Maio e a faísca revolucionária
Redação DM
Publicado em 10 de maio de 2016 às 02:37 | Atualizado há 7 meses
Será que existe um brilho diferente no mês de maio? Não um brilho suave e solar, brilho de chama, de fogo, de subversão. Os exemplos na história são muitos: Comuna de Paris, que não deflagrou em maio mais teve seu ápice nesse mês, assim como o Maio de 68, que começou com protestos estudantis (será isso um indício do que há por vir?) e viajando um bocado no espaço tempo, o maio de 2013 em Goiânia. Todas estas um grito popular.
Revolução crioula
Saindo um pouco do campo das revoluções de cunho popular temos a Revolução de Maio de 1810, na Argentina. Na real o que hoje é a Argentina pois nesse período era o Vice-Reinado do Prata. Claro que essas insurreições de independência o ponto de conflito era o controle do comércio.
Os acontecimentos que colocaram lenha naquele maio de 1810, partiram de uma discussão em 22 de maio, o Cabildo Aberto (uma espécie de conselho político estendido a um pequeno grupo). Na ocasião parte manifestava a necessidade de proclamar a independência da Espanha e criar uma nova nação independente tanto econômica quanto politicamente. Parte, ala conservadora, insistia na necessidade de continuar sob o mando espanhol, visto que a Europa estava em frisson com as guerras de Napoleão, desculpa pra manter privilégios. E tinha a galera do “deixa disso”, que defendia “Vamos pedir nossa independência quando a Europa resolver as tretas dela, não vamos incomodar agora”.
Os “criollos”, descentes de europeus nascidos na Ámerica, estavam certos depois de toda a estabilidade política na europa que poderiam governar sem o velho continente. Em algum momento sempre surge fogo e quem acendeu o pavio foram os chisperos(soltadores de faísca) como Domingos French e Antonio Beruti, integrantes da chamada legião infernal. Junto com a faísca estavam os quartéis, o comércio e parte do povo, e já não dava pra segurar por muito tempo, até que o tal Cabildo reconheceu a autoridade da junta revolucionária “criolla” no dia 25 de maio de 1810.
Autogestão operária
Voltando aos gritos populares, a Comuna de Paris. Essa revolução também está ligado ao sempre “tretoso” Napoleão Bonaparte. Dessa vez Napoleão perdeu, “ô, que chato” para a Prússia. Isso em 1871, Paris cercada pelo exército prussiano, clima de tensão política, pressão sobre os operários, revolta popular engatilhada.
Jacobinos (a galera que na revolução liberal francesa defendia posições mais radicais e esquerdistas) e socialistas aproveitaram aquela instabilidade toda e fundaram um novo governo, a Comuna de Paris. Os motivos da revolta: Domínio absoluto da burguesia parisiense sobre os trabalhadores, condições de trabalho desumanas e o governo tentando jogar aos operários as dívidas da guerra.
As medidas do novo governo revolucionário eram no sentido de melhorar a condição da vida dos trabalhadores. E disso eles instauraram: Um estado laico, remuneração mínima aos trabalhadores, proteção contra o desemprego, autogestão das fábricas pelos operários, habitação popular e ensino público.
Infelizmente o maio da Comuna não veio com vitória, mas com muito sangue. O governo revolucionário, iniciado em março, foi ao chão com a resposta violenta da alta burguesia. Resguardado por um aparato militar e policial, destribuindo violência sobre os revolucionários, matou e prendeu as lideranças e em 28 de maio de 1871 retomaram o poder.
Estudantes e trabalhadores unidos
Andando um pouco na nossa história, o século XX, Maio de 68. E o fogo começa com revolta estudantil por melhorias na educação, (se não me engano está acontecendo algo semelhante, se a revolução for instaurada por aqui até o fim do mês escrevo outro texto). Pois bem, 68, começou com estudantes mas evolui pra greve geral de trabalhadores.
Com a ameça de expulsar estudantes e fechar escolas, começou uma revolta com direito a batalha campal e tudo. Fogo e barricada nas ruas francesas. Os estudantes em manifestação sofreram uma forte repressão, mas resistiram madrugadas inteiras contra o ataque policial.
No ápice do movimento, quase dois terços da força de trabalho do país cruzaram os braços, isso quebrou as pernas do governo na época que se viu obrigado em um 30 de maio a convocar novas eleições. Com uma bela de uma manobra política e promessas vazias o governo contornou a situação e conseguiu eleger um aliado e tudo seguiu na santa paz do controle do Estado.
Goiânia por direito ao acesso a cidade
Um pouco mais perto, pensando bem, logo ali, maio de 2013. Capital do estado de Goiás, Goiânia, manifestações por transporte público apresentando alto nível de combatividade. Na época a passagem subia de R$ 2,70 para R$ 3,00 (agora estamos em R$ 3,70).
A Frente Contra o Aumento da Passagem organizava as manifestações de rua, que por iniciativa popular se desdobraram em outras ações. As manifestãos se deram por conta do valor da passagem, a baixa qualidade do serviço e a obscuridade dos contratos de concessão de transporte público em resumo a restrição do povo ao acesso de sua cidade. Tudo isso somou-se a uma greve dos motoristas de ônibus em maio de 2013.
O texto de uma das convocatórias para os atos em defesa de um real transporte público dizia: “Nós da Frente Contra o Aumento chamamos a todos os usuários para se organizarem e lutarem contra mais esse aumento abusivo da tarifa! Manifestações, bloqueios de rua, paralisações de terminal, pular catracas, panfletagens e mais todas as ações necessárias que demonstrem a força, a conscientização e a luta dos usuários!
Nem só os atos de rua organizados fizeram parte desse momento, mas também manifestações espontâneas espontâneas em bairros e terminais de ônibus. Em um 8 de maio a Frente Contra o Aumento levou centenas de populares as ruas de Goiânia, mais de 800 pessoas e após a data os atos continuaram. Desses protestos a revogação do aumento da passagem foi conquistada pelos manifestantes.