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Varilux homangeia diva Brigitte Bardot no Cine Cultura

Maior evento do cinema francês no Brasil, festival começa nesta quinta-feira, 23, e se estende até o dia 6 de dezembro

Não é estranho que ela, dona de si e de seu próprio nariz, tenha vivido as predições da paixão - Foto: Reprodução Não é estranho que ela, dona de si e de seu próprio nariz, tenha vivido as predições da paixão - Foto: Reprodução

Com 1,66 metro distribuído num corpo estupendo, a atriz Brigitte Bardot arrancava suspiros de homens e mulheres. Era linda, sensual, encantadora. Naquele rosto desenhado por olhos fortes, deslizavam os cabelos. Uma franjinha delineava a expressão facial. À boca, os cigarros reforçavam o ar de femme fatale, que o cineasta Roger Vadim ajudou a construir nos anos 1950 com o filme “E Deus Criou a Mulher”, em cartaz no Cine Cultura durante o Festival Varilux, a partir desta quinta-feira, 23. Aquilo se revelou, como sabemos, uma explosão libidinosa: imaginava-se encontrá-la nas esquinas, por aí, tipo uma linda garota comum.

Pelé, por exemplo, apaixonou-se perdidamente pela francesa, mas não podia assistir aos seus filmes, porque ainda não havia completado 18 anos. Símbolo cultural inconfundível, Bardot despertou atenção do cantor e compositor Tom Zé, numa música na qual projeta um triste envelhecimento à sexy simbol. Em músicas, é citada ainda por Elton John e Red Hot Chili Peppers, The Who e Caetano Veloso, além de ser retratada pelo artista Andy Warhol e se tornar objeto de biografias. Um símbolo do desejo eternizado pela magia cinematográfica.

Para a filósofa Simone de Beauvoir, Bardot passou como uma locomotiva pela história das mulheres. Nenhuma ousou saborear com tamanha emancipação os prazeres da liberdade no período pós-guerra. A “Bardot mania”, termo cunhado pela imprensa norte-americana, despertou atenção feminina, influenciando o estilo com que elas passaram a se vestir e o comportamento adotado por lá a partir dos anos 1950. Quando decidiu encerrar a carreira logo após completar 40 anos, em 1974, informou a todos os desavisados que valia mais seu sorriso jovem gravado em nossas pupilas do que a imagem dela ficando velha à luz do dia.


		Varilux homangeia diva Brigitte Bardot no Cine Cultura
Um escândalo: atriz atua no filme "E Deus Criou a Mulher" - Foto: Reprodução. Marcus Vinícius Beck

Não é estranho que ela, dona de si e de seu próprio nariz, tenha vivido as predições da paixão com o roqueiro Mick Jagger assim que os Rolling Stones terminaram um show em Paris lá pelos idos de setenta e poucos. Uma das filhas de Jagger, se você nunca reparou, guarda reveladoras semelhanças com a atriz francesa. Ora, certíssima de fato estava Bardot: sempre negou qualquer envolvimento com o líder dos Stones, predador sexual terrível, conforme registrado pelos inúmeros biógrafos que se meteram a perfilá-lo nos últimos anos.

Bom, seja como for, o mito BB estava instaurado. Nós apenas iríamos saboreá-lo, ano a ano. Vejam só como “E Deus Criou a Mulher” é paradoxal: embora envelhecido, Bardot aparece em cena deslumbrante. Certos filmes requerem que nossa atenção para que, com eles, entendamos que tipo de fascínio estrelas como a francesa provocam no público. “Que foto você gostaria de ver publicada após a sua morte?”, perguntou a lendária sexy symbol. Ah, e eu lá sei, difícil até: talvez uma atuando em qualquer cena da película dirigida por Vadim.

Parisiense nascida em setembro de 1934, Brigitte Anne-Marie Bardot se achava feia até o dia em que cruzou com Roger Vadim, lindo como um deus dirigindo um Cadillac conversível. Segundo a jornalista Marie-Dominique Lelièvre, do jornal “Libération”, a maravilhosa falta de jeito dela, a lentidão com que lidava com as coisas práticas da vida e a charmosa estranheza faziam os corações sensíveis à beleza das mulheres dispararem dentro do peito. Roger Vadim experimentou tal sensação. Amou-a intensamente e, sendo artista, filmara seu corpo, que parecia ser atraído às lentes da câmera como um imã grudando na geladeira.


