Seu Jorge abre Claque com show repleto de hits na PUC
DM Redação
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 22:15 | Atualizado há 1 minuto
Marcus Vinícius Beck
Exatamente como você, o cantor Seu Jorge espera algo de um sábado à noite. “Vai ter som, vai ter sol, tu vai ver só”, recita o artista na música “Sábado à Noite”, a 2ª do disco Baile à La Baiana. “É aquele balanço de negão, mistura carimbó, atabaque, funk, funk, funk.”
Tome, pois, a música suingada desse cidadão brasileiro, das ruas e do mundo: sábado, dia 4, no Centro de Convenções da PUC, a partir das 21h. Sim, o gogó da gema fará suceder — como avisa o crítico musical Jotabê Medeiros — as canções espalha-comanda-de-garçom.
Jotabê, que diabo é isso? Ora, diz o escriba, é o tal “suingue que cerca a figura de Seu Jorge”. “Ele já forjou hits em quantidade suficiente para arregimentar todo tipo de suscetibilidades de plateias”, explica na peça jornalística “Seu Jorge, Está Nascendo um Novo Líder”.
Bravo, bravíssimo. “Mina do Condomínio” — você sabe — tira as cinturas mais duras para dançar no teatro, ao mesmo tempo que “Burguesinha” requebra quadris e descreve a rotina de uma sublime filhinha de papai. “Felicidade”, por sua vez, derrama aquele lirismo odara.
Sabemos que Seu Jorge guarda na voz seu triunfo. Soa grave, trovejante, situando-se entre o “brega-chique que remonta aos anos 70, filtrado por gargantas tão díspares como a do sambista João Nogueira e a do ultrabrega Wando”, como nota Pedro Alexandre Sanches.
O ensaísta pinçou tal retrato quando o cantor voltou-se para o samba-rock. Em 2001, circulava o disco “Samba Esporte Fino”, cujo repertório reunia elogiáveis composições — como “Carolina”, “Mangueira”, “Funk Baby” e, principalmente, “Chega no Suingue”.
Esta última é um belo preâmbulo: “Há muito tempo estamos reclamando o rumo do país / mas agora não dá mais.” No compasso da empolgação, dançando e suingando, a canção vira metonímia do show que veremos amanhã no Claque Cultural. “Aqui tem gafieira”, entoa.
Dito isso, você pode se soltar — “vejo tanta gente diferente / esperando pra festa começar”. Botemos a cerveja no congelador, liguemos o fogo pra feijoada, amarremo-nos no samba. A malandragem, sopra-me Seu Jorge, tá ligada em você. Leve o som pro talo do astral.
Flamenguista, fã de Zico, o artista driblou a pobreza. Veste, não à toa, a camisa dez da música popular. Quando canta “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, apresenta suas credenciais de artista conectado ao espírito do tempo — implode o racismo, denuncia-o pra todos, pede nosso cuidado, quer nossa atenção, porque é papo furado esse lance de simetria social.
Seu Jorge deu caneta em um milhão de adversidades. Há tempos — pelo menos desde 2001 —, virou-se para o samba-soul, samba-funk, samba-rock. Faz, como se vê, um sambão dos bons: lelelelê lelelelelelelelelê. Isso, é fato, enlouqueceu a gringaiada com “Cru”, de 2004, no qual priorizou um esquema baseado em voz e violão. Nem a “mania de peitão” escapou.
Qualquer artista está sujeito a críticas. Seu Jorge, lembremos, foi acossado por duas músicas de teor machista: “Amiga da Minha Mulher” e “Mina Feia”. “Se fosse mulher feia”, canta na primeira, “estava tudo certo”. Na segunda, diz: “Minha mina é feia, mas não tem problema.”
No “Roda Viva”, da TV Cultura, o carioca se explicou: “Sempre cantei [sobre as mulheres] lá em cima. Sou contra colocá-las num lugar desagradável.” Sobre as canções, saiu com essa aqui: “Ele [o homem] se revela em dúvida sobre aquela situação — se ele pega, se ele não pega. Fica numa situação desconfortável com a sogra, com o cunhado que tá vendo aquilo.”
Humano, demasiado humano, as filhas o tornaram mais consciente: “Sem essas moças, eu não tinha aprendido bastante coisa. Todo debate é importante. Elas sempre apontam o que estão pensando, o que estão vendo.” Os homens, meus amigos, somos machistas.
Feitas as considerações patriarcais, voltemos à música. Se nos anos 2010 deixara o cavaco pra lá e mirara na soul music, num disco que recebera o brasileiríssimo nome “Músicas para Churrasco – Volume 2”, Seu Jorge resolveu celebrar a Bahia de todos os santos e seus sons.
O resultado foi o recém-lançado “Baile à la Baiana” — que saiu dez anos depois das “Músicas para Churrasco”. A obra, para o gogó da gema, vem das influências recebidas ao longo dos anos. “Mistura minhas raízes cariocas com a força da música preta da Bahia”, diz.
Acontece que Seu Jorge não para. Agora, ele anda sonhando com o Grammy, pois prepara o disco “The Other Side” para o próximo ano. Transita, nesse trabalho, entre jazz, bossa nova e samba — com uma pitada sonora do Clube da Esquina. Pode apostar: vem coisa boa aí.