Cultura

Ozzy Osbourne fundou heavy metal com peso e terror

Redação Diário da Manhã

Publicado em 22 de julho de 2025 às 22:30 | Atualizado há 3 horas

Ozzy se despediu dos palcos foi em Birmingham, Inglaterra, há menos de três semanas - Fotos: Instagram
Ozzy se despediu dos palcos foi em Birmingham, Inglaterra, há menos de três semanas - Fotos: Instagram

Ozzy, ex-vocalista do Black Sabbath, ajudou a revolucionar a música nos anos 1970 ao ser um dos criadores do heavy metal. Ele sofria nos últimos anos de uma condição de saúde

Marcus Vinícius Beck

Ozzy Osbourne, o inesquecível príncipe das trevas, morreu nesta terça (23/07) aos 76 anos. Ex-vocalista do Black Sabbath, o artista sofria nos últimos anos com a doença de Parkinson. 

“É com mais tristeza do que as palavras podem transmitir que nós divulgamos a morte do nosso querido Ozzy Osbourne, na manhã de hoje. Ele estava com a família e cercado de amor”, disseram os filhos Jack, Kelly, Aimee e Louis e a esposa Sharon Osbourne em nota.

Nascido em Birmingham, em 1948, Ozzy era filho de dois operários. O pai trabalhava por horas como fabricante de ferramentas. “Eu costumava dormir na cama com um de meus irmãos. Não tínhamos lençóis. Tínhamos de usar cobertas velhas”, dizia em entrevistas.

Aos 11 anos, foi abusado sexualmente por dois meninos. “Foi terrível. Parecia não ter fim”, afirmava. Também acabou preso por roubo. “Eu não prestava para nada. Era um completo inútil”, depreciava-se, lembrando, no entanto, de ter uma mãe que fazia o melhor que podia.

Artista veio da classe trabalhadora de Birmingham, na Inglaterra – Foto: Divulgação

Esse ambiente proletário ajudou a forjar a sonoridade daquele projeto que definiria Ozzy, o Black Sabbath, cujo som revolucionou a música no século 20. Formada em 1968, a banda surgiu para tocar blues e algo dos Beatles. Logo depois, todavia, tudo foi reavaliado.

“Como Ten Years After e Fleetwood Mac, nós tocávamos essas coisas”, falava o cantor, dizendo que ele, Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) se apresentavam por dinheiro nenhum. “Fazíamos até mesmo recepções para casamentos.”

Ninguém estava nem aí para o som ancestral do Mississippi — essa era a verdade. Os bares onde tocavam eram abarrotados de pessoas e as vozes ecoavam em um volume maior do que a guitarra de Tony. Então Geezer sacou que era necessário mudar as letras e o som.

De repente, o guitarrista teve uma ideia. “É interessante. Eu estava observando o cinema”, disse o músico a Ozzy. “Você não acha esquisito as pessoas pagarem para ficarem com medo? Talvez devêssemos escrever música assustadora, que metesse medo nos outros.”

Black Sabbath causou abalos sísmicos na música durante os anos 1970 – Foto: Divulgação

Nomeada em celebração a um filme de terror dirigido por Boris Karloff, a banda lançou o primeiro disco em 1970. Soa maligno: a faixa de abertura — homônima, diga-se — inaugura o heavy metal. Tudo era sinistro ali — a capa, os ruídos, as canções. Mas, uau!, que deleite.

Segundo Ozzy, o elepê de estreia parecia grosseiro porque havia sido gravado em dois dias. O orçamento, em razão desse tempo no estúdio, era apertadíssimo. Além de tudo, como se ouve, simulava-se uma gravação ao vivo, com direito a picos de volume e microfonias.

Há um prazer inenarrável em se deixar embalar pela atmosfera hipnótica e densa de “Warning”, um blues longo e intenso lançado no primeiro disco do Sabbath. Ozzy destila um canto fantasmagórico entrelaçado aos grooves de Geezer e ao instinto rítmico de Bill, numa jam session extensa, psicodélica, pesada e livre em suas variações imprevisíveis.

