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Veiga Valle quase caiu no esquecimento após ter morrido

Nas proximidades do aniversário de 150 anos da morte do artista, cidades como Goiás e Pirenópolis vão receber a Semana Veiga Valle

O estado se prepara para homenagear um dos maiores artistas que nasceu em suas terras. Um homem do século 19, cuja arte está até hoje entranhada na cultura e religiosidade de seu povo. Trata-se de Veiga Valle, que no dia 24 de janeiro de 1874 deixava esse mundo.

Ou seja, neste mês se completa 150 anos de sua morte, fato que será marcado por diversas atividades que já começaram: vão se estender até o dia 27 de janeiro e passarão por cidades que fizeram parte de suja trajetória artística, como Pirenópolis e Cidade de Goiás, na Semana Veiga Valle.

Tudo o que vai acontecer será grandioso, e detalhado em breve. Porém, antes de tudo, é preciso contar um pouco sobre como Veiga Valle se tornou o maior artista barroco de Goiás e como sua história passou por certo esquecimento e tem sido resgatada.

Veiga Valle nasceu em 1806 e, embora arraigado à memória material e imaterial vilaboense, é de Pirenópolis. Ele chegou à Cidade de Goiás, hoje Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a convite do então governador, José Rodrigo Jardim, em 1830. Na antiga capital, se apaixonou e casou com a filha do político Joaquina Porfírio Jardim. De lá, não saiu mais - onde produziu a maior parte de seus trabalhos.

Embora tenha se enveredado na política, a arte sacra que concedeu a Veiga Valle a imortalidade. Tornou-se um santeiro solicitado em seu tempo e criou obras que são símbolos de devoção até hoje, a exemplo da imagem do Divino Pai Eterno, que está na entrada de Trindade. Muitas imagens de Veiga Valle ganham as ruas da Cidade de Goiás na Semana Santa, em procissões, como a tão querida Nossa Senhora das Dores.

As principais características da arte de Veiga Valle são os detalhes e os acabamentos, que - conforme muitos críticos de arte - estão entre os mais belos do gênero. Para o artista visual e curador Divino Sobral, a obra do artista consegue ser delicada e falar de uma vida celestial sem tormentos na terra.

“Sua obra se caracteriza pela riqueza de detalhes pictóricos, ele pintava sobre folha de outro e depois descascava essa parte da pintura revelando a folha de ouro e criando desenhos sofisticados que estampam os mantos de suas esculturas”, analisa o estudioso.

Veiga Valle também se tornou um dos maiores representantes do barroco, em um momento no qual o restante do Brasil já havia abandonado o estilo. “O barroco do século 18 foi tardio para ele. Então, ele coloca como característica as imagens de roca, que são esculturas usam atributos para que trazem mais representatividade e dramaticidade se aproximando à realidade. As imagens trazem cabelo natural, articulação e roupas reais”, explica o professor mestre em patrimônio cultural e memória Guilherme Veiga, trineto de Veiga Valle.

Quase perdida

Veiga Valle, em seu tempo, se tornou um santo requisitado. Contudo, após sua morte, em 1874, suas obras passaram por um processo de esquecimento. De acordo com Sobral, já que não existiam museus, escolas ou artistas que olhassem para o seu patrimônio visual.

Mas, na década de 1940, o cenário começou a mudar. Na chegada do pintor José Riscala na Cidade de Goiás para pesquisar artistas locais, ele conheceu a obra de Veiga Valle, escreveu e fez a primeira exposição sobre o seu trabalho.

Depois do estudo de Riscala, Guilherme Veiga conta que Helder Camargo de Passou aproveitou esses estudos, reuniu as obras de Veiga Valle e resolveu montar um museu. O Museu de Arte Sacra da Boa Morte foi criado em 1965 e, a partir daí a arte do santeiro foi olhada como parte da representatividade goiana.

Sesquicentenário evita desmemória

O sesquicentenário de Veiga Valle promete não deixar a obra de Veiga Valle ser esquecida. Isso porque os 150 anos de sua morte começaram a ser lembrados ano passado, com direito a exposição a céu aberto que aproxima a obra do barroco dos vilaboenses e turistas.

No dia 9 de dezembro as festividades começaram com o lançamento do Selo Sesquicentenário de morte de um dos mais importantes artistas plásticos goianos, Veiga Valle, criado por Gino Achkar Petrillo, na Igreja São Francisco de Paula, em uma realização da Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos.

Na oportunidade, também foi realizada uma missa em homenagem a ele que se notabilizou por suas esculturas de santos. Em seguida, aconteceu a abertura da exposição de longa duração de imagens de obras do artista e escultor, fotografadas por Paulo Rezende, na Galeria Beira Rio, fachada externa do Instituto Biapó.

A mostra a céu aberto tem curadoria de PX Silveira e traz fotos ampliadas reforçadas com material resistente e expostas ao público que passei pelo Centro Histórico.

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