Grito contra o preconceito na universidade
Redação
Publicado em 4 de maio de 2016 às 00:43 | Atualizado há 4 meses
Há algumas semanas o caso de um professor que caminhou em um corredor abaixo de vaias fortaleceu as discussões de racismo e outras formas de preconceito dentro da universidade. O palco foi a Faculdade de Educação da UFG.
A partir desse episódio, da reação dos estudantes e discussões posteriores um ato foi organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Psicologia. O Ato Contra o Racismo, Machismo e LGBTfobia No Campus, que se concentrará no pátio da Faculdade de Ciências Sociais, no campus samambaia.
O texto do evento resume o episódio considerado preconceituoso e ofensivo pela comunidade estudantil. “No dia (14/04) um professor do 1º período de psicologia deu declarações racistas em sala de aula, sendo inflexível ao debate com os alunos. Em resposta, alunos da Faculdade de Educação fizeram uma intervenção após a sua aula, gritando “racista” enquanto o acompanhavam até a saída. O professor assimilou a “diminuição do rendimento dos alunos” à política de cotas raciais, gerando indignação dos estudantes, principalmente dos negros”.
Na mesma página ainda seguem os desdobramentos do ocorrido e as discussões que levaram a criação dessa manifestação. Inclusive outras pautas ligadas à opressão de minorias sociais entraram no contexto: “Três aulas já haviam sido dadas, e em todas declarações machistas e lesbofóbicas também já haviam sido dadas, sem nenhum contexto. Após a publicação do vídeo, alcançando mais de 60 mil visualizações, declarações racistas tomaram conta dos comentários, incluindo vários alunos da UFG. O professor voltou a FE para uma conversa com os alunos e continuou inflexível e não se redimiu, enquanto a diretoria da unidade se posiciona a favor dos alunos. A denúncia já foi formalizada e os alunos conversarão pessoalmente com o Reitor no dia do ato. Essa mobilização se torna importante pois o preconceito também acontece em outras unidades e não recebe reação dos alunos. Esse ato é a favor de uma Universidade sem Racismo, Machismo e LGBTfobia”.
Relato do episódio
Um relato de um estudante que acompanhava a aula foi divulgado na página do Centro Acadêmico de Psicologia. “Na ultima quinta-feira, dia 14, eu passei por um dos piores momentos da minha vida. Hoje, com a cabeça mais fria e com a consciência de tudo o que ocorreu, posso relatar e me posicionar em relação ao ocorrido. Sempre achei que nunca tinha sofrido racismo. Que a única forma de se ser racista era ofender negros com palavras baixas e com violência física. Como estava enganado”.
O estudante ainda conta episódios anteriores que culminaram no ato de revolta nos corredores da universidade: “Ao longo de três aulas, vivenciei cenas de preconceito que deixaram todos os alunos (me incluindo) revoltados com as falas e atitudes do professor. tentamos, ao longo dessas aulas, conversar educadamente com ele, mas ele nunca saiu da posição de ataque ofensivo às minorias sociais/psicológicas presentes na fala. Falas que, a meu ver, não tinham outro intuito a não ser o de ofender e oprimir, visto que não acrescentavam NADA ao conteúdo das aulas.”
A postura imprópria do professor envolvido já era discutida pelos alunos, que decidiram como ato simbólico deixar de assistir suas aulas. “Diversos alunos se mobilizaram para boicotar a aula do professor, entendendo que os ataques estavam se torando prejudiciais ao aprendizado e que a melhor solução era a de se opor às opressões. Eu decidi ir à aula”.
Em resumo o relato demonstra a atitude exata do docente: “O professor associa o fato da suposta incapacidade de seu aluno, às politicas de ações afirmativas da UFG, especificamente da política de cotas raciais. O nojo palpável em sua voz me deixou revoltado. Decidi pegar meus materiais, sair da sala e procurar a coordenação do curso”.
“Estamos nos organizando para realizar ações sistemáticas de combate ao racismo. E também para abrir processos contra o professor e suas atitudes. Diversos casos envolvendo ele estão brotando pelas redes sociais. Ou seja, é uma situação que além de apoio merece investigação e punição”.
A instituição dentro desse processo
A Professora de Jornalismo, Luciene de Oliveira Dias, responsável pela CAAF, Coordenadoria de Ações Afirmativas, falou sobre o caso. A docente diz que a UFG enquanto instituição tem como política a inclusão, que se instalam através de programas como o UFGInclui. Um programa que designa cotas sociais e raciais em todos os seus cursos. Luciene diz que “A universidade não é uma bolha” e que posturas ideológicas diversas são expostas a todo momento. Mas no caso de tal postura ferir os princípios de respeito à diversidade, como no caso citado no começo da reportagem, a universidade precisa tomar medidas.
De acordo com a docente no caso de uma denúncia desse tipo chegar a UFG, através da ouvidoria, diversas medidas podem ser adotadas. Tais como processo administrativo, ou uma carta pública de desculpas. De acordo com os organizadores do evento uma denúncia formal contra o professor da FE já foi protocolada. No entanto a Assessoria de Comunicação da UFG afirma não ter nenhuma informação sobre o caso.
A reportagem também entrou em contato com a Ouvidoria da UFG. Questionada sobre a incidência desse tipo de denuncias envolvendo casos de racismo e discriminação, o órgão foi evasivo em sua resposta, apesar de ser uma instituição de educação pública, dizendo que essas informações eram sigilosas e que só correm no âmbito interno da universidade.
A UFG como instituição de educação constantemente promove debates e outras atividades sobre temas de inclusão das minorias ideológicas. Porém casos como este demonstram que nem só com eventos assim se combate o preconceito na universidade.
Ato contra a intolerância: Da cidade para dentro da universidade
Neste último sábado, dia 30 de abril, aconteceu em Goiânia e em diversas cidades brasileiras a Marcha Antifascista. As pautas deste ato foram muito semelhantes à desse que ocorrerá dentro da Universidade Federal de Goiás. A Marcha nacional se organizou a partir da demanda de coletivos que sentiram um aumento considerável de atitudes de intolerância a diversos grupos, principalmente dentro das manifestações políticas contra o governo em específico da parcela a favor da intervenção militar.
Os integrantes da Marcha deixaram claro que o intuito de seu ato não era apoio a nenhum partido, mas repúdio as intolerâncias disfarçadas de consciência política. Durante o ato o grito mais recorrente eram os de defesa contra atitudes de preconceito e intolerância. “Machistas… Racistas… Não passarão”.
Para ilustrar tais atos de intolerância, combatidos na Marcha Antifascista, pode-se lembrar de um caso simbólico, o ataque de manifestantes “contra a corrupção” à uma manifestação de mulheres negras. O caso de violência começou quando a Marcha das Mulheres Negras passava em frente ao Congresso. Segundo relatos, o grupo pró-intervenção militar teria iniciado uma série de ataques racistas contra as manifestantes.