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Arte urbana

Goiás terá circuito histórico sobre o hip hop

Mcs, rappers, breakers, grafiteiros e pesquisadores se uniram para resguardar a história do movimento no estado

Praça Universitária: grafites integram paisagem da região - Foto: Divulgação Praça Universitária: grafites integram paisagem da região - Foto: Divulgação

O hip hop é patrimônio imaterial da cidade de Goiânia. E neste sábado, 3, será lançado oficialmente o Circuito Histórico da Cultura Hip Hop, projeto que consiste em mapear lugares importantes do movimento em Goiás. O local escolhido para iniciar essa trajetória foi o Centro de Referência da Juventude - CRJ/Ponto de Cultura Hip Hop, localizado na Vila Morais, região leste da capital. O evento começa às 14h e vai reunir representantes da "velha escola" do hip hop goiano.

Ao todo, oito lugares fazem parte deste circuito nesta primeira fase do projeto. As cidades que receberão placas indicativas do circuito serão Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade e Senador Canedo.

De acordo com Allyson Garcia, doutor em História e autor deste projeto, a ideia de criar um circuito nasceu dentro da universidade, através de pesquisas acadêmicas. “Identificamos territórios transitórios que foram importantes para o fortalecimento e consolidação artística individual e coletiva. Nesse sentido, entendemos que esses territórios compõem lugares de memória da cultura hip hop", explica Allysson.


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Allyson Garcia, doutor em História: um dos autores do projeto. Foto: Alessandra Castro

A curadoria do projeto também elenca nomes importantes do movimento em Goiás, como a rapper e Mc Inà Avessa, o lendário Dj Fox, o b.boy e pesquisador BergKamp e a grafiteira Kaly. Para Inà Avessa, o hip hop passa por certos enfrentamentos para ocupar espaços culturais, e por isso o Circuito Histórico é importante para firmar as memórias das produções deste movimento em Goiás.

“É mais um recurso para garantir que a gente continue fazendo nosso trabalho. Utilizar os espaços e os aparelhos culturais da cidade são importantes para que a gente não fique marginalizado dos processos de construção da cultura do estado. Esses lugares foram muito pensados no sentido de que a gente precisa firmar a nossa presença, mesmo eles sendo representativos”, defende a rapper.

O projeto ao todo reúne 22 lugares catalogados, mas vai depender de questões financeiras para seguir adiante. “Sabemos que a memória é uma dimensão em disputa e conflito, por isso não deve-se entender que esses lugares são definitivos. A expectativa é seguir ampliando e registrando os espaços de memória que valorizem esse patrimônio cultural. É um trabalho que pretendemos dar continuidade, o que irá depender de financiamento”, diz Alysson.

Este projeto foi contemplado pelo Edital de Fomento ao Patrimônio Material e Imaterial do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2023.


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Beco da Codorna, Setor Central: fala por si só, graças ao trabalho de artistas. Foto: Divulgação

Contexto

O hip hop, para além de uma vertente musical dentro da indústria, é um movimento social, cultural, artístico, educativo e sobretudo político que emergiu, em meados da década de 1970, nos subúrbios do sul do Bronx, Nova York, a partir da busca por sobrevivência e como alternativa de lazer.

Com quase cinco décadas de sobrevivência no Brasil, o movimento Hip Hop, também apropriado e disseminado como cultura Hip Hop, está presente nas casas, ruas, bairros, parques, praças, vielas, centros, museus, feiras, centros culturais, universidades, e percorre toda a cidade.

A construção da cultura hip-hop em Goiás foi trabalhada através dos vários contatos, tanto locais, regionais, como nacionais e transnacionais. Em julho de 2020, o hip hop tornou-se patrimônio imaterial da cidade de Goiânia, o que ressalta a expressiva cena da cidade, que inclui rappers, dj´s, grafiteiros, locais de expressão nacional e projetos.


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Céu das Artes, em Trindade: lugar em que ocorriam bailes. Foto: Divulgação

Circuito histórico

Os locais selecionados foram: Feira Coberta da Cidade Vera Cruz (Aparecida de Goiânia), CÉU das Artes (Trindade), CRJ (Goiânia), Beco da Codorna (Goiânia), Praça Universitária (Goiânia), FORSEG (Senador Canedo), Martim Cererê (Goiânia), Castelinho do Lago das Rosas (Goiânia).

Cada local receberá placas com QRCode e app de acesso para mais informações sobre o hip hop goiano e, principalmente, sobre a manifestação cultural naquele local. As curadoras e curadores definiram os locais por um limite temporal, antes dos anos 2000 e após os anos 2000.


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Martim Cererê: ocorreram eventos épicos de break e rap. Foto: Divulgação

Antes de 2000:

Trindade - cidade onde ocorreram bailes dedicados exclusivamente ao hip hop com batalhas de break e alguns mcs lançaram as primeiras rimas, DJ Cenzala do Conexão Suburbana e seu irmão Chicão comandavam os eventos no Clube Social Feminino.

Martim Cererê - ocorreram eventos épicos de break e rap, por exemplo, o Goiás Capital do Break que rivalizava com a ideia de transformar Goiânia em capital country. Aluísio Black informa que foi no Martim que o grupo Alíbi de Brasília se apresentou pela primeira vez por aqui.

Aparecida de Goiânia - cidade onde floresceu um importante núcleo criativo da cultura hip hop, com b.boys e grupos de destaque na cidade e onde ainda hoje ocorrem um dos mais importantes eventos, os flash backs, que reunem DJs e dançarinos nos finais de semana.

Senador Canedo - onde em 1999 ocorreu o evento Lado leste contra o crime e desde então a cidade tem sido movimentada por artistas e agentes da cultura hip hop, em anos mais recente a Batalha da Cria é um ponto de convergência importante no estímulo criativo e renovação artística musical.


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Castelinho: espaço que carrega uma história de ocupação. Foto: Divulgação

Depois de 2000:

Castelinho e Praça Universitária - são dois espaços que carregam uma história de ocupação

e confluência de lutas estudantis e de manifestações artísticas e culturais. O castelinho tornou-se uma espécie de segunda casa dos grupos de break da cidade, sobretudo a Mega Break crew, importantes eventos foram realizados ali, destacando a força do break goiano. Já na universitária destaca-se a longa caminhada das batalhas de rap, primeiramente com os eventos organizados pela VMG, Praça é roça e atualmente com as Batalhas do Maranhas e as finais da Liga dos MC's, tanto que na última edição a ganhadora Kaemy foi para a Duelo Nacional e sagrou-se campeã.

Beco da codorna - o beco da codorna fala por si só, graças ao trabalho de pessoas como Bulacha e Aiog, só para falar de dois agentes, são muitas outras figuras envolvidas na transformação do espaço em uma imensa galeria de arte a céu aberto, ali grafiteiras e grafiteiros goianos e de outras paragens têm expressado um refinamento e uma criatividade incríveis, imprimindo beleza e colorida à vida do centro da cidade.

CRJ - por fim e não menos o importante o Centro de Referência da Juventude, um antigo hotel abandonado que havia se transformado em um mocó foi ocupado por agentes da cultura hip hop e hoje é sede do Centro de Cidadania Negra do Estado de Goiás, também é lugar da Escola da Federação de Break, é um centro de assistência social e centro cultural extremamente importante na região leste graças ao trabalho dos agentes da cultura hip hop, sobretudo de Aluísio Black. Enfim, é uma das casas de hip hop do Estado de Goiás, acolhe e contribui para formação e desenvolvimento.

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