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Goiânia Noise leva riffs de guitarra ao Oscar Niemeyer

Tradicional na música goiana, evento começa nesta sexta-feira, 12. Além do rock da Nação Zumbi e do indie de Letrux, programação tem bandas do Estado

Manguebeat: Nação Zumbi encerra programação da sexta-feira - Foto: Divulgação Manguebeat: Nação Zumbi encerra programação da sexta-feira - Foto: Divulgação

Pense num rock demencial, plural, goiano: guitarras uivando sotaques distintos, ululando pesos, acentuando discursos. São mais de 50 artistas nesta 28ª edição do Goiânia Noise, festival símbolo da música independente que começa na vindoura sexta, no Oscar Niemeyer.

Como diria o lendário rocker carioca Celso Blues Boy: “subi o volume e o vizinho gritou/ aumenta que isso aí é rock and roll”. Já no primeiro dia, numa sonoridade pernambucana que revolta-se contra a lama e o caos, o público assiste ao show da banda Nação Zumbi, expoente daquela insurreição musical e estética surgida pelas noites recifenses, nos anos 90.

De lá, Chico Science, Lúcio Maia, Alexandre Dengue, Toca Organ, Canhoto, Gira, Gilmar Bola 8 e Jorge Du Peixe foram parar no mítico estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro. Ali nascia um som capaz de unir a energia fibrilante do rock´n roll à contestação discursiva do hip hop, o suingue dançante do funk aos ritmos pernambucanos, como maracatu, ciranda e coco – a isso, sabe-se, deram o nome de manguebeat e houve projeção internacional.

Tal trajetória será revisitada em Goiânia pelos músicos remanescentes. Como é notório desde 94, quando saíra o disco “Da Lama ao Caos”, o som dos caras virou sinônimo de brasilidade. Há absoluta sintonia com a geografia da fome teorizada por Josué de Castro, intelectual falecido no exílio parisiense, em 1973. Ou seja, para o Noise, esperamos interpretações em alta temperatura dos maiores clássicos dessa nação de zumbis – e, convenhamos, são muitos.

Nessa toada, antes de nos ajoelharmos sobre o mangue da Nação Zumbi, o palco passa a ser dominado pelo Francisco, El Hombre. O grupo acaba de anunciar (ok, talvez seja estratégia mercantilista, mas existe mal algum nisso?) hiato com o disco “Hasta el Final”, que preserva atmosfera à moda Carlos Santana, com suingue latino e letras furiosas – quem não lembra, por exemplo, dos versos alarmantes sobre um certo ex-presidente inclinado ao golpismo?

Com uma levada dançante evocando o hit-supremo “Oye Como Va”, canção gravada pelo roqueiro mexicano em “Abraxas”, de 1970, “Bolso Nada” se serve do panfletarismo para avisar acerca dos perigos em torno daquele antigo inquilino do Alvorada: “Se a um fascista é concedido cargo algo e voz viril/ Vai lucrar do desespero, tal loucura já se viu/ Bolso dele sempre cheio, nosso copo anda vazio/ Mesquinhez e intolerância, bolso nada que pariu”.

“Tocar agora num festival importante como o Noise vai ser um reencontro bonito e especial, vamos tocar músicas dos nossos três discos, queremos matar essa saudade!” Letrux, cantora e compositora

Isso mesmo: Francisco, El Hombre e Nação Zumbi ocorrem na sexta, primeiríssimo dia. Como de costume, o Noise traz, durante três dias, um line-up diversificado – com linguagens, sotaques ou pesos distintos entre si, do indie ao thrash, da psicodelia aos ritmos afro-brasileiros, do stoner rock ao rockabilly, do punk à disco music, do guitar rock a uma roqueiragem, digamos, mais tradicional. E todas as regiões brasileiras estão representadas.

Se Francisco, El Hombre e Nação Zumbi são as atrações mais importantes do line-up na sexta, Letrux, Carne Doce e Terno Rei levam uma sonoridade indie ao Noise. “Tocar agora num festival importante como o Noise vai ser um reencontro bonito e especial, vamos tocar músicas dos nossos três discos, queremos matar essa saudade!”, avisa Letrux ao DM.

Cena local

Além da abrangência territorial, neste ano, o Noise preserva o compromisso com a cena local. Tanto é que 12 artistas foram selecionadas para gravar um disco no estúdio a ser montado, entre sexta e domingo, no Oscar Niemeyer. Surgido em 2007, o Estúdio Noise, realizado neste ano em parceria com o Sesc Goiás, virou marca do festival goiano, uma vez que o público acompanha as performances das bandas ao longo do registro da música.

