Cultura

Silvio Santos em quadrinhos

Redação DM

Publicado em 24 de novembro de 2016 às 00:48 | Atualizado há 8 meses

Durante o final dos anos 1960, a Editora Prelúdio, onde trabalhava Lucchetti, enfrentava uma severa crise financeira, e ficou a cargo do escritor desenvolver um pacote de publicações que pudesse salvar a Prelúdio da falência. Entre as ideias elaborada por Ruben Francisco Lucchetti, uma delas, quase que nascida por impulso, consistia numa história em quadrinhos que narrasse a biografia do empresário e apresentador Silvio Santos, um ícone da televisão brasileira, desde aquela época.

Assim nasceu a revista Silvio Santos: Vida, Luta e Glória, escrita semanalmente, com toda a informação possível de ser absorvida durante os 10 minutos de um início de tarde que Silvio dispunha à curiosidade de Lucchetti. Ao fim da última entrevista, Lucchetti já tinha todo o material pronto para ser publicado. A revista em quadrinhos foi sucesso de vendas: duzentos mil exemplares.

Décadas depois do sucesso abrupto de Silvio Santos: Vida, Luta e Glória, um amigo de Rubens Lucchetti chegou à sua casa, trazendo de volta uma caixa que havia “herdado” do roteirista. Ao abrir, a surpresa: exemplares da HQ, que Lucchetti considerava desaparecidos há tempos, e que o amigo lhe viera devolver. A repercussão do fato foi tal, que Rafael Spaca, diretor de conteúdo da Editora Laços, de São Paulo, ao ler a entrevista de Lucchetti ao portal UOL, em 2015, em que Rubens relembrava a produção da HQ, procurou o mesmo a fim de que a obra fosse reeditada.

A importância desta biografia de Silvio Santos é tamanha, primeiro por se tratar da primeira biografia autorizada do apresentador, e segundo porque Silvio não concedeu muitas entrevistas desde então. Esta situação foi uma das poucas em que o apresentador foi de fato ouvido, sabendo-se que em outros períodos, comunicadores chegavam a “criar fatos” sobre a vida e o cotidiano dele. A HQ Silvio Santos: Vida, Luta e Glória retrata a trajetória de Silvio desde a origem humilde, o trabalho como camelô, até quando seu dom para os negócios passa a orientá-lo para a promissora carreira que hoje conhecemos.

O DMRevista conversou com o autor Rubens Lucchetti e com Alexandre Uehara e Paulo Durão, docentes das Faculdades Integradas Rio Branco, para sabermos a quantas andam os processos de restauração da obra, que já tem mais de quarenta anos de publicada. Só podemos aguardar a biografia de Silvio Santos retornar às bancas, a agradecermos ao advogado Geraldo Cossalter, amigo de Lucchetti, e que devolveu ao autor o exemplar perdido desta grande obra.

Entrevista com Paulo Durão e Alexandre    Uehara, docentes das Faculdades Integradas Rio Branco, coordenadores responsáveis pela restauração da HQ “Silvio Santos: Vida, Luta e Glória “

DMRevista- Como você tomou conhecimento da existência dessas HQs, e da possibilidade de republicá-las? De quem partiu a iniciativa?

Paulo Durão- O Rafael Spaca procurou as Faculdades Integradas Rio Branco e conversou com o diretor acadêmico prof. Dr. Alexandre Uehara, após isso em reunião comigo, Paulo Durão, coordenador do cursos de Design, Editoração e Publicidade começamos a pensar nessa atualização da revista. Temos uma agência júnior com alunos estagiários e eles estão fazendo a reformulação. Como era preto e branco, sugeri colorizar os originais que o Rafael Spaca trouxe. Depois mandamos para o autor ver e aprovar. A resposta foi favorável.

 

DMRevista- Como tem sido o trabalho de reedição?

Paulo Durão- No momento, preparamos um boneco com páginas preto e branco e algumas coloridas, pois estamos procurando patrocínio para reedição.

 

DMRevista- A obra preservará a íntegra da original, ou passará por atualizações?

Paulo Durão-  Os originais são preto e branco e sofrerão colorização e a intenção de atualizar a gramática do texto.

