Como é feito o diagnóstico de TDAH?
Redação Online
Publicado em 3 de junho de 2025 às 14:59 | Atualizado há 2 dias
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurodesenvolvimental que afeta cerca de 5-7% das crianças e 2-5% dos adultos globalmente, com impactos significativos na vida acadêmica, profissional e social.
Caracterizado por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade inadequados para a idade, o TDAH pode persistir ao longo da vida, embora sua apresentação varie entre indivíduos e faixas etárias.
O diagnóstico preciso é essencial para diferenciar o TDAH de outras condições e garantir intervenções adequadas, melhorando a qualidade de vida. Este processo é complexo e requer uma abordagem multidimensional, integrando avaliação clínica, relatos de informantes e exclusão de condições alternativas.
Entenda o que é o TDAH
O TDAH é definido pelo DSM-5-TR como um transtorno neurodesenvolvimental caracterizado por dificuldades persistentes em manter a atenção, comportamentos impulsivos e/ou hiperatividade que não correspondem ao nível de desenvolvimento esperado.
A CID-11 o classifica como um transtorno do neurodesenvolvimento, exigindo que os sintomas sejam evidentes antes dos 12 anos e causem prejuízo funcional em pelo menos dois contextos (ex.: casa e escola). O transtorno apresenta três subtipos principais: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/impulsivo e combinado.
A variabilidade dos sintomas, influenciada por fatores como idade, gênero e comorbidades, torna o diagnóstico desafiador. Estudos recentes, como os de Faraone et al. (2021, Nature Reviews Disease Primers), destacam a importância de considerar o impacto funcional e a exclusão de outras condições para evitar diagnósticos errôneos.
Avaliação Neuropsicológica para TDAH
A avaliação neuropsicológica para diagnóstico de TDAH e conduzida por profissionais capacitados, como psiquiatras, neurologistas ou psicólogos. O processo começa com uma anamnese detalhada, incluindo histórico médico, desenvolvimental e psicossocial do paciente.
O DSM-5-TR requer que pelo menos seis sintomas (ou cinco para indivíduos ≥17 anos) de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade estejam presentes por pelo menos seis meses, com início antes dos 12 anos e impacto em dois ou mais contextos. A CID-11 enfatiza a persistência dos sintomas em diferentes ambientes e a exclusão de causas contextuais.
A entrevista clínica explora o impacto dos sintomas na vida diária, como dificuldades em organizar tarefas, esquecer compromissos ou agir sem pensar. Informações de múltiplas fontes, como pais, professores (para crianças) ou cônjuges (para adultos), são essenciais para confirmar a consistência dos sintomas.
Ferramentas como a Conners’ Rating Scales ou a ADHD Rating Scale-5 são frequentemente usadas para coletar dados estruturados de informantes, aumentando a confiabilidade do diagnóstico.
Instrumentos complementares para o diagnóstico
Testes neuropsicológicos, como o Continuous Performance Test (CPT) ou o Stroop Test, avaliam funções específicas, como atenção sustentada, controle inibitório e memória de trabalho. Embora úteis, esses testes não são diagnósticos por si só, pois o TDAH é um diagnóstico clínico baseado em critérios comportamentais.
Escalas padronizadas, como a SNAP-IV ou a Adult ADHD Self-Report Scale (ASRS), quantificam a gravidade dos sintomas e seu impacto funcional, ajustadas para idade e contexto cultural. No Brasil, ferramentas como o SNAP-IV são amplamente validadas para uso em crianças e adolescentes.
Essas escalas ajudam a diferenciar TDAH de comportamentos normativos ou situacionais, mas devem ser integradas à avaliação com um neuropsicólogo para evitar falsos positivos, especialmente em contextos de alta demanda escolar ou estresse.
A importância do contexto e da exclusão de outras condições
O diagnóstico diferencial é crucial, pois sintomas de TDAH podem se sobrepor a outras condições, como transtornos de ansiedade, depressão, transtornos do espectro autista, transtornos do sono ou dificuldades de aprendizagem. O DSM-5-TR e a CID-11 exigem a exclusão de causas alternativas, como efeitos de medicamentos, traumas ou condições médicas (ex.: hipotireoidismo, epilepsia).
O contexto ambiental é igualmente relevante. Fatores como estresse familiar, bullying ou demandas escolares excessivas podem mimetizar sintomas de TDAH. A CID-11 recomenda avaliar o impacto do ambiente sociocultural, especialmente em populações com acesso limitado a recursos educacionais, para evitar diagnósticos equivocados. Um estudo de Polanczyk et al. (2020, The Lancet Psychiatry) destaca que taxas de diagnóstico podem variar devido a diferenças culturais na percepção de comportamentos hiperativos.
Diagnóstico em diferentes faixas etárias
O TDAH é frequentemente diagnosticado na infância, quando os sintomas são mais evidentes no ambiente escolar, onde demandas por atenção e autorregulação são altas. Em crianças, os sintomas hiperativos-impulsivos predominam, enquanto em adolescentes e adultos, a desatenção pode ser mais proeminente.
Em adultos, o DSM-5-TR reconhece que os sintomas podem ser menos visíveis, com comportamentos compensatórios (ex.: uso de agendas) mascarando dificuldades. A CID-11 enfatiza a necessidade de evidências retrospectivas de sintomas na infância para o diagnóstico em adultos.
O diagnóstico em adultos é desafiador devido a comorbidades frequentes, como ansiedade (presente em até 50% dos casos) ou depressão, e à falta de informantes confiáveis. Escalas como a ASRS e entrevistas estruturadas, como a DIVA-5 (Diagnostic Interview for ADHD in Adults), são recomendadas para maior precisão.
O diagnóstico de TDAH é um processo clínico complexo que exige a integração de avaliação clínica, relatos de informantes, instrumentos padronizados e exclusão de condições alternativas.
Profissionais capacitados devem considerar o contexto sociocultural e as particularidades de cada faixa etária, conforme orientado pelo DSM-5-TR e pela CID-11. Um diagnóstico preciso, conduzido com sensibilidade e rigor, é fundamental para direcionar intervenções eficazes, como terapia comportamental, psicoeducação ou farmacoterapia, promovendo melhor funcionamento e qualidade de vida.