Cultura

“Hard and Clean”

Redação DM

Publicado em 3 de maio de 2017 às 21:30 | Atualizado há 8 anos

Você deve achar absurdo uma casa com tijolos à mostra, concreto sem alguma demão de tinta sequer, canos expostos. O leitor deve estar pensando: “Esta casa não recebeu acabamento”. Calma, nobre leitor. Esta é uma das principais características do estilo arquitetônico industrial, que está voltando com força para a casa dos brasileiros. Certamente você já entrou na sala de estar da casa de algum colega e ele lhe ofereceu assento numa almofada sobre palets, esta é uma das heranças da quarentona arquitetura industrial.
A Arquitetura Industrial nasceu nos Estados Unidos, por volta dos anos de 1970, quando a cidade de Nova York teve mais um “boom” de crescimento, forçando as fábricas a se afastarem dos centros urbanos, deixando para trás seus galpões gigantescos, que, posteriormente, foram ocupados pela crescente população nova-iorquina. Por se tratarem de moradores com menor poder aquisitivo, as reformas realizadas nestes galpões para adaptá-los para moradia dispunham de um orçamento muito baixo. “Melhor uma parede descascada, com tijolos à vista, do que uma pintura velha e gasta”, devem ter pensado os nova-iorquinos. Então, descascavam as paredes, expunham os tijolos, as tubulações, o concreto. Aqui, o que por muitos é considerado feio, é realçado e usado a favor da decoração do ambiente.
Caixas de frutas pregadas na parede servem de estantes para livros, e também para aquela escultura em miniatura que um amigo trouxe do Peru. Aquele carretel de cabo de aço, acredite em mim, vai ficar lindo como mesinha de centro, sério! No lugar de um guarda-roupas imenso, que não vai dar pra montar novamente na próxima mudança, pode ser substituído por uma arara. E não precisa gastar uma grana alta com uma novinha não. Usando a criatividade dá pra confeccionar a sua própria arara com canos metálicos. O metal e a madeira em sua forma mais rústica são dois elementos fundamentais para elaborar um ambiente em estilo industrial. Elementos pesados para um ambiente leve e espaçoso.
A arquiteta Mariela Romano sugere que as peças rústicas características do estilo industrial sejam combinadas com elementos mais leves e contrastantes, em tons acinzentados, como o exemplo do estande montado por ela no Armazém da Decoração, na Rua 90, Setor Sul. Mariela Romano segue um estilo mais clássico, e aposta em ambientes menos carregados e elementos rústicos. A arquiteta ainda salienta que em salas comerciais o estilo arquitetônico pode ser usado de maneira mais profunda do que numa residência, e acredita que, por ser um ambiente mais simples, aparentemente mais fácil de cuidar, atrai bastante o público masculino, apesar de haver certa procura por parte de clientes mulheres.
“Na arquitetura industrial, buscamos elementos mais simples, mas que se tornem os elementos principais da decoração. Ao invés de esconder uma tubulação, por exemplo, a ideia é ressaltá-la e fazer dela uma obra de arte”, afirma Mariela.

Arquitetura Industrial sustentável

Já sabemos que o ponto-chave do estilo industrial, bem como suas origens, é gastar o menor valor possível numa reforma e decoração. Já ouviram um dizer popular que “a falta de dinheiro gera criatividade”? Pois bem, é aqui que entra o “faça você mesmo”, aliado à sustentabilidade. “Mas, como assim, Khryst?” Vamos lá, leitor. Quando a arquitetura industrial surgiu, não apenas a estrutura física dos antigos galpões era mantida, mas também objetos deixados para trás pelos operários, como palets para suporte e transporte de equipamentos e produtos pesados, caixas de madeira, carretéis de cabo de aço, quadros negros que eram utilizados para anotações e desenvolvimento de planos de trabalho. Isso tudo passou a ser incorporado pelos moradores na decoração da casa. Quem diria que um latão de lixo, limpo e com uma boa demão de tinta poderia servir de mesinha de cabeceira?
A sustentabilidade passou a ser exercida pelos nova-iorquinos, mesmo sem querer, sem consciência do que estavam fazendo. Em Goiânia achamos um cantinho na Rua 87, também no Setor Sul, chamado Pictoresco. O negócio familiar conta com a mão de obra e o senso estético de Luciana, Salomão, Salomão Júnior, Elenita e Eneida Reis. Lá é produzido um leque gigantesco de móveis, utensílios domésticos e objetos decorativos, todos a partir de objetos encontrados no lixo, especialmente madeira. Praticamente nada da matéria prima é comprada, ao contrário, são recolhidas em entulhos, o que barateia ainda mais o valor dos objetos comercializados pela família.
Pequenas grandes coisas que chamam a atenção: uma luminária cuja estrutura base são partes de pinos intramedulares (aquelas armações de ferro acopladas em pernas e braços com fraturas graves); do outro lado da sala, um pequeno tronco de árvore sustenta outra luminária que, segundo contam os proprietários, foi recuperada dos entulhos do Aeroporto Santa Genoveva, aqui na Capital. Lá na frente, em outro quartinho, dona Eneida Reis trabalha num mosaico feito com casca de ovos.
A matéria-prima que sai do lixo de construções, árvores derrubadas pela prefeitura e restos de feira vira uma mesa de jantar com adega embutida, um rack para televisão, um suporte para xícaras, um relógio, suporte para livros, porta-retrato. Uma imensidão de possibilidades a partir de um amontoado de madeira descartada. Luciana Reis, uma das proprietárias, afirma que, apesar do pouco tempo de funcionamento do estabelecimento, já pôde sentir o grande interesse dos goianienses para esse tipo de decoração.
Partindo destas perspectivas, exercendo a criatividade e a capacidade do trabalho manual, natos a qualquer ser humano, o leitor já sabe o que fazer e por onde começar. Seja na hora da reforma, quando a grana começar a faltar, ou, ainda, quando bater aquela vontade de mudar a cara da sala de estar, da noite pro dia, sem comprometer o orçamento no fim do mês. Estilo e bom gosto casados com a sustentabilidade.

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