Cultura

O sertão brasileiro na caneta de Euclides da Cunha

Redação DM

Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 20:58 | Atualizado há 7 meses

As vezes um livro de romance pode contar mais de uma região do que a história em sim. Nos trabalhos de alguns autores a essência da terra é demonstrada na cara de quem quiser ver com tal zelo que nos transporta para dentro desses locais. A literatura vira então uma espécie de guia de viagens onde não é necessário ter carro, avião ou bicicleta, basta abrir o livro e descobrir e redescobrir milhares de brasis. A obra Os Sertões do escritor brasileiro Euclides da Cunha é um exemplo perfeito para isso que falo. No ano de 1897 Euclides foi convidado pela jornal o Estado de São Paulo para cobrir os últimos momentos da famosa Guerra de Canudos, no sertão do Brasil. A princípio o correspondente trataria o combate criticando as atitudes de Antônio Conselheiro através da teoria de que haviam monarquistas apoiando o movimento e Conselheiro estaria tentar reinstalar o regime.

Acontece que ao chegar a região Euclides da Cunha sofreu um verdadeiro choque de realidade. Ele percebeu que tratava-se apenas de uma sociedade muito diferente da que ele vivia e entender os costumes exigiu uma análise a fundo naquela terra. Na terra sim, afinal o livro é dividido em três grandes capítulos: A Terra, O Homem, A luta.

Euclides analisa desde a estrutura geográfica até a fauna e flora da região a fim de entender que não se tratava de um movimento monarquista, mas um formato diferente de levar a vida. Os Sertões é considerado uma das grandes principais obras da literatura nacional por narrar um Brasil interiorano e visto do lado de dentro. Fato que é possível graças a perícia e olhar poético de Euclides.

O escritor nasceu no dia 20 de janeiro de 1866 em Cantagalo e trabalhou como engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo, professor, filósofo, poeta, romancista e ensaísta. No “tempo livre” que tinha Euclides produzia seus livros.

Nasceu na fazenda Saudade, filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Aos três anos perde a mãe e vai viver com alguns parentes na cidade de Teresópolis, depois em São Fidélis e no fim se muda para o Rio de Janeiro. Só em 1883 que começa a estudar no Colégio Aquino. Conheceu nessa época o intelectual Benjamin Constant que lhe deu aula e também o introduziu na ideologia positivista. Depois de dois anos ingressa na Escola Politécnica e logo após na Escola Militar. Novamente passa a ser aluno de Benjamin e se aprofunda ainda mais nas teorias que o professor citava.

Ideologia

As idéias de Benjamin e o ardor republicado dos cadetes entraram no caráter de Euclides com os dois pés na porta. Conta-se que durante uma revista das tropas na Escola Militar ele teria jogado sua espada nos pés do ministro da Guerra Tomás Coelho. O melhor foi a atribuição do ato descrita pela escola: “fadiga por excesso de estudo”. Euclides negou-se a assinar o veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por conta deste ato foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Só no ano de 1888 é que Euclides veio a se desligar do exercito.

Traição

Durante muitos anos Euclides foi casado com Anna de Assis. Os dois viviam juntos, tinhas filhos e aparentemente estavam felizes com o casamento. Isto até o momento em que Anna se envolveu com um jovem cadete (tinha 17 a menos que Anna) chamado Dilermando. O relacionamento proibido gerou dois filhos sendo que um faleceu ainda bebê e outro foi criado por Euclides o qual chamada de “a espiga de milho no meio do cafezal”, por ser o único branco em uma família de negros.

A traição acabou se tornando de fato uma tragédia quando Euclides resolveu tirar as contas com Dilermando. O escritor teria entrada na casa do jovem armado e dizendo-se disposto a matar ou morrer. O cadete reagiu a ameaça e matou Euclides com vários tiros. Depois de algum tempo Dilermando acabou sendo absolvido e casou-se com Anna. Os dois viveram juntos por 15 anos.


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