Meses depois, ainda em 1970, o Sabbath voltou a causar abalos sísmicos na música. Pensando em qualidade, o segundo elepê é um salto grandioso. “War Pigs” capta os ânimos da juventude ocidental, já de saco cheio com a guerra promovida pelos EUA no Vietnã.

Banda estreou com o disco “Black Sabbath”, lançado em 1970: blues com peso e terror – Foto: Divulgação

“Este país é assustador para as gerações mais jovens, pois está em guerra”, declarava. O disco “Paranoid”, que tinha ainda o hino apocalíptico “Iron Man”, fez Ozzy e seus parceiros conhecidos nos EUA, chegando a ocupar por lá o décimo segundo lugar nas paradas.

Lançado em 1971, “Master of Reality” — com seu som cacofônico e psicodélico — assentou o chão para o doom metal. Em “Volume 4”, de 1972, a banda alimentava raízes heavy e dark, embora tenha coincidido com seu período mais hedonista. “São fatias de um heavy metal fluente”, classificou a revista “Rolling Stone”, assim que o material chegou às lojas.

Pós-Sabbath

Em 1979, Ozzy estava dependente de álcool e drogas. Não deu outra: foi expulso do Sabbath. Iniciou então a bem-sucedida carreira solo, na qual perseguia uma sonoridade pesada e investia em composições melódicas. “Crazy Train” e “No More Tears”, bem como a balada “Mama I’m Coming Home”, são sucessos do cantor fora da banda que o consagrou.

Ozzy não se ressentia por ter sido mandado embora. Pelo contrário, o vocalista dizia ser compreensível que um mandasse o outro juntar as suas coisas. “Não havia ninguém pior do que qualquer um”, recordava-se. “Naquela época, estávamos todos na cocaína.”

Quando esteve no Brasil, em janeiro de 1985, Ozzy falou de sua imagem macabra. “As pessoas tendem a acreditar mais no que elas leem sobre você. A parte publicitária do Ozzy Osbourne está muito longe do que eu realmente sou. Só gostaria que as pessoas parassem e escutassem antes de julgar, mas elas não fazem isso”, afirmou à TV Globo na ocasião.

“As pessoas tendem a acreditar mais no que elas leem sobre você. A parte publicitária do Ozzy Osbourne está muito longe do que eu realmente souOzzy Osbourne, cantor

O roqueiro tentou, em 1989, enfocar a esposa Sharon, que se desvencilhou e o denunciou. Ozzy acordou no dia seguinte na cadeia, mas não se lembrava do que havia feito. Perguntou para o carcereiro tinha acontecido. “John Michael Osbourne, acusado de tentativa de assassinato a Sharon Osbourne”, disse-lhe. “Eu quebraria meu pescoço para que isso não acontecesse.” 

Entre 1980 e 2022, o príncipe das trevas lançou 13 álbuns. O penúltimo, “Ordinary Man”, saiu em 2020. Dois anos depois, lançou “Patient Number 9”, que teve participações de Jeff Beck, Mike McCready, Eric Clapton, dentre outros. Aos poucos, Ozzy saía de cena.

Antes desses álbuns, todavia, apresentou-se no Brasil com a formação original do Black Sabbath. Em 2016 e 2018, a banda passou por Curitiba, Rio e São Paulo com sua formação clássica, sendo incensada pelo público brasileiro em apresentações históricas.

“Sei que já contei muitas mentiras em minha vida. Menti pro Tony e pro Geeze que eu ia sair da banda e voltei tantas vezes. Menti pra Sharon que tinha largado as drogas e bebidas e logo eu entrava de novo na reabilitação. Menti que apareceria em algumas gravações e dei muitos canos. Mas, olha, agora vocês podem acreditar em mim”, declarou durante show em 2017.

Dito e cumprido: a despedida dos palcos foi há menos de três semanas, em Birmingham, Inglaterra, terra natal de Ozzy e berço do heavy metal. “Vocês não têm ideia de como eu me sinto”, disse à plateia de 45 mil pessoas, no estádio Villa Park. Um adeus épico e comovente.

Ozzy se despediu dos palcos há menos de três semanas, em Birmingham, sua terra natal – Foto: Instagram/ Arquivo Pessoal

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