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Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás, deixa goianos ansiosos

Com homenagem a fundador da Ovat, Procissão do Fogaréu espera atrair milhares de pessoas. Objetivo também é emocionar milhões de fiéis

Conhecidos como Farricocos, devotos participam da procissão do fogaréu na cidade de Goiás; a cerimônia simboliza a prisão de Cristo e os fiéis encapuzados representam os soldados romanos Conhecidos como Farricocos, devotos participam da procissão do fogaréu na cidade de Goiás; a cerimônia simboliza a prisão de Cristo e os fiéis encapuzados representam os soldados romanos

As ruas da Cidade de Goiás estão mais movimentadas e, ao virar os olhos para as esquinas da antiga capital goiana, é possível avistar o burburinho de equipes de reportagens e ônibus de excursões vindos de diferentes localidades do Brasil. Hoje, afinal de contas, é dia de Procissão do Fogaréu, um dos momentos mais badalados na pacata rotina vilaboense.

De acordo com estimativas da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (OVAT), que realiza a procissão, a expectativa é que o evento atraia mais de 40 mil pessoas. A tradição é símbolo de uma programação que resistiu ao tempo e, mais do que isso, colocou a cidade do ciclo do ouro no mapa dos eventos religiosos e culturais do mundo.

A procissão se concentra na porta do Museu de Arte Sacra da Boa Morte. A iluminação pública da cidade é apagada e casas e comércios do centro histórico são orientados a também apagarem a luz. Assim, à 0h, quando a procissão sai às ruas, apenas as chamas das tochas iluminam a silhueta desse patrimônio mundial da humanidade pela Unesco.

À medida que a marcha passa apressada ao som dos tambores, Vila Boa ganha nuances mais interessantes. O caminho é aberto por um grupo de 40 farricocos, personagem encapuzado que representa os soldados que capturaram Jesus Cristo. Ao sair da igreja Boa Morte, o cortejo desce a Praça do Coreto, passa pela Cruz Anhanguera e atravessa a Ponte do Museu Casa de Cora, em direção ao Santuário do Rosário. Lá, é representada a última ceia.

A procissão continua pelas ruas da cidade até chegar à Igreja São Francisco de Paula, que faz as vezes do Monte das Oliveiras, onde Cristo foi capturado. Neste local, surge um estandarte com a imagem do Messias e um toque de clarim - tocado por um dos farricocos - e anuncia que Jesus está preso. Há um momento de silêncio e é a hora de uma reflexão do bispo Dom Jeová. Em seguida, a procissão retorna para as imediações da Praça do Coreto.

Comparações

A primeira procissão ocorreu em 1745, quando o pároco do município à época, padre espanhol João Perestelo de Vasconcelos Espíndola, trouxe o costume à Cidade de Goiás. Mas a tradição passou um período enfraquecida, sem fazer o estardalhaço que faz hoje e ter a importância que tem. Quem a resgatou foi o escritor e memorialista Elder Camargo de Passos, fundador da Ovat, que retomou a tradição para torná-la um ícone da cidade.

Para a preservação do fogaréu, bem como outras tradições do município, nesta edição, a procissão vai homenagear Passos. “A procissão vai parar em determinado ponto e fazer uma reverência a ele”, detalha ao DM o presidente atual da Ovat, Rodrigo Pássarus, ressaltando a figura de Elder como central na reinserção do cenário religioso, cultural e turístico em Goiás.

“Na década de 60, Goiás era uma cidade fantasma, muitas das atividades eram realizadas dentro das igrejas, como o Descendimento da Cruz, por exemplo, que acontecia dentro da Matriz de Sant’Ana. Elder, então, passou a fazê-la nas ruínas da Igreja Boa Morte, em seguida foi para a Quadra do Jubé e depois levada para Praça do Chafariz”, ratifica.

Esse tipo de homenagem, durante a procissão, começou a ser feita no ano passado, no retorno da Procissão do Fogaréu, após dois anos de hiato devido à pandemia. Na ocasião, conforme foi documentado pela imprensa, o evento contou com a participação de um farricoco com vestimentas pretas em homenagem às vítimas da covid-19.

