Cultura

“Os poemas são pássaros que chegam”

Redação DM

Publicado em 30 de julho de 2015 às 01:39 | Atualizado há 10 anos

Walacy Neto,Especial para DMRevista

No dicionário, a palavra “poesia” é apresentada no seu sentido figurado como tudo aquilo que comove, sensibiliza e desperta sentimentos. No sentido mais bruto, ou seja, mais engessado, poesia é tida como um gênero literário caracterizado pela composição em versos estruturados de forma harmoniosa. Ainda no dicionário, o termo é tratado como uma espécie de manifestação de beleza e estética, retratada pelo poeta na forma de palavras. Já para Mário Quintana, “os poemas são pássaros que chegam/ não se sabe de onde e pousam/ no livro que lês”.

Mário Quintana é poeta e, na maioria das vezes, deixa de lado essa “composição em versos estruturados de forma harmoniosa de beleza estética” quando sensibiliza os leitores. Através de certa ironia, de profundidade sentimental e poucas palavras, o escritor é um dos mais renomados e necessários nomes da cultura nacional. Isto porque sua fala é simples. Prezando pela economia de elementos, os poemas de Quintana têm alto poder de sensibilização naqueles que entram em contato com sua obra. Talvez por este fato, os poemas de Quintana são os mais compartilhados nas redes sociais, ao lado de Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector.

Mário de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906. Era o quarto filho da família de pai farmacêutico e mãe dona de casa. Começou a estudar aos sete anos lendo o jornal Correio do Povo e o básico para o francês. Em 1915, começa a frequentar a escola do mestre português Antônio Cabral Beirão, onde conclui o primário. Nesta época, alguns de seus primeiros trabalhos são lançados na revista Hyloea, do órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio. Em 1924 deixa o Colégio Militar por motivos de saúde e começa a trabalhar na Livraria do Globo, onde fica por três meses como Mansueto Bernardi. Em 1934 lança sua primeira tradução: o livro Palavras e Sangue, de Giovanni Panpini. Em 1940 lança seu primeiro livro de poesias.

 

Vida

Durante vários anos de sua vida, Mário Quintana se dedicou ao trabalho nos jornais. A leitura influenciada pelo pai quando pequeno o levou para a profissão. Teve participação, por exemplo, no semanal O Pasquim, veículo de mídia humorística que criticava e atacava as medidas do governo durante a ditadura militar. No ano de 1953, trabalhou no jornal Correio do Povo com uma coluna de cultura nos sábados. Pouco tempo depois, ele sai do jornal e os prêmios de literatura passam a se acumular. Em 1966, com a publicação da Antologia Poética, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, o poeta é saudado pela Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recitam Quintanares, poema de autoria de Manuel Bandeira. “Meu Quintana, os teus cantares/ Não são, Quintana, cantares:/ São, Quintana, quintanares.” Apesar das saudações, Quintana carregava sentimentos ariscos quanto à academia. O poeta havia sido convidado a concorrer por uma cadeira diversas vezes, mas sempre perdia durante o voto. Sobre a academia, ele chegou a dizer que: “Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro.”

 

Poesia

Mário Quintana nunca se casou, não chegou a ter filhos e segundo relatos, vivia boa parte de sua vida sozinho. Entre os anos de 1968 e 1980, Mario Quintana viveu em diversos hotéis. Conta-se que certa vez ele fora despejado do Hotel Masjestic, no centro histórico de Porto Alegre, devido ao fechamento do Correio do Povo, onde trabalhava. Com problemas financeiros, o poeta foi morar em um quarto no Hotel Royal, cedido pelo comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão, dono do imóvel. O quarto era pequeno, mas Quintana dizia: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas.” Das pequenas coisas como seu quarto, até os pequenos poemas, tudo que se refere a Mário Quintana tem alto teor de sensibilização. Abrir um livro dele é como abrir um janela minúscula em quarto escuro.

 

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tu que estás numa cela abafada,

esse ar que entra por ela.

Por isso é que os poemas têm ritmo para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

 

 

 

 

 


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