Entre psicodelia e punk, o festival se encerra com a banda Boogarins, no domingo, que faz parte da geração de ouro que saiu dos festivais da capital goianiense para impressionar o mundo. Ao lado do quarteto, pode-se colocar também a Carne Doce – cuja sonoridade é hiper gostosa, dançante e transante – como outra expoente da forte cena indie da nossa cidade. Mas o caso dos pós-tropicalistas goianienses é um pouco diferente: produzem um som tão original que é até difícil enquadrá-lo ao que é feito por aí.


		Goiânia Noise leva riffs de guitarra ao Oscar Niemeyer
Banda goiana Boogarins - Foto: Divulgação. Marcus Vinícius Beck

Falando das bandas goianas que marcam o line-up, os destaques – além de Boogarins e Carne Doce – vão para Violins, Mechanics e Terra Cabula. Apresentam-se ainda revelações, apostas ou veteranos como Spiritual Carnage, Red Sand King, Blowdrivers, Lâmpada Mágica, Fat Drive Factory, Ousel, Mundhumano, Vento Cobre, dentre outras.

Ao todo, são 23 bandas goianas no line-up, confirmando mais uma vez a característica do Noise de ser a maior vitrine da música produzida no Estado. Os ingressos estão à venda pelo aplicativo Bilheteria Digital e pela Monstro Discos, para sexta e sábado – domingo é gratuito, mas a Monstro informa que há necessidade de retirá-los pelo site. E diz ainda que tem opção de meia entrada solidária, com um litro de leite. Será encaminhado à OVG.

Veja a programação completa:

Sexta-feira, 12

00h45 - Nação Zumbi (PE) – Palco Palácio da Música

23h15 - Francisco, El Hombre (SP) – Palco Palácio da Música

22h30 - Krisiun (RS) – Palco Esplanada

22h00 - Mechanics (GO) – Palco Palácio da Música

21h30 - Devotos (PE) – Palco Esplanada

21h00 - The Mönic (SP) – Palco Palácio da Música

20h30 - Terra Cabula (GO) – Palco Esplanada

20h00 - Mundhumano (GO) – Palco Palácio da Música

19h30 - Urumbeta do Espaço (GO) – Palco Esplanada

19h00 - Black Lines (GO) – Palco Palácio da Música

18h30 - Cabrosa (GO) – Palco Esplanada

18h00 - Gladio Tempus (GO) – Palco Palácio da Música

Sábado, 13

00h45 - Terno Rei (SP) - – Palco Palácio da Música

23h15 - Letrux (RJ) - – Palco Palácio da Música

22h30 - Carne Doce (GO) - – Palco Esplanada

22h00 - YPU (DF) - – Palco Palácio da Música

21h30 - Nervosa (SP) - – Palco Esplanada

21h00 - Johnny Suxxx (GO) - – Palco Palácio da Música

20h30 - Dorsal Atlântica (RJ) – Palco Esplanada

20h00 - Lucas Hanke & Cromatismo de Sensações (RS) - – Palco Palácio da Música

19h30 - Los Clandestinos Trio (SP) – Palco Esplanada

19h00 - Buk (PA) - – Palco Palácio da Música

18h30 - Spiritual Carnage (GO) – Palco Esplanada

18h00 - Ousel (GO) - – Palco Palácio da Música

17h30 - Fat Drive Factory (GO) – Palco Esplanada

17h00 - Synx (GO) - – Palco Palácio da Música

16h30 - Vento Cobre (GO) – Palco Esplanada

16h00 - Sanguínea (GO) - – Palco Palácio da Música

Domingo, 14

22h45 - Boogarins (GO) – Palco Palácio da Música

21h15 - Rancore (SP) - – Palco Palácio da Música

20h30 - Violins (GO) – Palco Esplanada

20h00 - Maduli (GO) - – Palco Palácio da Música

19h30 - Blastfemme (RJ) – Palco Esplanada

19h00 - Red Sand King (GO) - – Palco Palácio da Música

18h30 - Galinha Preta (DF) – Palco Esplanada

18h00 - Blowdrivers (GO) - – Palco Palácio da Música

17h30 - Verbase (MG) – Palco Esplanada

17h00 - Lâmpada Mágica (GO) -- Palco Palácio da Música

16h30 - Teia (GO) – Palco Esplanada

16h00 - Uttara (GO) - – Palco Palácio da Música

28º Goiânia Noise Festival

12, 13 e 14 de abril

Centro Cultural Oscar Niemeyer

GO-020, km 0

R$ 100,00 (inteira)

R$ 50,00 (meia entrada)

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