Cultura

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Diário da Manhã

Publicado em 21 de março de 2017 às 02:03 | Atualizado há 4 meses

A provedora global de filmes e séries de televisão via streaming Netflix é um dos meios de entretenimento nos horários vagos ou não da atualidade dos indivíduos que identificam com séries, filmes, documentários, conseguindo aglomerar um grande público. Um dos produtos disponibilizados nesta plataforma digital é a série Black Mirror que extrapolam a visão fictícia de um seriado alcançando uma dimensão analítica e crítica do mundo contemporâneo.

A série se passa em volta de uma extensa crítica das diversas formas de dependência cada vez maior da tecnologia, fazendo com que o afastamento pessoal seja cada vez mais explícito e natural. Os encontros são trocados por mensagens ou até mesmo por chamadas de vídeos atualmente, entrevistas de empregos são por trocas de e-mails e a sensibilidade da presença pessoal fica cada vez mais anulado.

E é justamente essa analogia que se passa em “Black Mirror” traduzido para português  significa “espelho preto”, uma metáfora de cegueira sobre o que nos cerca.  A retratação escancarada neste seriado é a constância carência pela aprovação da sociedade que necessita se encaixar perfeitamente nos parâmetros de uma vida idealizada e feliz como em filmes holywoodianos onde a perfeição é uma meta/chegada.

A série não possui uma continuidade linear entre personagens. Portanto, cada episódio o roteirista Charlie Brooker mentor da série constrói uma visão diferente nos fazendo refletir sobre se o uso excessivo das tecnologias é algo realmente positivo e transgressor. O modo como cada roteiro é construído é nitidamente bem trabalhoso com uma sacada bastante peculiar, nos faz desafiar o tal espelho preto da vida.

Simulando os aplicativos atuais como facebook, instagram, linkedin dentre outros, o seriado alude no primeiro episódio da terceira temporada, por exemplo, a carência de aprovação social via estrelas, que podemos assimilar com os famosos “likes”, “curtidas”, “amei” das redes. O estímulo de felicidade portanto passa a ser o combustível para se auto promover no cotidiano, através dessas tecnologias passa-se uma imagem feliz e de vida plena.

O convívio social é bastante semelhante ao cenário atual de 2017 e quem sabe dos próximos trinta anos,  no qual a relação interpessoal é baseado nos recursos tecnológicos que possui como: smartphones, tablets, videogames etc; dissipando os laços pessoais. A auto estima é avaliada através da aprovação de uma rede social semelhante aos aplicativos que usamos corriqueiramente no dia-a-dia com exposições de fotos e vídeos, que reflete de forma óbvia da carência de atenção da atualidade.

O contato pessoal que temos na realidade é feito de forma hostil e forçada relacionado ao mesmo objetivo da aprovação de likes do seriado. O vínculo com pessoas com menos de nota 3,0 de aprovação em Black Mirror é motivo para o isolamento e a crítica social. O relacionamento afetivo entre duas pessoas são controlados por amigos que excluem um ou outro da rotina cotidiana caso o romance não dê certo, gerando um desgaste emocional nas duas pessoas envolvidas gerando uma dependência por fora.

A insegurança e a desaprovação paralelo ao isolamento faz com que haja o distanciamento. Um ponto recorrente é a exposição da sonoplastia, paletas de cores  bem lineares e em ritmo perfeito e da organização extremista são um dos adjetivos de Black Mirror. Associando esta obra de ficção com a realidade  a sensação é de elucidamento, quase um “boom” na reflexão sobre o caminho que estamos percorrendo inconscientemente desse modelo de vida digitalizada.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman já previa uma sequência de liquidez na sociedade contemporânea/pós moderna, inclusive algumas das suas obras abordam essa temática social. O uso desenfreado da tecnologia  e do isolamento está cada vez mais próximo. Será que a tecnologia consegue ser superior ao contato físico ou escondemos nossa solidão atrás de uma tela?

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