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Música clássica

Filarmônica estreia composições que homenageiam Portugal

Sob regência de maestro titular, concerto apresenta músicas escritas por compositores português e brasileiro, no Teatro Goiânia

Criações têm destaque dentro do repertório orquestral que celebra país europeu - Foto: Laura Cipriano/ Divulgação Criações têm destaque dentro do repertório orquestral que celebra país europeu - Foto: Laura Cipriano/ Divulgação

A Orquestra Filarmônica de Goiás faz nesta quarta-feira, 15, a partir das 20h, no Teatro Goiânia, a estreia nacional de duas obras que irão homenagear Portugal. Sob regência do maestro Neil Thomson, o concerto apresentará “Sinfonia n° 2”, do compositor português Joly Braga Santos, e “Sinfonia de Abril”, do brasileiro João Guilherme Ripper.

“Sinfonia de Abril” celebra os 50 anos da Revolução dos Cravos, evento político que derrubou o regime salazarista – ditadura implantada no país luso por António de Oliveira Salazar, em 1933. Por mais de duas décadas no século passado, Salazar governou com mão de ferro. Era um Estado tão forte que, na visão do ditador, não precisaria de ser violento.

O Estado Novo, como se chamava o regime, começou a vigorar com a aprovação de uma nova Constituição portuguesa, em 1933. Só saiu de cena quando houve a Revolução dos Cravos, nos anos 1970. Caracterizou-se pelo autoritarismo, nacionalismo e conservadorismo. A polícia política Pide contou com mais de 20 mil agentes e 200 mil delatores.


		Filarmônica estreia composições que homenageiam Portugal
João Guilherme Ripper, compositor. Foto: Ana Branco/ Divulgação


Professor na Universidade de Coimbra, Salazar mandava tirar a política das ruas, dos jornais e do cotidiano dos portugueses. Havia nessa forma de governar uma intenção bem clara: construir a noção de que o país vivia uma normalidade institucional. Sabe-se que não era tão simples assim, porque soldados lusos barbarizaram nas colônias africanas, por exemplo.

João Guilherme Ripper, compositor da “Sinfonia de Abril”, diz que se baseou para construir a música em documentários e artigos que retratavam os acontecimentos do 25 de Abril. Para tanto, o artista adotou três imagens poéticas que nomeiam os andamentos da peça. O primeiro, “As Ruas de Lisboa”, representa cantos ouvidos naquele dia pelas ruas da capital.

“Utilizei para isso o politonalismo, o contraste de timbres e dinâmicas, além de fragmentos melódicos que incluem breve referência a Grândola, Vila Morena, famosa canção de Zeca Afonso que tornou-se o hino do movimento”, explica o compositor ao site da Metropolitana, instituição cultural portuguesa fundada em março de 1992 especializada em música clássica.

Utilizei para isso o politonalismo, o contraste de timbres e dinâmicas, além de fragmentos melódicos que incluem breve referência a Grândola, Vila Morena, famosa canção de Zeca Afonso que tornou-se o hino do movimento João Guilherme Ripper, compositor

No segundo andamento, “Vermelho: Sangue e Cravos”, o brasileiro rememora as vidas ceifadas nas quatro décadas em que os portugueses lutaram pela liberdade. Há presença de acordes dissonantes em clarinetes, trompas e marimba. Já a flauta apresenta a primeira parte do tema. É respondido pelas cordas. Os violinos dão o tom melancólico à seção central.

Construção

“O título ‘Terra da fraternidade’ foi tirado de um trecho da letra de Grândola, Vila Morena. Estruturei o terceiro andamento como um Rondó-Sonata de forma A-B-A’-C-B-A’’ cujo refrão (seção A) é baseado no ritmo do Fandango”, detalha João Guilherme ao Metropolitana. “A contrastante secção B traz melodia expressiva nas cordas, seguida pelo retorno do refrão modificado (secção A’). Na secção C, utilizei o trecho inicial de Grândola, Vila Morena para construir dois cânones cerrados sucessivos nos metais e nas cordas.”

Nascido no Rio de Janeiro, Ripper é autor de libretos e música de óperas de grande relevância na música clássica brasileira. Em 2000, recebeu o prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte pela obra Domitila, e, em 2017, pelo conjunto de sua obra. Três anos depois, foi agraciado com o Prêmio Inovação da Revista Concerto pela criação e coordenação do Programa Gestores em Movimento, que capacita músicos de todo o Brasil.

O concerto apresentado no Teatro Goiânia conta também com composição de Joly Braga Santos, expoente importante da música erudita portuguesa. É a “Sinfonia n° 2” do célebre artista nascido em Lisboa em maio de 1924. Desde cedo, demonstrou interesse por instrumentos musicais. Seu pai, percebendo essa predileção, levava-o a concertos e óperas.

Joly gostava especialmente das óperas com muito coro. Sua música pode ser vista principalmente como uma fusão dos vários estilos Europeus, mas ele mesmo disse em entrevista: "Desde sempre entendi que tinha de criar o meu próprio estilo e a minha música devia ser o resultado dessa criação." A melodia era para ele a razão de ser da música.

O musicólogo João de Freitas Branco, autor da obra de referência da história da música portuguesa, salientou a generosidade cultural do maior sinfonista português. "Ele é o inverso do artista que se dirige apenas a minorias privilegiadas. Ele queria que muitas pessoas viessem a usufruir da sua arte." Santos faleceu no ano de 1988.

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