Cultura

Um escritor ainda em aberto

Redação DM

Publicado em 29 de setembro de 2015 às 14:00 | Atualizado há 8 meses

Por Walacy  Neto

A história se mistura com a arte em diversos momentos. Existe uma ligação forte entre contexto histórico e a tematização das expressões artísticas da época. Acontece porque as atividades que envolvem o lúdico e o criativo, geralmente vão de encontro com a realidade onde o criador está inserido. Na Segunda Guerra Mundial o livro Diário de Anne Frank revelava o terror que uma jovem garota passava durante a perseguição do povo Judeu pelos Nazistas. No Brasil, durante a ditadura militar, os músicos Tropicalistas cantavam a revolta do silêncio forçado que eram submetidos, era preciso ter cuidado com o que se ia falar, pensar ou fazer. O artista então tem uma função de datilógrafo dos fatos sociais, mas não de maneira fixa e cheia de regras, pois na arte é livre. Um dos exemplos de artista que registrou nas páginas dos seus livros um recorte da sociedade é Machado de Assis. Também considerado um dos maiores artistas da nossa época, Machado de Assis relatou histórias e fatos e agora, provando uma circularidade da história, ele faz parte desta também.

É, até agora, considerado como o maior escritor da nossa literatura sendo que escreveu em praticamente todos os estilos literários. Machado de Assis foi poeta, cronista, contista, folhentista, jornalista, crítico literário e dramaturgo. Desta forma, foi um dos responsáveis por registrar o período de mudança do Império para a Repúblico e muitos dos sentimentos do país naquela época. Ele nasceu e morreu na cidade do Rio de Janeiro, principal região do país naqueles tempos. Vindo de família pobre e negro, Machado de Assis assumiu diversos cargos políticos até conseguir, com estranha rapidez, um espaço onde podia publicar poemas e contos que escrevia.

Sem dúvidas o trabalho de Machado de Assis é um baú de surpresas. Em diversos gêneros literários seu textos surpreendiam pela audácia de temas tratados em relação à época. Foram nove romances, duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos e seiscentas crônicas. Entre estes alguns que merecem o destaque e a dica para uma futura leitura. Memórias  Póstumas de Brás Cubas, lançado em 1881, é um dos romances que inaugura o realismo no Brasil. De forma rotineira, beirando a banalidade da vida comum, a história se desenvolve como “ébrios”, conforme diz o autor em um trecho do livro. “O maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem”. Ele também é o autor dos grandes clássicos brasileiros Quincas Borba, Esaú e Jacó, Memorial de Aires e Dom Casmuro.

Reticências

Como tudo que é bom acaba com vírgula, abre parênteses ou reticências, o livro Dom Casmuro não deveria ser diferente. Não se trata aqui de um adiantamento da história contida no livro, mas de se dizer que a finalização de Dom Casmuro praticamente afetou (e ainda afeta) a curiosidade de muito brasileiro. Afinal, meter na vida particular dos casais alheios é meio que um sentimento comum de todos nós. Porém, no caso de Betinho e Capitu, dois personagens do imaginário de Machado de Assis, pode-se meter a colher, comentar e fofocar pro vizinho que a tal mocinha de olhos de ressaca estava cheia de graça com o melhor amigo do amado. Mas nada se sabe, sobre o que realmente aconteceu com a moça e a discussão deve ser eterna, assim como a literatura construída por Machado.

Ainda em vida, Machado de Assis conseguiu certo reconhecimento. Mesmo filho de pretos (o avô havia sofrido os fatos estranhos da escravidão) o jovem conseguiu ter notoriedade dentro do país ainda em vida. Nos últimos anos suas obras têm se espalhado pelas mesas e bocas de críticos literários dos quatro cantos do mundo. Pela antecipação de estilos literários e pela especificidade que cada obra têm, Machado de Assis é considerado um escritor da grandeza de Camões, Shakespeare e Dante. Pela literatura brasileira, além dos livros, também criou a Academia Brasileira de Letras, ao lado do amigo e embaixador Joaquim Nabuco.

Curiosidades


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