		Varilux homangeia diva Brigitte Bardot no Cine Cultura
'Locomotiva na história das mulheres': Bardot recebeu elogio da filósofa Simone de Beauvoir. Marcus Vinícius Beck

Na pele de Juliete Christiane Hardy, Brigitte Bardot transava porque queria, amava um homem pelo mesmo motivo e depois caia nos braços do outro porque se vive uma vez só. Longe de sentir-se envergonhada por isso, aliás. Quando pais e mães começaram a se dar conta de que estava em curso um tipo de revolução sexual, então a acusaram - dedos em riste - de corromper a juventude. Estamos falando de uma França púdica, de pais castos e mães recatadas. Uma França pré-Maio de 68, bem antes de Serge Gainsbourg, Jane Birkin, Fruffaut e Godard. Sob a batuta do general De Gaulle, os reaças impunham seus valores.

Se criar uma obra de arte em cima da liberdade sexual feminina irritava os conservadores, o mesmo não se podia dizer das colônias sob domínio francês. Mas quer saber? Ainda hoje é delicioso assistir ao milionário Eric Carradine (Curd Jürgens) enquanto ela, maravilhosa, sente tesão por outro cara da região, Antonie Tardieu (Georges Poujouly). No entanto, acaba se casando com o irmão de Antonie, Michel André Tardieu (Jean-Louis Trintignant). Afinal de contas, deus criou a mulher e o olhar enigmático dela, pelos quais a gente só o agradece.

PROGRAMAÇÃO

23/11 – Quinta-feira

– 14h: Sob as Estrelas (2023, 110 min, livre, dir: Sébastien Tulard)

– 16h15: O Renascimento (2023, 95 min, livre, dir: Rémi Bezançon)

– 18h20: O Livro da Discórdia (2023, 97 min, livre, dir: Baya Kasmi)

– 20h25: A Musa de Bonnard (2023, 122 min, 14 anos, dir: Martin Provost)

24/11 – Sexta-feira

– 14h: O Livro da Discórdia (2023, 97 min, livre, dir: Baya Kasmi)

– 16h05: O Astronauta (2022, 110 min, livre, dir: Nicolas Giraud)

– 18h20: Crônica de Uma Relação Passageira (2022, 100 min, 14 anos, dir: Emmanuel Mouret)

– 20h25: O Desafio de Marguerite (2023, 112 min, 14 anos, dir: Anne Novion)

25/11 – Sábado

– 14h: Almas Gêmeas (2023, 100 min, 14 anos, dir: André Téchiné)

– 16h05: Conduzindo Madeleine (2022, 91 min, livre, dir: Christian Carion)

– 18h: Maestro(s) (2022, 96 min, livre, dir: Bruno Chiche)

– 19h55: As Bestas (2022, 137 min, 14 anos, dir: Rodrigo Sorogoyen)

26/11 – Domingo

– 14h: A Viagem de Ernesto e Celestine (2022, 81 min, livre, dir: Julien Chheng e Jean-Christophe Roger)

– 15h45: Meu Novo Brinquedo (2022, 112 min, livre, dir: James Huth)

– 18h: Making Of (2023, 119 min, livre, dir: Cédric Kahn)

– 20h25: Crônica de Uma Relação Passageira (2022, 100 min, 14 anos, dir: Emmanuel Mouret)

27/11 – Segunda-feira

– 14h: Disfarce Divino (2023, 98 min, 14 anos, dir: Virginie Sauveur)

– 16h05: A Musa de Bonnard (2023, 122 min, 14 anos, dir: Martin Provost)

– 18h35: O Renascimento (2023, 95 min, livre, dir: Rémi Bezançon)

– 20h40: Culpa e Desejo (2023, 104 min, 16 anos, dir: Catherine Breillat)