Goianos ansiosos para procissão

Vilaboense, o advogado Tiago Mourão, 35, mora em Goiânia há muitos anos. Mas não faz questão apenas de participar das celebrações da Semana Santa no histórico município goiano, como também marca presença nas procissões da Quaresma, junto da família.

“Sempre participo da Procissão do Encontro e das Dores, além das celebrações da Semana Santa. Um dos motivos que me motiva ir à Semana Santa em Goiás é poder vivenciar as tradicionais procissões, renovando e fortalecendo nossa fé em Cristo”, diz.

Como se sabe, os farricocos, que saem às ruas vilaboenses na Procissão do Fogaréu, vestem roupas de cores vibrantes como roxo, alaranjado, amarelo e vermelho. Muito já se falou da semelhança dos farricocos com os trajes dos membros da Klu Klux Klan, organização do sul dos Estados Unidos formada por supremacistas brancos, no século 19. Mas o presidente da Ovat, Rodrigo Pássarus, explica à reportagem que os farricocos vieram primeiro.

“O Farricoco é um soldado usado para representar os soldados que capturaram Jesus e nada mais. O farricoco vem das procissões medievais e a Klu Klux Klan nasceu em 1865. As comparações desse tipo não fazem sentido”, afirma Rodrigo, durante bate-papo com DM.

Além da Procissão do Fogaréu, a Cidade de Goiás traz programação movimentada durante a Semana Santa. Outro ponto alto acontece na Sexta-feira da Paixão em que há o Descendimento da Cruz na Praça do Chafariz e é encenada a crucificação de Cristo.

No mesmo dia, é possível contemplar interpretações de músicas sacras no Canto do Perdão (masculino e feminino), dentre outras atividades.

Veja a programação da Semana Santa:

Quarta-feira Santa17h - Fogaréuzinho - saída Museu das Bandeiras20h30 - Via Sacra - Catedral de Sant’Ana

29h59 - Procissão do Fogaréu - saída Museu de Artes Sacra da Boa Morte

Quinta-feira

19h - Missa Lava-pés e Santa-Ceia do Senhor na Catedral de Sant’Ana seguida por adoração ao Santíssimo Sacramento até às 23h.

19h - Missa Lava-pés e Santa-Ceia do Senhor na Igreja do Rosário seguida por adoração ao Santíssimo Sacramento até às 00h.

19h - Missa Lava-pés e Santa-Ceia do Senhor Igreja Santa Rita

23h - Procissão dos Penitentes - saída Igreja de São Francisco de Paula.

Sexta-feira da Paixão

5h - Via Sacra da Capela de Nossa Senhora Aparecida até a Igreja de Santa Rita

6h30 - Via Sacra da Catedral de Sant’Ana até Morro do Cruzeiro

10h Canto do Perdão (masculino) - Igreja de Nossa senhora D'Abadia

14h - Canto do Perdão na Igreja do Rosário

15h - Adoração da Santa Cruz na Catedral de Sant'Ana, Igreja do Rosário e Igreja Santa Rita

18h Canto do Perdão (feminino) Igreja São Francisco de Paula.

20h - Descendimento da Cruz e Sermão das Sete Palavras, no Largo do Chafariz, em seguida Procissão do Senhor Morto.

Sábado de Páscoa7h - Caminhada à Serra Dourada - saída na prefeitura

18h - Concerto de Páscoa - Igreja do Rosário

19h - Vigília Pascal na Igreja do Rosário e na Igreja Santa Rita

20h - Vigília Pascal seguida de procissão da Ressurreição na Catedral de Sant’anna

Domingo de Páscoa

8h - Missa da Ressurreição (Igreja Nossa Senhora Aparecida - Areias, e Igreja do Rosário)

10h - Missa da Ressurreição com saída da Folia do Divino, na Catedral de Sant’Ana

19h - Missa da Ressurreição Catedral de Sant’Ana e Igreja Santa Rita

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