 

DMRevista- Sobre vendas, como serão comercializadas essas HQs? Existe uma previsão de quando estarão disponíveis?

Paulo Durão- No momento, preparamos um boneco e estamos procurando patrocínio para a reedição. Com o patrocínio prosseguiremos na colorização de todo material, que são 50 páginas contando a história do Silvio Santos em forma de quadrinhos. Não existe, no momento, revisão da disponibilidade, depende do patrocínio.

 

 

Entrevista com Rubens Francisco Lucchetti, biógrafo de Silvio Santos, autor da HQ “Silvio Santos: Vida. Luta e Glória”

DMRevista- Como se deu a decisão de reeditar a revista em quadrinhos, que retrata a história de Silvio Santos, desde seu início como camelô, até o máximo de sua carreira, como o maior ícone da televisão brasileira?

Lucchetti- A decisão para reeditar a revista Sílvio Santos, Luta e Glória foi do jornalista Rafael Spaca, a partir da leitura de uma matéria escrita por Guilherme Solari e publicada no UOL (essa matéria foi publicada por volta de março do ano passado, 2015). Depois, Rafael, que conheço desde 2006, viu a revista em minha casa. Então, começou a procurar um editor para ela. E encontrou-o na pessoa do sr. Kendi Sakamoto, da Editora Laços.

 

DMRevista- Antes que lhe fossem devolvidos os exemplares da HQ que o senhor dava como perdidos, havia tido em algum momento um projeto de republicá-los?

Lucchetti- Não. Nunca cogitamos reeditar essa biografia do Sílvio Santos. Foi algo totalmente inesperado esse interesse por sua reedição. Reedição de algo que eu próprio já tinha me esquecido.

 

DMRevista- A nova edição das HQs contará com novas histórias? Uma atualização da vida de Sílvio da década de 1970 até o presente, ou apenas a história já publicada?

Lucchetti- Não. A nova edição contará apenas com o que foi publicado, já que uma atualização seria muito difícil de ser realizada, pois o Sílvio Santos não costuma dar entrevistas. E, além disso, o desenhista já é falecido. Ela apenas será restaurada e colorizada.

 

DMRevista- Em entrevista ao jornalista Guilherme Solari, o senhor diz que a ideia para a HQ fazia parte de um pacote de novas revistas,  numa tentativa de ajudar a salvar a vida financeira da Editora Prelúdio. E que a HQ de Silvio Santos vendeu cerca de 200 mil exemplares. Foi possível alcançar o objetivo?

Lucchetti- Em 1969, a editora Prelúdio publicava o gibi O Estranho Mundo de Zé do Caixão, criado por mim e com HQs escritas por mim e desenhadas por Nico Rosso. Mas, intempestivamente, o sr. José Mojica Marins, que apenas estava dando autorização para usar a imagem e o nome do seu personagem (Zé do Caixão), retirou a revista das mãos da Prelúdio e passou a publicá-la por outra casa editorial. Com isso, a Prelúdio ficou numa situação difícil, porque havia comprado uma grande quantidade de papel (a revista do Zé do Caixão era impressa num papel especial, muito branco) e tinta. A editora afundou-se numa crise financeira sem precedentes. Eu era funcionário e amigo pessoal dos diretores e proprietários da editora, os srs. Armando Augusto Lopes e Arlindo Pinto de Souza, e eles me pediram sugestões de novas publicações nas quais pudessem utilizar o papel e as tintas compradas, além de ajudar a Prelúdio a vencer a crise. Duas das publicações imaginadas foram: Histórias Que o Povo Conta e essa biografia do Sílvio. Embora essas revistas tenham sido um sucesso editorial, elas não alcançaram seu objetivo; e a editora acabou pedindo concordata.

 

DMRevista- A quantas andam as expectativas para ver novamente nas bancas a sua obra, que revive a trajetória deste grande homem, um dos maiores responsáveis pela construção da identidade da televisão brasileira, que é Sílvio Santos?

Lucchetti- Também estou na expectativa de ver essa HQ restaurada, novamente impressa e chegando às mãos dos novos leitores.

 


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