Home / Cultura

Música

Quem vai ganhar o Grammy?

Maior premiação da indústria fonográfica ocorre no próximo domingo, com transmissão tanto pela televisão quanto pelo streaming

Joni Mitchell, lenda do folk: homenageada - Foto: Nina Westervelt Joni Mitchell, lenda do folk: homenageada - Foto: Nina Westervelt

Astros da música se reúnem em Los Angeles neste domingo, 4, para o Grammy 2024. Com transmissão pelo canal TNT e pelo serviço de streaming HBO Max a partir das 21h30, o evento surpreende neste ano ao homenagear a cantora Joni Mitchell, lenda do folk que se apresenta pela primeira vez na badalada premiação da indústria fonográfica. Billy Joel, Dua Lipa, Olivia Rodrigo, Luke Combs, Travis Scott e Burna Boy também cantam, enquanto o U2 toca de maneira remota, pois está em temporada numa casa noturna de Las Vegas.

Mulheres são cotadas para vencer nas principais categorias. SZA, por exemplo, concorre a nove prêmios, dentre os quais melhor álbum (“SOS”) e gravação do ano (“Kill Bill”). Ela é uma das maiores estrelas do pop em atividade. Como tal, cria letras espertas capazes de acalentar os jovens, cantando obscenidades, traições, feridas e inseguranças, em uma musicalidade que bebe nas águas da black music: geralmente identificamos ali guitarra funkeada, bateria suingada e baixo vigoroso. Síncope jazzística é o que há de mais charmoso.


		Quem vai ganhar o Grammy?
SZA, nove indicações: síncope jazzística - Foto: Jacob Webster. Marcus Vinícius Beck

Se SZA tem tudo para se transformar na estrela da noite, o que dizer então de Billie Eilish, Miley Cyrus, Olivia Rodrigo ou Taylor Swift? Bom, cada uma delas soma seis indicações. Não é pouca coisa e, de fato, boas obras foram criadas pelas artistas no último ano. Billie demonstra capacidade para fazer música que gruda em nossos tímpanos, como escutamos nos emocionantes acordes menores em sétima tocados na faixa “What Was I Made For”. Soam charmosamente anos 70, quando John Lennon gravava suas belíssimas baladas.

Convém ficar de olho também em Miley Cyrus. Ela está, vamos dizer assim, mais pra Metallica do que Hannah Montana. Exibe tatuagens. Põe-se num vestido preto ajustado ao corpo. A jovem está amadurecida. Agora, até fala em Muddy Waters, quer cantar country e tem o ex na conta de um pé no saco, só pra não fugir muito daquilo que temos constatado no pop. Mais do que nunca, com “Endless Summer Vacation”, Miley é Miley - para alegria daqueles que já não mais suportavam vê-la se prestando a um papel, no mínimo, indesejável.


		Quem vai ganhar o Grammy?
Olivia Rodrigo, surpresa: single roqueiro e disco de destaque. Marcus Vinícius Beck

Surpresa

Até aqui, a surpresa ficou a cargo de Olivia Rodrigo. Não que a gente colocasse em cheque seu talento precoce, mas a jovem cantora aparece em melhor canção de rock com “Ballad of a Homeschooled Girl”. Essa faixa, tivesse sido gravada nos anos 90, seria considerada uma das mais impactantes do grunge. Isso mesmo que você leu: grunge! Não chega a ser novidade alguma para os fãs, uma vez que Olivia nunca escondeu nas entrevistas à imprensa o apreço pelo rock alternativo dos anos 90, caso de Pearl Jam, Alice in Chains, Foo Fighters e Nirvana.

É bom ouvir um riff vigoroso. Aliás, um riff que lembra as frases construídas pelo guitarrista Mike McCready, um dos homens responsáveis pelas seis cordas elétricas do Pearl Jam - o outro é Stone Gossard. E, sim, há algo reconfortante nisso - sobretudo se você pensar que o rock já foi dado como morto zilhões de vezes. Na categoria canção de rock, o páreo é duríssimo, porque concorrem Boygenius, Foo Fighters, Olivia Rodrigo, Queens of the Stone Age e Rolling Stones - anos atrás, sutilmente arrogante, Jagger desdenhara do gramofone.

Pragmático - como sempre é -, o stone declarou à “Associated Press” que não dá tanta bola ao prêmio. “Não, eu não me importo muito com o Grammy”, afirmou, ao ser questionado sobre o fato de os Stones terem só três gramofones na carreira. “Não estou dizendo que não é legal ter, é lindo. Mas não vai partir meu coração se eu não o conseguir e se o meu Grammy conta, não é mais que o das outras pessoas. É bem legal ganhar um. Eu agradeço”, contemporizou o vocalista. Sua banda ganhara, em 2017, melhor disco de blues com “Blues & Lonesome”.

Seja lá como for, os Stones estão na disputa de novo com o single “Angry”, favorito para levar melhor canção de rock. É difícil ouvi-lo como se ouve outros por aí. Orgânico, carrega o DNA stoniano no pulso rítmico da perigosa guitarra tocada por Keith Richards. Ele e Ron Wood, aliás, se entendem muito bem. A voz de Jagger está tatuada em nossos tímpanos há 60 anos, mas falta a bateria sofisticada e econômica de Charlie Watts - ainda que Steve Jordan (ex músico de BB King e Aretha Franklin) mande bem ali atrás.

Uma curiosidade na edição deste ano é que fã e ídolo brigam na mesma categoria. Sensível à obra de Taylor Swift, Olivia Rodrigo se inspira na estrela pop para criar canções. O fato é que tanto “Guts”, disco de Rodrigo, quanto “Midnights”, álbum de Swift, são obras interessantes. Claro, é preciso despir-se de preconceitos para apreciá-las. E, veja bem, há concisão, melodias chicletes e potência roqueira, elementos de “Guts”, ou letras capazes de acalentar corações atarantados, característica essencial das músicas swiftianas. Sim, o melhor álbum do ano está indefinido.

Lenda

Outro detalhe chama atenção: as duas são fãs de Joni Mitchell, rainha da música folk. Mitchell descobriu aneurisma cerebral, em 2015, e teve a fala afetada. Só retornou aos palcos em 2022, numa apresentação surpresa que originou o disco “Joni Mitchell At Newport”. Comovente e emocionante, a cantora pode vencer como melhor disco folk. Não deixa de ser irônico assisti-la num evento que representa a indústria musical, da qual a cantora, inclusive, é uma das críticas mais fervorosas - em 2021, polemizou ao retirar seus discos do Spotify, num protesto contra a disseminação de fake news em um podcast de extrema direita na plataforma.

Nas categorias menos badaladas, caso de blues contemporâneo, jazz instrumental e jazz latino, há nomes para os quais vale a pena ficarmos de olho. O primeiro, obviamente, é o guitarrista Christone “Kingfish” Ingram, jovem de 24 anos que concorre com o disco “Live in London”. Já Lakecia Benjamin é favorita para vencer com “Phoenix” (disco de jazz instrumental) e “Basquiat” (performance vocal de jazz). Já o pianista brasileiro Ivan Lins briga por fora na categoria jazz latino. Com a orquestra sinfônica de Tbilisi, ele lançou no ano passado “My Heart Speaks”.

Mais vídeos:

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias