Cultura

Eu vi Cine Teatro Goiânia nascer

Diário da Manhã

Publicado em 20 de junho de 2017 às 02:31 | Atualizado há 8 anos

Eu tinha 19 anos e estudava no Lyceu de Goiânia; morava em Campinas e vinha de bicicleta, uma Sieger de aro 26 com guidon de corrida. Imagina guidon de corrida com aro 26, sendo o normal, 28. Depois possuí uma infinidade de bicicletas e motocicletas de várias marcas. Mas para vir ao Lyceu, sempre foi de bicicleta. Havia umas moitas de gabirobas em frente ao colégio e eu deixava a bicicleta deitada na moita. Ninguém mexia. Naquele tempo (1941-1942) estava sendo construído o Cine Teatro Goiânia na confluência das avenidas Anhanguera e Tocantins, onde seriam realizadas as homenagens da inauguração de Goiânia, em 05 de julho de 1942.

E eu, de volta pra Campinas, ficava ali parado vendo aquele montão de terra incomum, pois Goiânia era um imenso canteiro de obras e aquela era a maior. Era uma escavação enorme que soube que seria um túnel que ligaria a construção ao Palácio das Esmeraldas, subindo pela Avenida Tocantins, coisa absurda. Depois fui informado que seria um abrigo ante-aéreo, pois estávamos na época da guerra (1939-1945). Outra tolice, pois Goiânia era apenas um canteiro de obras e se acontecesse ataques aéreos seriam no litoral, Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente.

Segui o desenvolver da construção que estava sendo tocada a todo o vapor. Soube que o engenheiro responsável era o arquiteto Jorge Felix,  que construiria também o coreto da Praça Cívica e a Igreja Imaculado Coração de  Maria. Jorge Felix seria o precursor de Oscar Niemeyer, pois projetou  o CineTeatro “em forma de um navio” e em Art-Decòr,  para as manifestações cívicas da inauguração e posteriormente,  cinema e palco de shows.

Depois só ficou como teatro, não sei por que, pois a aparelhagem era das mais modernas e rendia dinheiro para a sua manutenção.

Naquele ano eu havia sido campeão de corrida pelo Lyceu em disputa com o Ateneu Dom Bosco e Polícia Militar, no aniversário da Capital, no dia 24 de outubro,  e ganhei o ingresso para a inauguração do Cine Teatro no dia 05 de julho de 1942. Depois do ciclo das homenagens, que as conferências aconteciam na Escola Técnica Federal, construída também para esse fim, o primeiro acontecimento cultural foi a peça teatral Colégio Interno, com  Eva Todor; depois com Bibi Ferreira, filha de Procópio Ferreira (das Mãos de Eurídice),  quando interpretou Edit Piaf, emocionando  os espectadores.

O primeiro filme foi DivinoTormento,  com o casal-lírico, Jeanette Mac Donald & Nelson Eddy, que havia lançado um grande sucesso mundial: Oh suíte Mistery of Life (Oh doce mistério da vida!)

Depois os filmes foram exibidos diariamente e era comum ver o Dr. Pedro Ludovico descer a Avenida Tocantins, de terno branco para assistir as matinês.

Agora, no dia 12 passado, o Cine Teatro Goiânia completou 75 anos de sua construção.

Hoje é tombado pelo Estado, com o nome do cineasta Centro Cultural João Bênnio. Depois também tombado  pelo Iphan.

Foi fechado por muitos anos para reformas e mesmo por abandono. Atualmente, ao lado de cima  (Rua 3) foi, recentemente, construída  a Vila Cultural Cora Coralina, que  está funcionando muito bem, com bons eventos culturais.

Em julho de 2005 comemoramos no Teatro Goiânia os 60 anos do Bazar Paulistinha com um grande elenco de artistas goianos comandados por Claudino Silveira (Rádio Difusora), tais como Lindomar Castilho, Ely Camargo, Maria Júlia Franco, Foliões das Lages (Itapuranga) comandados pelo antropólogo Jadir de Morais Pessoa, Palmito, Trio da Vitória, Belguinha, Marrequinho, Sinval & Dalmy, Rezendinho,  Orquestra de Violeiros e outros…

No dia da inauguração o Teatro estava superlotado, em baixo e encima e nas laterais, com um tapete vermelho estendido até o palco, uma grande mesa forrada com toalha de rendas e flores em profusão, com um enorme mural no fundo pintado pelo professor e artista plástico Antônio (Totó) Peclat, aludido aos índios Goyazes. O mestre de cerimônias, sei mais não vou declinar o nome, anunciava as autoridades que iam entrando e tomando assento à mesa e, finalmente, o Dr. Pedro Ludovico com o representante do Presidente Getúlio Vargas, o geógrafo Raja Gabaglia. Aí o mestre cerimonial, no maior entusiasmo, anunciou, esquecendo o nome ou por dificuldade de pronunciar GABAGlIA, soltou a “batata”: – Vai entrando o excelentíssimo senhor  Doutor Pedro Ludovico Teixeira, com … o membro de fora!…

Eu estava lá, mas não entendia porque a platéia ria tanto. Quem contava o acontecido (?) com muita graça era o trocadilhista-maior, Professor Gomes Filho.

PS- Nesta Quinta-Feira Santa de Corpus Christi, artistas de 30 paróquias da Capital, com 600 artistas, atapetaram, com muita arte e devoção, quase um quilômetro de imagens em cores usando serragem e fitas de madeira. Lindíssimo trabalho com motivos bíblicos em toda a Rua 82 circulando a Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira (Praça Cívica), por onde passou a procissão após a Missa realizada na referida Praça. Deu dó em ver desmanchar tão lindo trabalho.  Comemorou-se, também, 60 anos da Arquidiocese de Goiânia.

 

(Bariani Ortencio[email protected])

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