Cultura

Os Mamonas Assassinas

Redação DM

Publicado em 1 de março de 2016 às 21:20 | Atualizado há 6 meses

 

Alecsander Alves, Alberto Hinoto, Samuel Reis de Oliveira, Sérgio Reis de Oliveira (não é o sertanejo) e Júlio César. Se eu os apresentar assim, provavelmente vocês não saibam de quem estou falando. Estes são os nomes de batismo de Dinho, Bento Hinoto, Samuel Reoli, Sérgio Reoli e Júlio Rasec, respectivamente. Os paulistas que deram vida – mesmo que breve – a uma das bandas de rock cômico mais influente da década de 1990, os Mamonas Assassinas.

Criada em 1995, em Guarulhos, originalmente o grupo se chamava Utopia. Os Mamonas foram um dos, se não o maior fenômeno da música alternativa brasileira dos últimos tempos. Misturavam o punk rock com o sertanejo, o forró, o brega, o heavy metal e até com música mexicana. O jeito irreverente dos meninos de Guarulhos conquistaram o coração dos brasileiros facilmente. Era perceptível a briga dominical entre Augusto Liberato (Domingo Legal do SBT) e Fausto Silva (Domingão do Faustão da Rede Globo), que disputavam a banda – que puxava lá pra cima os índices de audiência – para saber em qual dos programas eles se apresentariam no próximo domingo.

A carreira estrondosa durou pouco. Aproximadamente sete meses após alcançarem o estrelato, um acidente de avião na Serra da Cantareira pôs fim ao sucesso dos Mamonas, matando todos os integrantes. Eles deixaram órfãos uma legião de fãs, família e amigos. Mas também nos presentearam com as mais icônicas e cômicas canções e memórias  que sequer poderíamos imaginas. Três milhões de cópias vendidas em tão pouco tempo. Quem poderia imaginar? O único álbum de estúdio do grupo, autointitulado Manonas Assassinas, de 1995, com o sucesso de vendas, rendeu-lhes um disco de diamante, certificado pela  Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD). Em acervo particular do grupo também há discos de ouro, platina e dupla platina, todos referentes ao único álbúm da banda.

Utopia

A primeira formação da banda foi o Utopia, no final dos anos 1980. Sérgio Reoli conheceu Bento por intermédio do irmão do guitarrista, Maurício Hinoto. Os dois passaram a ensaiar na casa de Sérgio. Na época, Samuel Reoli não se interessava por música, preferia ironicamente desenhar aviões, o meio de transporte que os mataria anos mais tarde. Mas assistindo os ensaios do irmão Sérgio, que tocava bateria com o novo amigo Bento, Samuel começou a tocar baixo elétrico. Estava aí formado o trio, especializando-se principalmente em covers de bandas como Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Rush.

Numa apresentação, o público pediu uma música de Guns n’ Roses, mas como não sabiam bem a letra, o trio pediu ajuda da plateia. Alcsander Alves, o Dinho, se prontificou a ajudar. Com o sucesso que fez naquela noite, foi convidado a integrar o grupo. O quinto integrante, o tecladista Júlio César, entrou para a formação por intermédio de Dinho. Juntos gravaram o disco A Fórmula do Fenômeno, que vendeu menos de uma centena de cópias. Durante uma apresentação em um bar de Guarulhos, o Utopia conheceu Rick Bonadio, mesmo produtor musical de Charlie Brown Jr. Decidiram que o grupo deveria mudar de nome, e resolveram incorporar às apresentações as paródias que faziam, quando viram que estas tinham maior aceitação do público do que os covers propriamente ditos. Nascia aí o Mamonas Assassinas.

O acidente

Um jato foi fretado para fazer o transporte do grupo, dois assistentes, Isaque Souto, primo de Dinho, e Sérgio Saturnino Porto, segurança do grupo para um show que realizariam em Brasília, no Estádio Mané Garrincha, no dia 2º de março de 1996. Após o fim do espetáculo, por volta das 22 horas, a aeronave comunicou a decolagem. O acidente ocorreu já na etapa final da viagem, quando a aeronave se preparava para aterrizar no Aeroporto de Guarulhos. A torre orientou o piloto que realizasse curva para a direita, esta a fez para a esquerda, colidindo com a Serra da Cantareira. Todos os ocupantes, inclusive o piloto e copiloto morreram no local.

