Home / Cultura

Artes visuais

Marcelo Solá volta a montar exposição individual em Goiânia, no CCUFG

Mostra fica aberta ao público até o dia 11 de agosto. O horário de visitação é de segunda a feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h

Público admira cores inquietantes de Solá na abertura da exposição, na quinta, 15 - Foto: CCUFG/ Divulgação Público admira cores inquietantes de Solá na abertura da exposição, na quinta, 15 - Foto: CCUFG/ Divulgação

Foram cinco anos sem individuais em Goiânia. Mas Marcelo Solá, sorte a nossa, traz ao CCUFG desde quinta,15, os desenhos inéditos do gabinete vermelho. Com obras que estabelecem conexões entre a urbanidade e as culturas populares do interior goiano, o artista visual expõe desenhos, pinturas e instalações. São mundos inventados e cores inquietantes, arquiteturas chapadas e construções abstratas. Uma renúncia à fórmula.

Também, pudera: Solá pesquisa arte naïve, debruça-se sobre o underground, procura entender arte popular. Toca a editora Hidrolands Grafisch Atelier, que já lançou livros de poesia visual, prints e serigrafias. O primeiro título publicado, “Das Cores ao Século 21: Uma História do Movimento Pós-Punk em Goiânia”, foi escrito por Jadson Jr. Ao se valer do rigor nas informações apuradas, Jadson reconstruiu a cena roqueira goianiense dos anos 1980, num trabalho de grande envergadura, enorme fôlego textual e alta relevância documental.

Uma das obras - meio concretista e por vezes leminskiana - mais interessantes da Hidrolands atende pelo nome de “Os Tesouros do Pilgrim Gabinete de Desenho”. Assinado pelo próprio Solá, ao longo de trezentas e tantas páginas, desfilam aos olhos do leitor poesias, desenhos e fotografias, como numa miscelânea de linguagens artísticas. São frases sintéticas, como a “depois da porta, a pedra, o gelo”, ou “pegue livros de nuvens e cole barbatanas de peixes”. Lembra o poeta Paulo Leminski: “palpite o grafite é o limite”.

Quem também publicou pela editora solaniana foi a poeta Tarsilla Couto de Brito. Sem exagero, trata-se de livro que arejou a literatura goiana, ao unir refinamento literário da autora (inspirado em “A Tabacaria”, de Álvaro de Campos) com projeto gráfico capaz de dar conta da “Mulher Sem Metafísica”. Neste ano, perseguindo o mundo dos versos e métricas, o poeta Walacy Neto lançou, pela Hidrolands, a obra “Oco”. O título veio ao mundo, na condição de importante novidade, durante a Feira de Arte de Goiás (Fargo).

Em duas ou três ocasiões, Marcelo Solá confessou ao DM que a literatura lhe é um amor. O artista possui olhar apurado para captar escritas sinceras e estruturas visuais transmutáveis. Como tem espírito colecionador, frequenta lojas especializadas em materiais encalhados, a exemplo de esmalte sintético, pastel seco, óleo, spray e papéis para que, sabe-se lá, talvez sejam usados um dia. Solá gosta de ver as matérias-primas de seus futuros desenhos com o verniz do tempo após anos guardados em seu ateliê, na cidade de Hidrolândia.

Diferentes texturas

Segundo a crítica de arte Daniela Labra, curadora de exposição montada ano passado por Solá na galeria brasiliense Index, alguns títulos do artista surgem antes dos trabalhos se materializarem, gerando obras a partir de um enunciado. Ela explica ainda que as referências do goiano, que vão de Mira Schendel e Cy Twombly a Basquiat, Bispo do Rosário, Leonilson, arte bruta, naive, pixo e grafite, motivam a “profusão, em camadas de diferentes texturas, de grafismos inconformistas que desrespeitam as regras harmônicas do acabamento acadêmico”.

No CCUFG, Solá promete mostrar ao público goianiense suas últimas inquietações criativas. Como num diálogo entre vivências, na exposição, o artista apresentará conjunto que mescla cotidiano das metrópoles com vida interiorana em pequenas comunidades de Goiás. Sua identidade e inspiração, de fato, moram no Cerrado: aqui mistura arquétipos e signos, faz alquimia poética e pictórica, revela as imagens que compõem - nas palavras do crítico Wagner Barja - um alfabeto visual, indo da modernidade às remotas lembranças.

“Marcelo Solá afirma que está sempre reavaliando e tentando encontrar um elemento final que complete a obra e seu sentido – algo que nunca chega a ocorrer. De certo modo, portanto, a percepção da incompletude move o processo de criação do artista, quem passa o tempo anotando, desenhando, escrevendo, rabiscando, coletando informações e prospectando finalizar o que não tem fim. Assume-se então que o eternamente incompleto não é sintoma de fracasso, mas do sentido alcançado em uma experimentação poética-gráfica-visual contínua”, analisa a crítica Daniela Labra, da exposição na Index.

Há pouco, o artista voltou às “Enciclopédias” dos anos 40-50, atraído pela impressão reticulada da fotografia feita no período. Nas intervenções que faz em livros, cria cenários, casas, bichos, arquiteturas. E, com isso, especula quem sobrevivia ali em outrora. Se no início da sua trajetória desenhava em cores, passou a fase P&B e, agora, regressa ao colorido. “Dentre as pesquisas inéditas ao público há também desenhos autorais executados por bordadeiras de Olhos d’Água, GO, como a experiente Dona Abadia”, diz Daniela.

Desenhista assíduo, os traços de Marcelo Solá conquistaram o Brasil. Esteve em relevantes exposições no Instituto Tomie Ohtake, na Funarte, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e em São Paulo. Também conta com obras no Centro Cultural São Paulo, no Festival de Cultura da Bélgica, na 25ª Bienal de São Paulo. Quando era melhor, Solá, nos anos 90 ou hoje? “Penso que atualmente os artistas têm mais destaque na cena nacional e internacional. Estão nas bienais mais importantes, como Veneza”, diz. “Centro-Oeste é mais visto agora.”

“Marcelo Solá - Desenhos Inéditos do Gabinete Vermelho” fica aberta ao público até o dia 11 de agosto. O horário de visitação é de segunda a feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias