinhas e da sua posterior produção e, assim, do Norte ao Sul do país, vigora a Santíssima Trindade Mediterrânea, que nada mais é do que o tripé constituído de vinho, pão e azeite. A coluna Prazeres a Mesa listou para vocês alguns vinhos interessantes.

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Chianti é o vinho mais famoso da Itália, um clássico conhecido no mundo inteiro, produzido na Toscana. As províncias que o produzem são: Arezzo, Firenze, Pisa, Pistoia, Prato e Siena e suas subzonas. O Chianti apresenta cor vermelho rubi, perfume floreal e é ligeiramente tânico. Para beber acompanhado principalmente de carnes e queijos curados.

 

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Prosecco é um dos vinhos italianos mais em voga neste momento. O Prosecco é produzido no Vêneto, na região de Treviso, Conegliano e Valdobbiadene e é um vinho branco espumantizado com sabor frutado e leve, feito com a uva glera. Por causa da sua versatilidade, pode acompanhar diversos tipos de pratos, da carne ao peixe, verduras, frutos do mar.

 

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Amarone é um dos vinhos de maior prestígio no mundo. Se o que você quer é comemorar uma ocasião especial, ou mesmo celebrar sua viagem aqui na Itália, peça o Amarone. Originário da região de Valpolicella, no Vêneto. O Amarone é feito a partir das uvas Rondinella, Corvina e Molinara, que são “appassitas”, ou seja, secadas em grades, o que aumenta o conteúdo de açúcar e exalta os aromas. Para acompanhar o Amarone, peça salames e queijos bem curados.

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Brunello é um vinho Toscano de grande importância e conhecido no mundo inteiro. O território que o produz tem uma paisagem magnífica. O Brunello é como aquele ditado que diz que “é feito vinho, quanto mais velho, melhor”. É difícil dizer quantos anos o Brunello pode envelhecer bem na garrafa, depende do ano de produção, mas pode ser de 10 a 30 anos. Para acompanhá-lo, peça pratos importantes e estruturados, como carne vermelha, funghi e trufa.


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