Nas ondas da revolução
Redação DM
Publicado em 1 de novembro de 2016 às 01:11 | Atualizado há 7 mesesPor ocasião das lutas contra as medidas dos governos federal e estadual que atingem a educação, uma série de manifestações estão acontecendo pelo País. Aqui em Goiânia aconteceu uma série de ocupações e uma delas foi de um meio de comunicação, a Rádio Universitária, que pertence à Universidade Federal de Goiás.
As transmissões da rádio, que acontecem na frequência 870 AM, estão sob o comando de estudantes e apoiadores. Esta não foi a primeira ocupação de meio de comunicação nas manifestações em defesa da educação, na denominada “Primavera Estudantil”.
Estudantes da Udesc, a Universidade Estadual de Santa Catarina, ocuparam a rádio de sua universidade. A transmissão dos ocupantes durou um pequeno intervalo de tempo e depois foi suspensa.
O estudante que se identificou como Bife relatou como se deu a ocupação aqui na cidade de Goiânia: “Neste sábado, dia 28 de outubro, a Rádio UFG foi ocupada por um coletivo de estudantes que lutam contra a mercantilização do ensino público e da saúde, ou seja, contra a PEC 241 e a reforma do ensino médio. Os estudantes organizaram-se coletivamente procurando tornar o meio de comunicação mais combativo e democrático, pacificamente. Um manifesto escrito coletivamente pelos ocupantes foi lido no ar no primeiro momento”. A ocupação aconteceu enquanto o programa “Matéria Prima”, da emissora, estava sendo transmitido”.
Atenção, atenção, Marighella no ar
A história de ocupações de rádios no Brasil é extensa. Um caso icônico desse tipo de ação foi o de Carlos Marighella, que fazia parte da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Marighella e a ALN escolhiam como método de luta a ação direta. Uma das mais famosas ações do grupo foi o assalto ao trem pagador da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Mas a que ecoou no ar da cidade de São Paulo foi a tomada de uma rádio.
Era o ano de 1969 quando Marighella e a ALN invadiram a Rádio Nacional Paulista, uma afiliada do conglomerado de comunicação Globo. Entenda a potência dessa ação, tendo em vista que a rádio era o principal meio de comunicação da época. O transmissor dessa rádio paulista tinha um alcance de 600 quilômetros de raio, o que possibilita uma amplitude impressionante de alcance.
Trabalhadores e a burguesia paulista ouviam rádio como todos os dias. Subitamente, os ouvintes escutam as seguintes palavras: “Atenção, muita atenção! Senhoras e senhores: tomamos esta emissora para transmitir a todo o povo uma mensagem de Carlos Marighella”.
A voz locutora que se espalhava por São Paulo era de Gilberto Luciano Berloque. Ele era um jovem militante e estudante que chegou para Marighella com a ideia de ocupação da rádio. Era uma ação tão simples em termos operacionais e tão impactante em seu alcance que a aliança concordou rapidamente.
Quem redigiu o texto foi Marighella. Ele começava falando sobre ações recentes que estavam sendo atribuídas a ele e sua organização, como o incêndio provocado nas instalações das TVs Globo, Record e Bandeirantes na capital paulista. A população acreditava que eles eram os responsáveis por tais atos devido às contrainformações geradas por essas emissoras.
Marighella escreveu em seu texto os objetivos da luta dele e de seus companheiros: derrubar a ditadura militar e anular todos os seus atos desde 1964, formar um governo do povo, expropriar firmas, bens e propriedades do capital internacional, expropriar os latifundiários, transformar e melhorar as condições de vida dos operários, dos camponeses e das classes médias.