Dinho completaria 25 anos no dia 5 de março, e Samuel comemoraria o 23º aniversário no dia 11 do mesmo mês. A morte dos cinco integrantes do grupo gerou comoção nacional. O enterro, realizado no dia 4 de março no Parque das Primaveras, Guarulhos, contou com a presença de mais de 65 mil fãs dos Mamonas. Alguns escolas da cidade decretaram luto, não havendo aula naquele dia. Um início de mês muito triste, marcado pela morte de um grupo que levava alegria à toda parte.

Minissérie

A TV Record anunciou que em 2016, aniversário de 20 anos da morte da banda, exibirá uma minissérie em cinco capítulos sobre a trajetória dos Mamonas Assassinas. O ator Ruy Brissac, que impressiona na semelhança com Dinho, interpretará o cantor. Em declaração ao site R7, da emissora, Brissac diz que “é um projeto que, apesar de muito sério, é muito divertido”. Estamos no aguardo para conferir a novidade.

Artistas falam sobre a banda

O ídolo português Roberto Leal, que tornou-se popular no Brasil com o Hit Na Casa da Mariquinha, cuja versão satírica Vira-Vira fora lançada pelos Manonas, diz ter sido pressionado por fãs, a comunidade portuguesa e até por seus advogados a processar o grupo. O cantor disse ter se recusado a mover ação judicial contra os Mamonas Assassinas por saber que através da sátira do grupo, sua música estava chegando a lugares que ele mesmo ainda não havia alcançado. “

Pouco tempo depois, ao me apresentar no SBT, Dinho, que também estava lá com o grupo, bateu no meu camarim. Ele me deu um abraço e, com lágrimas nos olhos, disse para eu não entender a música como ofensa, mas como uma homenagem. Contou que passou a infância ouvindo minhas músicas, que seu pai era um grande fã meu e que se preocupava com o que eu tinha achado da nova versão. Choramos de emoção e ficamos amigos”, disse Roberto.

A modelo Mari Alexandre, hoje com 42 anos, foi capa da Playboy em 1992, quando tinha acabado de completar 18 anos. Em 1996, durante um show dos Mamonas, ela foi apresentada ao grupo. Entrando no camarim ela logo recebeu a informação de Dinho de que os seios que estampavam o álbum deles havia sido inspirado no ensaio de Mari para a revista masculina.“O mais legal foi ter construído uma amizade com eles. Saíamos para jogar boliche, lanchar. Todos sempre foram muito brincalhões e eram muito respeitosos comigo. Minha barriga doía de tanto rir. É triste terem ido tão cedo, com tanta energia”, contou a modelo, 20 anos após o trágico fim.

Curiosidades

Os irmãos Sérgio e Samuel Reoli  fundaram, em 1989, o que seria a base dos Mamonas Assassinas. Uma banda chamada Utopia tinha proposta de entrar no mundo do rock com composições próprias e covers de outros artistas.

No auge do sucesso, os Mamonas Assassinas bateram o recorde da banda RPM  ao venderem 2 milhões de cópias do disco de estreia em apenas oito meses de trabalho.

No início da carreira, a banda cobrava cerca de R$ 8 mil por apresentação. Não demoraria muito para que o cachê disparasse para R$ 70 mil.

Os Estados do Acre e Tocantins foram os únicos do Brasil que não tiveram tempo de receber um show ao vivo do grupo.

Antes de optarem por Mamonas Assassinas, Dinho, Sérgio, Samuel, Bento e Júlio cogitaram outros nomes para o grupo. Coraçõezinhos Apertados, Um Rapa da Zé e Tangas Vermelhas estavam na lista de opções.

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