Jardim Europa: um dos efeitos da ‘Goiânia desconexa’ dos anos 1950
Diário da Manhã
Publicado em 5 de abril de 2016 às 02:13 | Atualizado há 4 meses
Existe uma justificativa por trás do nome do Jardim Europa, bairro extenso e populoso da região Sudoeste de Goiânia. Um dos proprietários do loteamento que a ele deu origem, o alemão Ewald Janssen, foi também o responsável pela topografia do setor. O Jardim Europa possui várias ruas e avenidas espaçosas, nomeadas a partir de países e cidades do continente de Ewald Janssen, a Europa: Avenida Itália, Avenida Inglaterra, Rua Dinamarca, entre outras. Janssen chegou a Goiânia em 1949, durante o governo de Coimbra Bueno. Nos anos 1950, foi contratado por Pedro Ludovico Teixeira e encarregado de projetar alguns bairros da capital. Ele foi responsável por projetos como o do Setor Aeroporto.
Na tese ‘Goiânia Metrópole: sonho, vigília e despertar’, desenvolvida pelo historiador Wilton de Araújo Medeiros em 2010, podemos conhecer um pouco mais de sua história. Segundo o autor, os projetos de Janssen mostravam preocupação com os problemas urbanos e propunham soluções, o que contrastava com a ideia simplista e funcional de outros projetistas. Quando Pedro Ludovico Teixeira voltou ao governo do Estado, em 1951, viu-se na necessidade de reorganizar a cidade, que à medida de seu crescimento tornava-se “desconexa”. Segundo o autor, Goiânia foi “realizada entre grandes hiatos urbanísticos e efetuada por múltiplos atores, resultou em uma cidade desconexa durante os anos de 1950”.
Ainda segundo Wilton de Araújo Medeiros, a passagem de Janssen por projetos de loteamentos de Goiânia representa algo completamente isolado, de um momento único, tendo em vista que antes e depois dele as preocupações do poder público eram outras. “Ewald Janssen aparece como um personagem absolutamente deslocado em relação à maioria das pessoas em Goiânia no que se refere à sua prática com urbanismo, já que procurava soluções para os problemas urbanos em um período em que essa não era uma questão prioritária no contexto geral, senão para alguns, como no caso da preocupação esboçada por Pedro Ludovico, ao retornar ao Governo do Estado, em 1950”.
Consolidação
O projeto do Jardim Europa foi aprovado em 1956, bem antes de que o setor pudesse ser visto na configuração que se encontra atualmente. Dentre os vários momentos de sua habitação, o Jardim Europa teve no início uma ocupação popular às margens do Córrego Macambira. Os primeiros compradores de lotes começaram a chegar nos anos 1970, a maioria atraídos pelo tamanho extenso das propriedades, que surgia como uma promessa de qualidade de vida a longo prazo. Nessa época a natureza vasta da região possibilitava aos primeiros moradores o usufruto do córrego e de frutos do cerrado. O visual ermo do bairro passou por uma mudança radical durante os anos 1980, quando sua ocupação foi intensificada.
Nos anos 1990, mesmo com a crescente valorização dos imóveis do Jardim Europa, vários problemas com infraestrutura ainda preocupava os moradores. Isso começou a mudar aos poucos. A mudança da sede da Associação Brasileira de Odontologia para a Avenida Itália em 1994, juntamente com seus investimentos, impactou diretamente na urbanização da via, que hoje conta com uma movimentada pista de cooper, que serve de ponto de saúde e lazer para os moradores da região. Outra instituição que escolheu o bairro para construir sua sede foi a Loja Maçônica Arca Real, na Rua Galileu em 1996, assim como o Condomínio Solidariedade, na Avenida das Bandeiras, que presta auxílio a portadores de HIV desde 1993.
Outra melhoria presenciada pelos moradores foi a reforma do Terminal Bandeiras, concluída em 2010. O terminal é um dos mais movimentados da cidade, e liga vários bairros da região Sudoeste às outras regiões, não só de Goiânia, mas também de sua vizinha, Aparecida. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, o Jardim Europa possui cerca de 37 mil moradores, o que coloca-o como um dos mais habitados de sua região. Atualmente observa-se que a cidade já cresceu, e continua ainda a crescer, para além do setor. Depois do córrego Macambira já existe muita Goiânia, tanto em forma de bairros, como de parques, prédios e condomínios de luxo – com espaço para alguns pastos, cada vez mais raros.