Cultura

“São João tem gosto de festa”, diz cantora Mariana Aydar

Redação Diário da Manhã

Publicado em 15 de junho de 2025 às 19:28 | Atualizado há 7 horas

Mariana Aydar mescla a linguagem pop e tradição forrozística em “Xote Destino” - Foto: Flora Negri
Mariana Aydar mescla a linguagem pop e tradição forrozística em “Xote Destino” - Foto: Flora Negri

Ao Diário da Manhã, cantora celebra santo popular, revela como começou sua ligação com o forró e lembra Luiz Gonzaga. Fala também dos aromas, sabores e sons do período junino, retratados em seu novo trabalho

Marcus Vinícius Beck

Soa como um cafuné no ouvido. Enquanto expressa lirismo doce, a cantora Mariana Aydar, 45, sonha. “O destino escolheu por mim”, entoa, entre acordes e teclados, em “Xote Destino”.

Sanfona dá o tom. O destino se esculpe na sedução do tempo. Peça por peça, tudo vai se encaixando, ganhando forma — tal e qual um beijo que devora o desejo. A música, disponível nas plataformas digitais, lança olhar sobre a travessia pessoal da cantora paulistana. 

Nos anos 1990, aprofundou-se no forró universitário. Trilhou seu próprio caminho, indo para a MPB e enveredando pelo pop, mas jamais perdeu a conexão com a música nordestina. Ao contrário, a artista cita nas músicas artistas de lá. João Cabral de Melo Neto é um deles. 

O poeta pernambucano aparece nos versos de “Foguete”, single lançado em 2020. “Um galo sozinho não tece uma manhã”, vocaliza Aydar, num intertexto com o autor de “Morte e Vida Severina”. “Senti na pele a mão do teu afeto quando escutei o canto do acauã.”

Aydar: “Sempre gosto de ter uma música para esse momento do ano” – Foto: Flora Negri

Em “Xote Destino”, a cantora se volta às festas juninas. Mescla a linguagem pop e tradição forrozística, traz sintetizadores e guitarra ao clássico trio de forró — com sanfona, zabumba e triângulo. Resultado: dançante. Muita personalidade em um xote romântico daqueles. 

“Triângulo ritmado fazendo o meu legado. Chama todo mundo para dançar”, canta Aydar, vencedora do Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Álbum de Raízes. O disco que a levou para a glória foi “Mariana e Mestrinho”, publicado pelo selo Brisa/ LF+C. 

Na entrevista que se segue, Mariana Aydar celebra São João, revela como começou sua ligação com o forró e lembra Luiz Gonzaga. Fala também dos aromas, sabores e sons do período junino e afirma que a memória ensinou-lhe a honrar sua história:

Cantora afirma que se diverte “muito” durante o período das festas juninas – Foto: Flora Negri

Diário da Manhã – Como a festa de São João te guiou na criação da faixa “Xote Destino”? 

Mariana Aydar – Sempre gosto de ter uma música para esse momento do ano, que é super importante pra mim. A gente fica pensando em alguma faixa que tenha esse espírito do São João. E essa faixa apareceu de uma maneira muito natural. Ela é muito importante para mim, porque conta da minha história, do meu destino, dentro do forró, de como ele se entrelaçou com a minha vida e com o meu caminho. 

Na verdade, eu estava fazendo uma imersão muito interessante para fazer um show novo, que acabou não rolando. Essa versão era com Barro, o compositor de “Xote Destino”, meu parceiro de várias músicas. A gente começou a falar muito das minhas histórias no forró. Contei algumas histórias para ele. Barro disse: ‘poxa, ninguém sabe dessas histórias. Precisamos colocá-las em uma letra de um jeito poético’. 

DM – Quando começou sua história com o forró? 

Aydar – Minha história com o forró começou quando minha mãe foi empresária do Luiz Gonzaga [ela é filha da empresária Bia Aydar]. Ele me deu uma boneca e tem na música este trecho: “a boneca de criança/ o gosto da zabumba”. Desde aí, com uma história e um destino bonitos, o forró entrou na minha vida. Tinha tudo a ver lançar nessa época do ano. 

DM – Qual é a grande lembrança que você tem de Luiz Gonzaga, o nosso rei do baião?

Aydar – Vou contar a história de quando ele me deu essa boneca. Foi num shopping em São Paulo, o Iguatemi. Tem um relógio de água super grande e bonito. Ele ficou olhando esse relógio. Agora a gente falando um pouco das histórias, eu pensei isso. Um relógio, o tempo passando: aquilo, para mim, foi muito poético. Eu ainda era menina. E estava um pouco ansiosa para andar no shopping. Gonzaga já tinha falado que ia me dar uma boneca. Eu estava ansiosa para entrar na loja de brinquedo. Mas ele tomou todo o tempo dele naquele relógio. Ele ficou olhando muito tempo o relógio parado — com as mãos para trás.

