Música erudita dá seriedade e virtuosismo ao Goiaba Rock Festival
Redacão
Publicado em 15 de abril de 2017 às 10:38 | Atualizado há 8 anos
O Goiaba Rock Festival, em sua décima segunda edição, abriu o palco para a música erudita. Evento realizado em Inhumas com mais de 100 bandas de rock e pop, o encontro também reuniu os expoentes da música erudita goiana – caso da musicista Lílian Carneiro Mendonça, do Lílian Centro de Música.
A versão erudita, digamos o Goiaba Clássico Festival, ocorre no palco montado na praça da Matriz. Nos próximos dois dias a programação segue com instrumentistas e cantores de linha operística.
Na apresentação de sexta-feira, 14, por vezes, os músicos concorreram com as celebrações da Semana Santa que ocorriam na Igreja Matriz.
Mas ao final, imperou a música sublime de J.S Bach, o mais tocado na noite, além das estrelas universais Beethoven, Chopin, Schumann, Villa Lobos, Camargo Guarnieri, dentre outros.
O multiculturalismo deu a tônica do recital, que teve a apresentação de intérpretes de violão e piano – em estilos diversos, do barroco ao romântico, do clássico ao moderno.
O pianista Alex Pinheiro interpretou peças de Beethoven e Erik Satie. Ele levou ao público composições conhecidas, como a popular “Sonata ao Luar” e a quase-popular “Gymnopédie No.1” – música dolorida de Satie aos poucos assimiladas pela indústria cultural através de seriados e cinema. Pinheiro é um intérprete requintado, que transmitiu paz ao tocar a peça em ré maior.
Os pedaços de notas percutidos pelo instrumentista, as pausas e o silêncio contrastaram com a sonata de Beethoven, hit maior da música para piano, cheia de notas, arpejos e acordes cheios.
Outra apresentação madura no evento ocorreu pelas mãos de Letícia das Neves, que tocou “A baratinha de papel”, obra de Villa Lobos que integra a “Prole do Bebe nº2”.
Letícia realizou uma apresentação séria, baseada em composições densas, complexas e de grande exigência do intérprete e do ouvinte, já que explorou dissonâncias e frases inusitadas do mestre da música clássica brasileira.
No mesmo nível de interpretação e também focada em Villa Lobos, Aline Santos Alves, também aluna de Lílian Carneiro Mendonça, mostrou um virtuosismo que já é comum em suas apresentações. Sua versão para “Tristorosa” foi impecável, digna de grandes concertistas.
Trata-se de uma adolescente premiada nos principais concursos do país, com apresentações no exterior e grande carreira internacional pela frente.
ARGENTINA
Um dos grandes momentos da noite foi a leitura de Júlia de Souza para as “Cenas Infantis”, de Schumann. Trata-se de composição tradicional do repertório pianístico, interpretado com vigor e também delicadeza pela experiente pianista. Apesar da pouca idade, Júlia encara uma peça comum no repertório dos grandes pianistas do mundo.
Para efeito de comparação, a aclamada argentina Martha Argerich costuma finalizar seus concertos com algumas das peças de “Cenas Infantis”.
E por falar em argentinos, um dos momentos mais belos da noite ocorreu com a interpretação de Júlia Marie para a peça “Milonga del Angel”, de Astor Piazzolla, um compositor popular cada vez mais considerado erudito por conta de suas intrincadas melodias.
Júlia é vencedora dos prêmios Souza Lima e Cora Pavan, dois dos mais importantes do país, e também dedicada ao estudo da obra de Bach. Teve ousadia para interpretar a “Invenção”, de J.S Bach, BWV 772, peça que já foi revisada por ninguém menos do que Glenn Gould – um dos maiores intérpretes de Bach de todos os tempos. Na verdade, Walter Gieseking, Rosalyn Tureck, Tatiana Nikolayeva, dentre outros grandes, fizeram o mesmo percurso que Júlia ao tocar a “Invenção”.
E por falar em Bach, o pianista Gabriel Tavares também interpretou peça robusta do compositor alemão, caso de “Prelúdio e Fuga n. 6”, do “Cravo bem Temperado”.
O virtuosismo do músico conquistou muitos aplausos da plateia que presenciou o concerto de abertura do Goiaba Rock Festival. Bach é um paradigma universal para todos instrumentistas, que volta e meia retornam ao seu repertório para beber a água da virtude.
Caçula do espetáculo, aos 8 anos, Maria Rocha também interpretou uma composição de Bach com dedicada leitura. A “Marcha” do compositor barroco saiu com o som staccato do cravo.
Sob o olhar atento da professora Lílian, ela demonstrou que as crianças são capazes de complexidades que muitas vezes ignoramos.
No mesmo dia, a premiada pianista Sophia de Souza, vencedora do Concurso Souza Lima, tocou Beethoven, com a peça “Sonho de Gertrudes”. Ela também foi uma das intérpretes que tocaram uma peça à seis mãos ao lado de Júlia Souza, sua irmã, e Júlia Marie. Sophia cuidou da estrutura da composição, guiada nos agudos de Júlia Souza e nos graves de Marie.
O violonista Eduardo Fernandes apresentou um impecável recital durante o evento, com marcante interpretação de obras de Heitor Villa Lobos, J.S Bach, Manuel Ponce, Torroba, dentre outros.
Trata-se de violonista de grande gabarito, com repertório de concerto internacional. Sua leitura para o “Prelúdio n. 1”, de Villa Lobos, marcou a noite. Ao usar as cordas soltas, Villa comunica simplicidade, singeleza e aproximação da linguagem dos músicos populares.
Da mesma forma que parte considerável dos participantes, ele também reverenciou J.S Bach com apresentação de um “Allemande” e “Prelúdio”.
[box title=”Homenagem à Lílian Carneiro Mendonça”]Durante a abertura do festival de música erudita no Goiaba Rock Festival, o curador do evento, músico Robervaldo Linhares Rosa apresentou uma das convidadas com extrema reverência. Trata-se da pianista Lílian Carneiro Mendonça, considerada uma das principais pedagogas de piano no Brasil.
A professora foi celebrada pelo organizador, que agradeceu seu empenho em trazer grandes pianistas até Inhumas. Robervaldo lembrou que Lilian tem alunos espalhados na Europa e Estados Unidos, que levam a mensagem da música.
A organização do evento conseguiu garantir sonoridade de qualidade, microfonação e espaço ideal para a apresentação. Ao abdicar de salas fechadas, a apresentação ao ar livre serviu para popularizar a música clássica e aproximar os moradores de Inhumas das grandes composições e compositores universais.
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