Cultura

The Wailers celebra obra de Bob Marley no Bolshoi Pub

DM Redação

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 20:22 | Atualizado há 3 horas

Grupo jamaicano excursiona pelo mundo com repertório que celebra Bob - Foto: Divulgação
Grupo jamaicano excursiona pelo mundo com repertório que celebra Bob - Foto: Divulgação

Marcus Vinícius Beck

O grupo The Wailers, conhecido por ter revelado Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer, sobe hoje ao palco do Bolshoi Pub, no Setor Bueno, a partir das 21h. Liderada pelo baixista Aston Barrett Jr., a banda revisita o disco “Legend”, que vendeu 25 milhões de cópias.

Lançada em maio de 1984, a coletânea reúne os principais sucessos de Bob e sua banda Wailers. Traz quase todos os hits do cantor jamaicano, tirando suas músicas políticas. Em dois discos, sagra-se uma obra pop, boa para apresentar aos jovens a arte do rastaman.

Há uma razão para o elepê ser um best-seller até hoje: Bob Marley e suas vibrações positivas. O som é desacelerado, flutuante, indo pra lá e pra cá, baixo e bateria em primeiro plano, guitarra sassaricando. Usa um compasso binário com acento constante no tempo fraco.

É uma música sincopada, o reggae. Cristalizou-se, segundo o crítico estadunidense John Rockwell, a partir de ritmos dançantes caribenhos por volta de 1968. Desde o início, foi o som das favelas de Kingston, capital da Jamaica, acossada pela desigualdade social.

The Wailers grooveia. Isso mesmo, a banda inventou o reggae como o mundo passou a conhecê-lo. Sua formação original, lendária, trazia Peter Tosh na guitarra, com suas notas ascendentes no instrumento. O baixista Aston Barrett, por sua vez, sustentava tudo.

“Suas letras — com Marley na liderança — enfatizam a retórica revolucionária e as noções apocalípticas dos rastafáris, a seita religiosa à qual o Bob Marley e muitos outros músicos de reggae pertencem”, escreveu John em texto publicado no “New York Times”, em 1975.

Na reportagem, o jornalista se dedica ao aspecto religioso. Detalha o escriba: “os rastas, como os devotos são chamados, acreditam que Haile Selassie é a manifestação de Deus na Terra; eles usam o cabelo despenteado e sem corte, trançado em mechas e depois depilado.”

Barrett e seu irmão, Carlton, arquitetaram as bases sonoras do estilo em cima do souka, soul, rhythm and blues, funk, jazz e a música dos descendentes de africanos. Era o que se ouvia na Jamaica, nos anos 1950. Ou seja, foi uma cozinha rítmica estabelecida na black music.

Bob Marley gravou no início dos anos 1970 disco “Catch a Fire” com Wailers – Foto: Divulgação

Desde a metade dos anos 1960 — quando nomearam o grupo de The Wailers —, Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Livingston tocavam juntos. Em 1969, os três realizaram seus primeiros shows em parceria com os Barretts, algo que se tornaria corriqueiro no início dos anos 70.

Em 1971, a banda embarcou para o Reino Unido, onde fez turnê e gravou com Johnny Nash. Com o retorno de Nash aos Estados Unidos, os músicos estavam sem grana para voltar à Jamaica. Bob, maltrapilho, foi ao escritório do produtor Chris Blackwell, da Island Record.

Ali, Blackwell lhe adiantou um bom dinheiro, de modo que os Wailers tivessem condições de gravar um disco. Também custeou a passagem dos artistas para a Jamaica. Em Kingston, fizeram “Catch a Fire”, que saiu em abril de 1973. A versão original tem nove músicas, mas foi retrabalhada com contribuições do guitarrista Wayne Perkins, do Muscle Shoals.

Dentre essas composições, duas foram escritas por Peter Tosh, que deixaria os Wailers em 1976 para lançar o elepê “Legalize It”. Tosh seria aplaudido pelas qualidades artísticas: o vozeirão de barítono, a levada reggae na guitarra, o discurso anti-babilônia e pró-maconha.

Tosh estava descontente com o tratamento da Island Records. Sentia que Blackwell, apesar de patrociná-lo, tratava-o de tal forma que levou-o a declarar: o produtor era “pior que os brancos”. Até ser assassinado, em 1987, o cantor e compositor tornou-se lenda do reggae.

Já em “Catch a Fire”, o disco internacional dos Wailers, as demais músicas descortinam a visão de Bob. “Eu me vejo como um rastafári. A Jamaica é a Jamaica. Eu sou rastafári”, declarava o artista, que lançaria com os Wailers, também em 1973, o disco “Burnin’”.

É necessário contextualizá-lo, pois foi o último álbum dos Wailers com os três fundadores. Eles sairiam em carreira solo nos próximos anos, com Bob lançando “Rastaman Vibration”, de 1976, “Exodus”, de 1977, “Kaya”, de 1978, “Survival”, de 1979, e “Uprising”, de 1980.

Como disse o crítico musical John Rockwell, Bob Marley é “um cantor potente, um tenor cuja voz não é tão evocativa quanto a de [Jimmy] Cliff ou Nash”. Não à toa, o artista, morto em 1981, parece mais vivo do que nunca. Ingresso a partir de R$ 200 pelo blueticket.

https://open.spotify.com/intl-pt/album/7p4Qq5bIRmSJPK2OjZ1jUi

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