Cultura

Julgamento de Joana D’Arc

Diário da Manhã

Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 20:42 | Atualizado há 4 meses

Ela está presente de forma massiva na cultura ocidental. Seu nome é perpetuado em crianças de todas as gerações, em nomes de ruas, igrejas e estabelecimentos comerciais. As realizações emblemáticas da jovem Joana D’Arc criaram em volta de sua aura muitos mitos e especulações. Hoje é considerada uma das mais importantes e heroicas figuras da França, bem como exemplo de força e resistência das mulheres. A data de hoje marca o início de seu julgamento diante das forças da inquisição da Igreja. A tortura de Joana D’Arc encontra-se documentada em filmes, livros e canções de várias partes do mundo.

A guerreira é considerada ainda o principal símbolo de resistência do país durante o período da Guerra dos Cem Anos, quando seu país estava em domínio de forças inglesas. A jovem Joana, considerada a filha do povo, alcançou o cargo de chefe militar durante o período de batalhas. Pelo fato de ser mulher, foi presa, humilhada, torturada e interrogada por um tribunal eclesiástico inglês. Teve seu nome ligado ao ocultismo e à bruxaria para que sua execução fosse burocratizada.

Joana afirmou ao tribunal que agia de acordo com as vontades de Deus ao defender o povo francês em uma causa considerada nobre. Como em política internacional a situação determina as regras, Joana foi acusada de blasfêmia e queimada viva quando tinha apenas 19 anos. O dia 30 de maio é reservado pela Igreja Católica para a festa lutúrgica de Joana D’Arc. É também a data de morte dela. Joana foi canonizada no dia 16 de maio de 1920, quase 500 anos após sua execução, e é considerada a Santa Padroeira da França.

História

De origens simples, a intelectualidade não era a especialidade da guerreira. Joana D’Arc não sabia ler. Sonhava com seu país livre, contestando religiosos nos tribunais inquisitórios opressivos da Inglaterra. Na literatura, já foi chamada de bruxa em Shaekespere e ridicularizada em Voltaire. Sua história sobrevive na cultura mundial há quase 600 anos, o que faz com que muito do que se sabe sobre ela seja influenciado por vários momentos culturais da humanidade. Acredita-se que o símbolo Joana D’Arc tenha sido manipulado várias vezes de acordo com os interesses da nação francesa.

No artigo ‘Joana D’arc entre a história e a literatura’, de Júlia Matos, professora da Universidade Federal de Rio Grande, a autora explica parte da mística que envolve a tão conhecida imagem da guerreira. “O mito da jovem virgem que surgiria entre camponeses para guiar os exércitos franceses contra os ingleses, até alcançar a vitória e a coroação do Delfim Carlos em Reims como Carlos II, faz parte não apenas da mentalidade popular como da própria história da França”. A imagem mítica de Joana serviria como símbolo de união nacional, legitimado por atitudes heroicas em prol da nação.

Há várias dissonâncias entre as interpretações heroicas de Joana D’Arc. A literatura, a partir da década de 1920, quando ela foi transformada santa, divide-se em falar de sua história religiosa ou sua história nas guerras. Júlia Matos cita o exemplo do escritor Érico Veríssimo para exemplificar as apropriações da história de Joana. “Veríssimo, assim como Michelet, deixou de lado o imagem de santa da jovem Joana e colocou-a no centro da história como propulsora e testemunha das atrocidades acometidas pelos governos de sua época”.

Martírio

Os últimos momentos da vida de Joana D’Arc foram mostrados no cinema no ano de 1928, pelo cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer, em seu último filme mudo. O diretor é bastante cultuado no meio cinematográfico por seu primor estético e por tratar de temas delicados envolvendo a Igreja Católica. Em ‘O martírio de Joana D’Arc’, título dado ao filme, o diretor Dreyer inspirou-se nos manuscritos oficiais do julgamento da histórica heroína da França, diferente de outras representações artísticas menos fiéis e mais emocionais e literárias.

De 1929 para cá, o filme foi alvo de várias tentativas de censura, tendo sido aprendido em várias ocasiões. Várias cópias do filme foram permanentemente destruídas. A restauração foi difícil, e baseou-se na comparação de algumas cópias e negativos preservados. A produção vem sendo considerada uma das mais importantes da história do cinema desde seu lançamento, em 1928. A revista Sight & Sound,da Inglaterra em sua lista de melhores filmes de todos os tempos, posicionou o filme na décima segunda colocação.

A atuação da atriz que representa Joana é outro ponto do filme muito lembrado em debates sobre cinema, como comenta o usuário Gustavo Martins, da rede social Filmow. “Maria Falconetti. com seu intenso desempenho emocional, e dona de um olhar expressivo, consegue com maestria transmitir todas as gamas de sentimentos de sua personagem de fé inabalável”. A filmografia de Dreyer conta com ‘A palavra’, de 1955, que conta a história da volta de Jesus que é confundido com um louco. A inquisição também é tema de ‘Dias de Ira’ de 1943.


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