Mestrinho leva balanço da sanfona ao Jaó
Redação Diário da Manhã
Publicado em 8 de julho de 2025 às 19:49 | Atualizado há 4 horas
Reverenciado mundo afora, Mestrinho dará chamego bom ao público goiano, em show promovido pelo Sesc no Luau da Liberdade, Setor Jaó, nesta sexta, 11, a partir das 20h30. Será passeio pelo forró, samba e jazz
Marcus Vinícius Beck
A sanfona flui ao ritmo do compasso, espaço desenhado, linhas traçadas. Linhas sertanejas. Preenche cabeças e ouvidos, incendeia mentes e corações, desliza por sorrisos e membros. Todo mundo dançando e balançando, se mexendo e se agitando — ao som dessa cadência.
O ritmo assalta pernas e mãos, ultrapassa sotaques, derruba muros. Sobe paredes, caminha pela rua. Xote bom é assim: suplanta fronteiras. Aumentemos o volume. “A vida é feita para amar”, vocaliza o sanfoneiro sergipano Erivaldo Júnior Alves de Oliveira, o Mestrinho.
Ele dará um chamego bom ao público goiano em show gratuito no Setor Jaó, nesta sexta, 11, a partir das 20h30. Será um improviso combinado, por assim dizer. Um passeio pelo forró, pelo samba e pelo jazz. Samba-jazz-forró. Freestyle total. Na mente, ressoa Dominguinhos.
O sanfoneiro de Garanhuns (PE) foi um guia místico-musical para Mestrinho. “É um Deus da música para mim. Um dos maiores artistas e músicos no quesito do conhecimento puro da música, da conexão única que existe entre o universo e a arte”, declara o pupilo.

Ainda ao podcast “MPB Unesp”, o discípulo ressalta a sensibilidade de Dominguinhos em receber mensagens do universo e transformá-las em sons. “Me fez enxergar a importância do respeito pela música. A fazer o melhor para a música, fazer música para melhorar o dia das pessoas. Não para o meu ego ou o de outras pessoas”, frisa o instrumentista sergipano.
Mestrinho segue: “Comecei a enxergar a música de outra forma, com outras características. A usar harmonia moderna, tocar jazz. Dominguinhos abria esses caminhos e, a partir daí, pude ouvir outros gêneros que abrangem o Nordeste e também sonoridades modernas.”
Nascido em Itabaiana, no agreste sergipano, Erival Júnior cresceu inserido no universo musical. Era neto do sanfoneiro Manezinho do Carira, filho do também tocador Erivaldo de Carira, irmão da cantora Thaís Nogueira e do instrumentista Erivaldinho — já falecido.
Na sanfona, iniciou-se pequeno. Adorava Luiz Gonzaga, amava Dominguinhos, Sivuca. Aos poucos, conheceu Oswaldinho do Acordeon, Hermeto Pascoal, Pixinguinha. Caiu no choro de Jacob do Bandolim, grooveou-se com Gilberto Gil. Reverenciou Milton Nascimento.
Antes mesmo de chegar ao mundo, Mestrinho tinha construído laço sentimental com a música. A mãe sonhava com filho sanfoneiro. O menino havia nascido em esplêndido berço sonoro, ouvindo Gonzaga demais. Aos cinco, portanto, deram-lhe seu primeiro acordeão.

“‘Asa Branca’ foi a primeira música que aprendi. Depois fui aprendendo outras canções”, afirma o músico, durante bate-papo pinçado pela reportagem do podcast “MPB Unesp”. Autodidata, o sanfoneiro de 37 anos frequentou — por breve período — escola de música.
Mestrinho declara ao podcast não lembrar do seu processo de aprendizagem. “Foi como se eu tivesse dormido e acordado sabendo tocar música. Por isso, não tenho também didática para dar aulas, apontar um ou outro caminho. Deixo para os professores o ensino”, conta.
“Me considero uma pessoa que explora a música”, recorda-se o artista. Aos 11 anos, começou a fazer testes para tocar em bandas. Nessa época, estava no ensino fundamental.
Mestrinho abriu o jogo à mãe. “Cheguei na minha e disse: ‘mãe, eu já estou tocando e minha vida não será diferente disso. Eu quero ser músico, viver de música e vou atrás do meu sonho. Não vou estudar mais na escola’. Então ela me olhou e disse: Tá bom, filho”, lembra.
Contudo, o precoce sanfoneiro confessa ter buscado livros que o desenvolvessem como cidadão. “Eu adorava matemática, uma disciplina que tem tudo a ver com a música. Sempre fui interessado em muitos assuntos e temáticas que estruturaram meu caminho. Não cursei colégios, mas tive aprendizados muito ricos na vida”, admite o músico nordestino.
Vencedora do Grammy Latino de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa ao lado de Mariana Aydar, com quem lançou o disco “Mariana e Mestrinho”, o artista publicou a primeira obra solo em 2014. “Opinião” traz a participação de Gilberto Gil.
“Mesmo tão novo, Mestrinho é mestre de muita gente”, diz Gil, ao apresentá-lo nos shows da turnê “Tempo Rei”. Lá vai a música invadindo praças, caminhando para o pé, fazendo geral dançar. Lá vem a música de Mestrinho, sacudindo e balançando. Vamos ao Jaó?
