“O teatro tem o papel de trazer debate social”
Redação DM
Publicado em 8 de abril de 2017 às 02:48 | Atualizado há 5 meses
Depois de estrear com sucesso de público e de crítica em São Paulo em 2015 e passar com recepções calorosas por cidades como Brasília (DF), o espetáculo “Visitando Sr. Green” fica em cartaz hoje, às 20h, e amanhã, às 21h, no Teatro Sesi. O espetáculo, que é a adaptação do texto de Jeff Baron, tem direção de Cássio Scapin e é estrelado por Sergio Mamberti e Ricardo Gelli.
A montagem é simbólica, pois no palco estão reunidas várias celebrações. “Visitando Sr. Green” marca, por exemplo, a volta de Sérgio Mamberti aos palcos depois de 12 anos de hiato – época em que trabalhou no Ministério da Cultura (MINC). A montagem comemora ainda os 60 anos de carreira de Mamberti e tem mais: a escolha de Cássio Scapin na direção, marca outra celebração, que o público já deve suspeitar: os 20 anos do programa infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”.
Logo, Mamberti, que viveu o Tio Victor, e Cássio, responsável por encarnar Nino, repetem a parceria que marcou tantas crianças, principalmente da década de 90. “A gente pensava em fazer alguma coisa sobre o “Castelo”, e como Cássio também atuou nessa peça, acolheu prontamente o convite. O Trabalho é belíssimo e tem muita maturidade. Embora Cássio já tivesse feito muitos trabalhos como diretor, talvez este tenha sido o trabalho dele mais marcante”, contou Mamberti em entrevista ao DMRevista por telefone.
E mais uma homenagem marca esta adaptação de Sr. Green aos palcos. Desta vez é direcionada ao primeiro ator que encenou – com grande sucesso – o texto de Jeff Baron no Brasil: Paulo Autran, em 2000. Um detalhe relevante é que Scapin contracenou com Autran esta versão – daí outro motivo da direção ser dele.
Já a possibilidade trazer ao público brasileiro este trabalho de volta, conforme conto Mamberti, chegou enquanto ele ainda estava no Minc. O convite veio do mesmo produtor da primeira adaptação brasileira. Na época, “Tio Victor” teve de recusar a proposta, mas não descartou de vez a possibilidade de dar vida novamente ao personagem que viu Paulo Autran atuar brilhantemente.
Motivado pelo texto de Baron e interpretação de Autran, depois que saiu do Minc, juntamente com Carlos Mamberti, seu filho, comprou os direitos autorais da peça. “Visitando Sr. Green foi uma grande criação de Paulo Autran e foi até uma grande ousadia a gente fazer um trabalho que ele teve grande sucesso no palco. Mas nós estreamos em 2015 em São Paulo no Teatro Jaraguá e felizmente tivemos uma ótima aceitação do público e da crítica”, celebra explicando que já ultrapassaram 100 apresentações pelo Brasil.
Trama atual
Durante a entrevista, Mambert contou que estava acompanhando no noticiário que os Estados Unidos havia jogado mísseis na Síria. E lamentou o fato de que a montagem possa parecer mais atual nos dias de hoje do que quando foi escrita.
“O que a peça tem de mais profundo é a intolerância, a não aceitação do outro. A gente vê isso, não só no Brasil, como no mundo. As pessoas não estão convivendo democraticamente com as diferenças”, analisa.
As questões de intolerância incluídas na montagem, de acordo com ator, se não fosse pelo texto de Jeff Baron, até poderia soar maçantes. Mas definitivamente não são. A história narra o encontro do velho Sr. Green (Mamberti), um solitário judeu ortodoxo e o jovem executivo Ross Gardner (Ricardo Gelli) em uma situação nada confortável: um pequeno acidente de trânsito nas ruas de Nova York, que quase resultou num atropelamento.
Por isso, Gardner foi acusado de negligência na direção e considerado culpado pela ocorrência. Como pena deverá prestar serviço comunitário à vítima uma vez por semana, pelos próximos seis meses.
“A peça, pelo conflito que estabelece entre o Senhor Green e Ross Gardne tem aspectos de comédia, e o autor sempre ressalta isso. Mas, assim que os conflitos vão se aprofundando, ela vai assumindo contorno dramático dando lugar para muita emoção. A montagem tem caráter universal e seu tema está muito presente nas relações pessoas”, analisa.
Por isso, para Mamberti – que iniciou sua carreira nos palcos em 1956 com a peça “Revellation”, de Tristarn Bernarn, e já estrelou cerca de 70 montagens teatrais – o espetáculo chega em uma boa hora aos palcos. Pois, acredita no papel “fantástico de criar o debate social” que o teatro guarda em si. “A gente tem o cinema, tem a TV, outras linguagem. Mas no teatro não há nenhum intermediário entre o ator e o público, que está ali participando e presente”, analisa.
ENgajamento
Porém, além do amor pelo teatro, Mamberti, sem dúvidas, aposta em um mundo com arte para todos os lados. E para isso, o artista com mais de 25 longas-metragens e 16 telenovelas, no currículo, entre 2003 e 2013 foi trabalhar no Ministério da Cultura. Lá, atuou como secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, presidente da Fundação Nacional de Artes e secretário de Políticas Culturais.
Mas a volta aos palcos para ele é um momento de grande alegria. E a felicidade só não é maior porque observa preocupado a pouca atenção que as gestões atuais estão destinando às políticas culturais. “Não só a nível federal, como estadual e municipal tivemos cortes importantes no orçamento da cultura. Programas importantes foram descontinuados. O Minc, neste governo ilegítimo, chegou a ser extinto. Foi mantido, mas graças às reivindicações de toda área cultural. Mas, absolutamente a cultura está sem políticas que a garantam”, lamenta o artista.
Visitando o Sr. Green
Quando: Hoje, às 20h e amanhã, às 21h
Onde: Teatro Sesi (Av. João Leite nº 1.013, Setor Santa Genoveva
Ingressos: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia)
Informações: (62) 3269-0800