Para mim, o São João tem gosto de festa. Por mais que eu trabalhe nessa época, eu me divirto muito. Gosto de ver as pessoas dançando, gosto muito das comidas de milho, do cheiro da fogueiraMariana Aydar, cantora

DM – Quais são os aromas, sabores e sons que o período junino desperta em você?

Aydar – Olha, os aromas, sabores e sons… Para mim, o São João tem gosto de festa. Por mais que eu trabalhe nessa época, eu me divirto muito. Gosto de ver as pessoas dançando, gosto muito das comidas de milho, do cheiro da fogueira. Em cada festa que eu vou, em cada lugar em que eu estou, encontro um sabor e um aroma especiais. 

DM – O que a festa junina, para você, tem de mais interessante e fascinante?

Aydar – A festa é mágica. Tem uma coisa lúdica nela. As pessoas se fantasiam. E o forró entra num protagonismo. Para mim, o forró está num protagonismo o ano inteiro. Mas é nessa hora que ele entra num protagonismo para o Brasil todo. Fico feliz em vê-lo sendo reverenciado do jeito que ele merece nessa época do ano. 

DM – Como avalia a nova geração de artistas ligados ao forró?

Aydar – Está vindo uma galera muito legal. A cena vem se renovando, com um público mais jovem. O novo sempre vem. Consigo ver isso. Estou no Rio [de Janeiro] agora. Sempre que eu saio aqui tem alguém ou alguma coisa nova, algum forró novo, um público diferente surgindo. Em São Paulo também têm alguns movimentos de forró não-mono, de forró sapatão, de gêneros. É algo bem novo. Eu vejo como um lugar bem positivo. 

Aydar diz que “MPB é forró” e torce para as pessoas entenderem que gênero faz parte da música brasileira – Foto: Flora Negri

DM – “Xote Destino” entrelaça forró e letra autorreferencial. O que a memória nos ensina? 

Aydar – A memória ensina a gente a honrar nossa história. Muitas vezes a gente não se dá conta de algumas coisas que acontecem. Tantas coisas que acontecem sem nem você saber. Tipo um Luiz Gonzaga aparecer na sua vida e você não saber que, aos 40 anos, ia começar a cantar forró. Escolhas que você faz na vida e que têm consequências lá na frente. As memórias servem para você honrar seu caminho e aprender a fazer um futuro mais bonito.

DM – Por que os caminhos da MPB sempre te levam de alguma forma ao forró?

Aydar – MPB é forró. Queria cada vez mais que a gente entendesse que o forró faz parte da música brasileira. É um pilar super importante. Eu sempre amei esse gênero. Esteve misturado em minha vida, por mais que eu tenha cantado bastante samba e outros gêneros — música brasileira como um todo, incluindo o forró. Sempre esteve ali entrelaçado [o forró].

DM – Você inclusive já dedicou um disco ao ritmo. Como tem sido reinventá-lo? 

Aydar – Por mais que eu tenha gravado forró em todos os meus discos — baião, xote, rastapé —, meus dois últimos são dedicados a ele e à música nordestina. Tinha vontade de experimentar, de mexer nos ritmos, de colocar contemporaneidade, o meu tempo, o que eu ouço. Estou muito feliz com isso. Sinto que faço um forró com a minha cara, com as minhas influências, do que ouço. Isso vem de um jeito bem natural. “Xote Destino” tem muito disso. Tem um lugar de beat, aquela guitarra do começo, que não tem uma sonoridade tão forrozeira. “Xote Destino” é mais um passo dessa reinvenção, dessa desconstrução. Mas respeitando, lógico, esse lugar onde eu me alimento. 

DM – Como será a vida após o Prêmio da Música Brasileira?

Aydar – A vida após o Prêmio da Música Brasileira [risos]? Poxa, eu estou muito feliz! Porque é tão difícil fazer música. É tão trabalhoso. Dá muita ralação. Dá um ‘você está no caminho certo’. É um gás a mais. Estou muito feliz. Ainda com esse prêmio, que tenho um carinho muito grande. É a primeira que sou indicada. Eu ganhei junto com meu parceiro e amigo Mestrinho. Esse disco tem nos dado muitas alegrias. 

Mariana Aydar declara que disco com Mestrinho tem lhe dado “muitas alegrias” – Foto: Flora Negri

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias