Labuta cotidiana
Redação
Publicado em 8 de março de 2016 às 23:36 | Atualizado há 9 anos
O dia da mulher não foi originado de uma vontade da humanidade em homenagear a ternura maternal feminina, é referente a um processo de luta, e de luta operária. Um marco da história da mulher, que foi jogada ao mundo do trabalho, não por seus anseios de liberdade, mas por uma necessidade do capital e teve que entrar sendo mais explorada e em condições mais degradantes do que já eram as dos homens.
Ganhar desconto em cosméticos essa semana não passa nem perto de trazer satisfação a luta feminista. Uma marca famosa de cosméticos por exemplo está dando 20% de desconto em qualquer produto cosmético que seja cor-de-rosa, é isso mesmo. Lutar pra quê? Vamos aquecer o mercado de consumo e nos travestir da doçura rosa que teimam afirmar que nos pertence. Nada contra descontos, mas esse dia merecia ser ligado a uma simbologia mais forte.
Um dia pra lembrar que as lutas e conquistas das mulheres só podem caminhar pra frente em todo o mundo.
Dia 8 de março, dia de luta
Vamos começar pela história do primeiro dia da mulher celebrado no mundo, que aconteceu nos Estados Unidos. Comecinho do século XX, 1500 mulheres se juntam a um protesto por igualdade econômica e política, ano seguinte ressurge um ato que reune mais 3000, aó que dia 28 de fevereiro. Esses protestos chegaram a fechar 500 fábricas nos EUA.
Mas o 8 de março mesmo apontou só lá na primeira guerra. Quase 100 mil operárias russas entraram em luta no ano de 1917. A luta dessas treabalhadoras era contra a fome, as condições de trabalho e a participação da Rússia na guerra. Mas oficial mesmo a data só se tornou em 1921 e para ONU reconhecer, vixe, só no final da década de 70.
Então é isso, não é dia de ganhar rosas, é um dia que marca episódios de luta.
“O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países”, explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela UnB.
É fácil de observar que as estruturas das famílias vêm se modificando radicalmente. Aquela figura de homem provedor é uma ideia que aos poucos deixa de existir no mundo real. No ano passado 40% das famílias brasileiras eram “chefiadas” por mulheres, ou seja elas são a referência de suas casas.
Apesar disso, das mulheres terem que desempenhar papéis iguais na vida familiar, as diferenças salariais entre os sexos ainda existe. As mulheres ganham em média R$ 500,00 a menos que homens (dados do IBGE). E tem outra, em relação aos postos de trabalho, a relação das empresas com a mulher é mais frágil, ou seja ela tem menos estabilidade no emprego.
Outros números interessantes são que 10 milhões a mais de mulheres (em relação aos homens) tem uma jornada dupla de trabalho, ou seja além de um emprego remunerado ainda são responsáveis pelo trabalho doméstico. Mais de 90% das mulheres correm uma jornada dupla cotidiana. Ainda tem a discrepância no número de horas dedicados a esses afazeres, pra elas 21 horas semanais, em média, pra eles menos da metade, apenas 10 horas.
Um relato sobre todas nós
Essa história é de apenas uma “chefe” de família, mas milhares de mulheres se identificariam com esse cotidiano. Mônica Inácia de Oliveira, 41 anos. “Tenho dois filhos um de 16 e outra de 10, atualmente trabalho de cozinheira numa clínica de odontologia das 07:30 as 17:30. Saio de casa todo dias as 05:30, pra conseguir estar no trabalho nesse horário, quando chego cansada em casa por volta das 19:00 tomo banho e pego na costura numa facção de malha até a meia-noite. Faço isso de segunda a sábado, aos domingos trabalho em um buffet infantil. Faço tudo isso para ver se consigo reestruturar minha casa, que na verdade é emprestada, pois mesmo trabalhado em 3 empregos não conseguiria pagar aluguel, colocar alimento e pagar despesas.
Mônica prossegue seu relato: “Tudo isso porque separei do meu marido há 3 anos. Vivia com ele no exterior, mas as coisas por lá estavam difíceis e acabei voltado para o Brasil para tentar uma vida melhor. Voltei bem naquela época que a Europa estava em decadência e não tinhamos emprego. Para não ver meus filhos passando fome tive que retornar, desde o ano de 2013 comecei ser a chefe de família. Além de supervisionar, educar e dar carinho aos meus filhos sou a responsável pelo futuro deles por isso me desdobro em três para dar o mínimo de conforto possível”.
A labuta feminina é dura. A guerra é contra o tempo, contra o cansaço, contra a violência nas ruas e dentro de casa, contra os olhares de julgamento, contra as injustiças salariais, contra os abusos impostos a seu corpo e sua mente. Que esse 8 de março traga força pra resistir e lutar à todas as trabalhadoras do mundo.