Espetáculo retrata traumas do período colonial no Basileu
DM Redação
Publicado em 23 de setembro de 2025 às 20:56 | Atualizado há 6 minutos
Com dramaturgia e direção geral de Marcelo Marques, o artista Matheus Alcantara estreia o solo circense-teatral “Sob(re) a Pele”, neste sábado, 27, às 20h, no IV Festival de Circo do Basileu França, em Goiânia. A apresentação marca a primeira exibição pública do mais recente trabalho do Orum Aiyê Quilombo Cultural.
A entrada é gratuita, com retirada de ingressos na bilheteria do evento. O público é convidado a doar 1 kg de alimento não perecível, que será destinado a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
O espetáculo mescla teatro e circo para abordar as experiências e desafios vividos por corpos negros no Brasil. A montagem traz como elemento central o tecido acrobático, explorado com intensidade por Alcantara, que une técnica e interpretação em uma performance de forte carga simbólica e emocional.
Além da estreia no festival, o espetáculo terá temporada nos dias 4, 5, 11 e 12 de outubro, na sede do Orum Aiyê, no Residencial Nossa Morada. Para essas sessões, os ingressos devem ser retirados gratuitamente pela plataforma Sympla.
“Sob(re) a Pele” mergulha nas narrativas de resistência, dor e superação da juventude negra brasileira, relembrando traumas históricos do período colonial e refletindo sobre os efeitos persistentes do racismo estrutural. A obra conecta essas memórias com vivências contemporâneas — muitas delas inspiradas na própria trajetória de Matheus Alcantara — e lança um olhar crítico sobre o papel da educação como ferramenta de emancipação.
“O ambiente escolar, muitas vezes apresentado como espaço de ascensão, também se revela como um campo de batalha para estudantes negros, por conta da exclusão e do preconceito que enfrentam cotidianamente”, explica Marcelo Marques. Para ele, o espetáculo funciona como “um manifesto contra as injustiças e a favor da vida”.
A encenação combina movimentos acrobáticos aéreos, expressão corporal e narrativa dramática. Segundo o diretor, o solo é parte da pesquisa artística “Solos Marginais”, voltada à investigação de histórias de sujeitos historicamente invisibilizados.
“Busco, por meio de pessoas e personagens marginalizados, contar suas trajetórias de superação e resiliência, revelando como somos moldados para sobreviver em uma sociedade que nos rejeita”, afirma Marques.
O espetáculo conta com direção de arte de Raquel Rocha, preparação de ator com Renata Caetano, preparação corporal e coreografia de Luciana Caetano, e direção técnica circense de Cauê Marques. A criação é fruto de um processo colaborativo entre artistas comprometidos com narrativas de resistência e ancestralidade.
Ao trazer à tona o legado histórico e a força simbólica da população negra, “Sob(re) a Pele” reafirma o poder do corpo em movimento como instrumento político e artístico. “Apesar das injustiças sociais geradas pelo racismo, o espetáculo carrega uma mensagem de resistência e resiliência. O povo negro nunca pereceu — seguimos resistindo”, conclui.