O lixo é um luxo
Diário da Manhã
Publicado em 3 de dezembro de 2016 às 01:28 | Atualizado há 4 mesesDe hoje, 3 de dezembro, até o dia 9 deste mesmo mês a Galeria 588 Art Show receberá a Exposição “Do Descarte à Arte”, de Andréa Caetano e Maicon Soares, do Estúdio Aramados. A ideia é promover a conscientização do consumo consciente, e sensibilizar o público a respeito do descarte irresponsável de indústrias, ferros-velhos e pessoas comuns, de objetos com potencial para reciclagem.
As peças produzidas pelo casal de artistas plásticos são feitas a partir de objetos metálicos, recriando miniaturas de automóveis e objetos decorativos afins, aliando a formação de Andréa em Arquitetura e Urbanismo e o dom nato de Maicon Soares, que, além de serralheiro, já nasceu com a sensibilidade artística. Esses e outros detalhes, Andréa revela ao DMRevista em entrevista exclusiva para matéria especial de lançamento da exposição.
O Estúdio Aramados nasceu do desejo da dupla em transformar o descarte em algo conceitual e novo, de maneira artesanal, utilizando como matéria-prima o metal descartado por ferros-velhos e indústrias. “Nosso processo contempla os aspectos ambientais, tendo como principal objetivo desenvolver produtos e objetos que irão reduzir o uso dos recursos não renováveis”, diz Andréa.
Entrevista com a arquiteta, urbanista e artista plástica Andréa Caetano
DMRevista- Como surgiu a ideia de fazer arte com o que é, culturalmente, descartado pela maioria das pessoas? E a parceria com o artista plástico Maicon Soares?
Andréa Caetano- Depois de terminei Arquitetura e Urbanismo, fui cursar Téc. em Design de Interiores no Senac e em um momento do curso precisei fazer a releitura de uma cadeira do grande arquiteto e designer da Bauhaus, Marcel Breuer. Os alunos podiam fazer da forma como quisessem. Na época o Maicon trabalhava como serralheiro, foi daí que tivemos a ideia de fazer com materiais reaproveitados, já que a gente tinha um pedaço de chapa de latão e alguns ferros. Assim nasceu o primeiro objeto de um grande artista que começava a descobrir suas habilidades com o metal. O Maicon nunca fez algum curso que lhe desse condições para trabalhar com medidas, proporção, profundidade nem nada disso que a gente aprende quando estuda Arquitetura, mas o seu talento nato foi se aflorando e é como se tudo o que ele fizesse existisse simetria e harmonia. Ele já nasceu artista, e seu estilo é único. Feliz com o resultado, ele começou a criar algumas cadeirinhas que inclusive estarão na nossa Exposição “Do Descarte à Arte”, para que o público veja a evolução que tivemos em menos de dois anos. E dessas cadeirinhas surgiu a curiosidade em manusear outros materiais, como o arame, que permitiu que ele fizesse miniaturas de árvores para compor ambientes. Sempre quis trabalhar com algo que tivesse ligação com a sustentabilidade e a consciência ambiental. É muito grande o descarte das grandes empresas, das pessoas e oficinas, sendo que muitas não têm algum programa que destine esses resíduos para o local correto. Então encontrei no Maicon a forma de levar este trabalho adiante, já que trabalhar com o metal de uma forma artesanal não é nada fácil. Hoje estamos juntos no Estúdio Aramados, que é um escritório de Arquitetura, Design e Artes voltado para a sustentabilidade. Nossa principal matéria-prima é a do descarte, e com ela conseguimos fazer uma infinidade de objetos, seguindo vários estilos. Todos os objetos têm um nome, um conceito e é como se ele já tivesse dono. A arte do estúdio pode ser definida como “upcycling”, pois o que é descartado se transforma em produtos de maior valor e qualidade.
DMRevista- Além de expor as belíssimas obras confeccionadas por você, Andréa Caetano, e por Maicon Soares, qual o principal objetivo da exposição das obras? Há um intuito de promover uma conscientização social a respeito do descarte de recicláveis?