28/11 – Terça-feira

– 13h: Orlando, Minha Biografia Política (2023, 98 min, 14 anos, dir: Paul B. Preciado)

– 15h05: Memórias de Paris (2022, 105 min, 14 anos, dir: Alice Winocour)

– 17h15: As Bestas (2022, 137 min, 14 anos, dir: Rodrigo Sorogoyen)

– 20h: Sob as Estrelas (2023, 110 min, livre, dir: Sébastien Tulard)

29/11 – Quarta-feira

– 13h: A Musa de Bonnard (2023, 122 min, 14 anos, dir: Martin Provost)

– 15h30: O Renascimento (2023, 95 min, livre, dir: Rémi Bezançon)

– 17h35: Meu Novo Brinquedo (2022, 112 min, livre, dir: James Huth)

– 19h50: Maestro(s) (2022, 96 min, livre, dir: Bruno Chiche)

30/11 – Quinta-feira

– 14h: O Desafio de Marguerite (2023, 112 min, 14 anos, dir: Anne Novion)

– 16h15: Disfarce Divino (2023, 98 min, 14 anos, dir: Virginie Sauveur)

– 18h20: Conduzindo Madeleine (2022, 91 min, livre, dir: Christian Carion)

– 20h20: O Livro da Discórdia (2023, 97 min, livre, dir: Baya Kasmi)

01/12 – Sexta-feira

– 14h: Crônica de Uma Relação Passageira (2022, 100 min, 14 anos, dir: Emmanuel Mouret)

– 16h05: Memórias de Paris (2022, 105 min, 14 anos, dir: Alice Winocour)

– 18h15: Almas Gêmeas (2023, 100 min, 14 anos, dir: André Téchiné)

– 20h15: As Bestas (2022, 137 min, 14 anos, dir: Rodrigo Sorogoyen)

02/12 – Sábado

– 13h30: Meu Novo Brinquedo (2022, 112 min, livre, dir: James Huth)

– 15h45: Making Of (2023, 119 min, livre, dir: Cédric Kahn)

– 18h10: Sob as Estrelas (2023, 110 min, livre, dir: Sébastien Tulard)

– 20h25: Culpa e Desejo (2023, 104 min, 16 anos, dir: Catherine Breillat)

03/12 – Domingo

– 14h: O Desafio de Marguerite (2023, 112 min, 14 anos, dir: Anne Novion)

– 16h15: O Astronauta (2022, 110 min, livre, dir: Nicolas Giraud)

– 18h30: Clássico: E Deus Criou a Mulher (1956, 95 min, 14 anos, dir: Roger Vadim)

– 20h30: Maestro(s) (2022, 96 min, livre, dir: Bruno Chiche)

04/12 – Segunda-feira

– 14h: A Viagem de Ernesto e Celestine (2022, 81 min, livre, dir: Julien Chheng e Jean-Christophe Roger)

– 15h45: Conduzindo Madeleine (2022, 91 min, livre, dir: Christian Carion)

– 17h40: Crônica de Uma Relação Passageira (2022, 100 min, 14 anos, dir: Emmanuel Mouret)

– 19h45: Making Of (2023, 119 min, livre, dir: Cédric Kahn)

05/12 – Terça-feira

– 14h: Sob as Estrelas (2023, 110 min, livre, dir: Sébastien Tulard)

– 16h15: Memórias de Paris (2022, 105 min, 14 anos, dir: Alice Winocour)

– 18h25: O Astronauta (2022, 110 min, livre, dir: Nicolas Giraud)

– 20h40: Almas Gêmeas (2023, 100 min, 14 anos, dir: André Téchiné)

06/12 – Quarta-feira

– 13h: As Bestas (2022, 137 min, 14 anos, dir: rodrigo sorogoyen)

– 15h45: Making Of (2023, 119 min, livre, dir: cédric kahn)

– 18h10: Disfarce Divino (2023, 98 min, 14 anos, dir: virginie sauveur)

– 20h15: Orlando, Minha Biografia Política (2023, 98 min, 14 anos, dir: Paul B. Preciado)

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