O martírio de Joana D’Arc
Diário da Manhã
Publicado em 30 de maio de 2015 às 03:06 | Atualizado há 4 meses
Os feitos emblemáticos da jovem Joana D’Arc serviram para criar em volta dela muitos mitos e especulações. Hoje, ela é considerada uma das mais importantes e heroicas figuras da França, sendo considerada o principal símbolo de resistência do país durante o período da Guerra dos Cem Anos, quando seu país estava sob domínio de forças inglesas. A jovem Joana, considerada a filha do povo, que foi chefe militar durante o período de batalhas, foi presa, humilhada, torturada e interrogada por um tribunal eclesiástico inglês. Acusada de blasfêmia, foi queimada viva quando tinha apenas 19 anos.
O dia 30 de maio é reservado pela Igreja Católica para a festa lutúrgica de Joana D’Arc. É também a data de morte dela. Joana foi canonizada no dia 16 de maio de 1920, quase 500 anos após sua execução, e é considerada a Santa Padroeira da França. De origens humildes, Joana D’Arc não sabia ler, e sonhava com seu país livre, contestando religiosos nos tribunais inquisitórios opressivos da Inglaterra. Na literatura, já foi chamada de bruxa em Shaekespere e ridicularizada em Voltaire.
Sua história sobrevive na cultura mundial há quase 600 anos, o que faz com que muito do que se sabe sobre ela seja influenciado por vários momentos culturais da humanidade. No artigo Joana D’arc entre a história e a literatur, de Júlia Matos, professora da Universidade Federal de Rio Grande, ela explica parte do mito que envolve a guerreira. “O mito da jovem virgem que surgiria entre camponeses para guiar os exércitos franceses contra os ingleses, até alcançar a vitória e a coroação do Delfim Carlos em Reims como Carlos II, faz parte não apenas da mentalidade popular como da própria história da França”.
Há várias dissonâncias entre as interpretações heroicas de Joana D’Arc. A literatura, a partir da década de 1920, quando ela foi transformada santa, divide-se em falar de sua história religiosa ou sua história nas guerras. Júlia Matos cita o exemplo do escritor Érico Veríssimo para exemplificar as apropriações da história de Joana. “Veríssimo, assim como Michelet, deixou de lado o imagem de santa da jovem Joana e colocou-a no centro da história como propulsora e testemunha das atrocidades acometidas pelos governos de sua época”.
O filme mudo
Os últimos momentos da vida de Joana D’Arc foram mostrados no cinema no ano de 1928, pelo cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer, em seu último filme mudo. O diretor é bastante cultuado no meio cinematográfico por seu primor estético e por tratar de temas delicados envolvendo a Igreja católica. Em sua filmografia, se destacam filmes como A palavra, de 1955, que conta a história da volta de Jesus que é confundido com um louco, e Gertrud, que põe à prova os valores do casamento com foco nas vontades e sentimentos de uma mulher adúltera.
Em O martírio de Joana D’Arc, título do filme, Dreyer inspirou-se nos manuscritos oficiais do julgamento da histórica heroína da França, diferente de outras representações artísticas menos fiéis e mais emocionais e literárias. O filme vem sendo considerado uma das mais importantes produções cinematográficas da história desde seu lançamento, em 1928. A revista Sight & Sound, da Inglaterra em sua lista de melhores filmes de todos os tempos, posicionou o filme na décima segunda colocação.
A atuação da atriz que representa Joana é outro ponto do filme muito lembrado em debates sobre cinema, como comenta o usuário Gustavo Martins, da rede social Filmow. “Uma produção de grande valor histórico. Pode-se dizer que se trata do primeiro grande estudo de uma personagem, com uma das maiores atuações femininas da história. Maria Falconetti. com seu intenso desempenho emocional, e dona de um olhar expressivo, consegue com maestria transmitir todas as gamas de sentimentos de sua personagem de fé inabalável”.