Cultura

Flora, a deusa-mãe das flores

Redação DM

Publicado em 3 de maio de 2016 às 01:38 | Atualizado há 5 meses




“Ai! de quem nos despreza! ao desacato

Sobr’está logo a pena ; então não pomos

À nossa justa cólera limites.

Longo fora o catálogo das penas,

Que hemos dado a sacrilégios; só quero

Narrar-te as que infligi. De Roma os Padres

Tinham-me preterido; eu que faria?

Como desagravar-me e escarmentá-los?

Absorta em meu pesar, o ofício esqueço;

Não promovia eu mesma aquelas perdas;

Não sou cruel na ira; per si vinham,

E eu não as repelia. ”

Ovídio, Os Fastos, Livro V

Flora, a deusa das flores, era cuidadora de todas elas, mas não na vida selvagem. Adorava as flores cultivadas em jardins, campos cercados, cultivava videiras, oliveiras (azeitonas),  grãos como lentilhas e ervilhas, codeços e timos. A deus, descrita como “jovial”,  era tida como uma amiga de seus súditos. Seu nome primitivo era Clóris, a ninfa dos campos, posteriormente chamada de Flora, a partir da região do Lácio, região onde foi fundada a cidade de Roma. Flora, segundo os mitos greco-romanos, fora sequestrada e desposada por Zéfiro, correspondente à Favônio, na mitologia romana. Zéfiro era o vento do Oeste, irmão de Bórea, Eurus e e Noto, filhos de Aurora e Astreu. Zéfiro ofereceu-lhe as flores como dote, após o casamento. Fora dada a ela a função de cuidar de tudo que brotasse sobre a terra fértil.

Segundo consta, Zéfiro fecundava as éguas em determinada região da Lusitânia, o que deixava os cavalos enfurecidos, selvagens e indomáveis. Quanto ao nascimento de Marte, deus da Guerra (equivalente ao grego Ares), foi Flora quem auxiliou, oferecendo uma flor da fertilidade que havia em seus jardins, à uma mulher que desejava engravidar, sem copular com uma figura masculina.

O Festival de Florária ocorria comumente no mês de maio, talvez daí venha a referência que Maio seja o “mês das flores”, mas foi em 28 de abril de 240 antes de Cristo que fora construído em homenagem à deusa por determinação do oráculo dos livros Sibilinos, um templo em sua honra e para pedir-lhe sua proteção. As colheitas não estavam das melhores, os súditos de Flora, decepcionados, abandonaram a Florália por cerca de cem anos, retomando-a apenas em 173 antes de Cristo, em celebrações anuais. Pela falta de celebrações e honrarias em seu nome, Flora esquecera de suas funções, deixando à mercê os campos floridos e pomares, tendo sido esta a razão pela qual as colheitas não iam bem. A restituição dos Ludi Florales (os jogos em honraria à Flora), fora decretada pelo Senado em 173 a.C., almejando prosperidade para os campos e a colheita, com duração de 28 de abril até três de maio, anualmente.

Flora era também associada à fertilidade, por tanto, durante a Ludi Florales, animais que remetessem à fertilidade, como cabras e e lebres, eram soltos pelos campos. Havia ainda uma preocupação com a figura feminina, já que, para a concepção social daquele povo àquela época, era a de conceder ao seu marido um filho, que, por consequência, seria um ciadão romano.

Forália, óleo sobre tela de Hobbe Smith, 1898

Os Livros Sibilinos        

Segundo a história desses livros, eles continham tudo o que se necessitava saber sobre o futuro. Ele fora comprado de Sibila de Cumas – filha de um humano com uma ninfa que, desde criança tinha o dom da profecia -, por Tarquínio, o Soberbo, último rei de Roma. Segundo a mitologia, Sibila ofereceu os livros à Tarquínio, que recusou-se a comprar por achar o preço alto de mais. Ela queimou três de um total de nove livros, voltou e ofereceu os seis restantes ao imperador romano pelo mesmo valor, que novamente recusou-se a comprar. Da última vez, Sibila queimou mais três, retornou à presença de Tarquínio, oferecendo os três restantes, ainda pelo menos valor inicial. Já cansado da tal negociata, o imperador comprou os derradeiros livros e, ao lê-los, lamentou profundamente por todo o conhecimento perdido em definitivo, quando a maior parte da coletânea fora incinerada.


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