Andréa Caetano- Quando compra um objeto, você procura saber quem fez? Como foi produzido? Se os recursos naturais gastos para que aquele produto estivesse lindo na prateleira não comprometem as nossas gerações futuras? Estas são perguntas que não costumamos pensar, mas que nos dias de hoje se fazem necessárias. Infelizmente o uso desenfreado desses recursos tem nos levado a uma escassez que, se não mudarmos hábitos e atitudes, nossos filhos e netos viverão em um planeta insustentável. O objetivo é mostrar o grande potencial do descarte como obra de arte, e provar que sim, é possível deixar as pessoas felizes e satisfeitas com objetos que foram feitos de forma manual e com “lixo”. Difundir a cultura do “Consumo Consciente” de forma sustentável, sendo assim, referência em objetos de decoração criados a partir do descarte. Inutilizamos muitas coisas que poderiam ser repaginadas de forma muito simples. Tudo depende da sua criatividade e vontade. A sustentabilidade precisa deixar de ser modismo e passar a ser praticada por todos. Não estamos salvando o mundo, mas queremos que as pessoas saiam de lá com algo bom, pensando em como elas podem contribuir para a melhoria do nosso meio ambiente.
DMRevista- Falando sobre as peças. Elas competem um valor acessível? Em outras palavras, estas peças podem ser adquiridas por quem ganha a vida com reciclagem, por exemplo?
Andréa Caetano- Tudo o que é produzido hoje no Estúdio, além de ser único, carrega uma identidade que foi sendo aperfeiçoada nestes quase dois anos de trabalho. Em se tratando de objetos de arte, onde cada peça tem um conceito e um porquê de existir, os valores variam. Temos peças a partir de R$ 20,00 podendo chegar a outros valores dependendo do tamanho, da quantidade de horas que foram gastas para fazer.
DMRevista- O design primordial das peças reflete o estilo retrô/vintage. Qual a razão da escolha desse padrão? Ou o material que vocês utilizam é mais facilmente manuseado a partir do estilo de trabalho?
Andréa Caetano- Nos dias de hoje, a tecnologia é muito rápida e descartável. Você tem um objeto que amanhã já será substituído por outro “melhor”. Nós, do Estúdio, gostamos do velho, do antigo, do novo que imita o antigo, gostamos da textura do material, do processo de fabricação e de oxidação. Por isso fazemos releituras em miniaturas de kombis, Harley Davidson, bikes, TVs e outros. Quanto ao material, o metal dá muita sobra e sua diversidade é grande, sem contar no seu tempo de vida útil. Utilizamos metais garimpados entre sucatas de indústrias, ferro velhos, oficinas, entre outros. Engrenagens, arruelas, porcas e outras partes que um dia fizeram parte de algo ou que foram descartadas, se tornam matéria a ser transformada em objetos de decoração exclusivos e únicos. Além deste estilo que amamos, também nos inspiramos no steampunk e industrial. Aliás, quem for em nossa Exposição vai poder ver nossa coleção completa de luminárias inspiradas no Steampunk.
DMRevista- Para finalizarmos, convide nossos leitores para acompanhar a exposição.
Andréa Caetano- Esta é nossa primeira exposição intitulada de “DO DESCARTE À ARTE”, e a vontade em mostrar este trabalho ao público goiano é muito grande. Foram dois meses de muita dedicação para que os visitantes pudessem se surpreender com as possibilidades do descarte. Serão mais de 80 peças feitas totalmente com material reaproveitado. O evento acontecerá hoje, dia 3, na Galeria 588 Art Show, na Rua C-167, Qd. 588, Lt. 11, Setor Nova Suíça (próximo ao Centro Empresarial Sebba), Goiânia, com início a partir das 10 horas. Vernissage às 15:00 com o músico Marcello Caetano, e o evento se encerra às 18h. Durante os dias 5 a 9 a Galeria ficará aberta à visitação das 13 às 17 horas. Todos estão convidados e a Entrada é Gratuita. Pra quem quiser conhecer um pouco do nosso trabalho, temos o instagram @estudioramados e no facebook estudioaramados/facebook.
1ª Exposição “Do Descarte à Arte”
Abertura: 3 de dezembro, às 10h
Local: Galeria 588 Art Show, – Rua C-167, Qd. 588, Lt. 11, Setor Nova Suíça – Goiânia (próximo ao Centro Empresarial Sebba)
Data: a Galeria estará aberta para visitação entre os dias 5 e 9 de dezembro, das 13h às 17h
Valores: Entrada franca