Como programa Jovem Aprendiz vira aposta estratégica para empresas
Redação DM
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 21:38 | Atualizado há 5 horas
Com um recorde histórico de mais de 674 mil aprendizes ativos no Brasil e a criação de quase 70 mil novas vagas apenas no primeiro semestre de 2025 — um crescimento de 18,6% em relação ao ano anterior — o programa Jovem Aprendiz deixou de ser um mero item de conformidade legal para se tornar um fenômeno no mercado de trabalho.
Para além da obrigação, empresas líderes estão descobrindo no programa uma ferramenta estratégica para inovação e desenvolvimento de talentos. Longe de ser um custo, a contratação de jovens aprendizes é cada vez mais vista como um movimento estratégico de capital humano.
O perfil do novo aprendiz em números
Os dados de 2025 pintam um retrato claro do público do programa. Trata-se de uma força de trabalho majoritariamente feminina (52,88%) e muito jovem, com mais da metade dos contratados (52,77%) tendo até 17 anos.
A grande maioria (43,51%) ainda está cursando o Ensino Médio, o que reforça o caráter formativo do programa. Para as empresas, esses números representam a oportunidade de acessar um talento em pleno desenvolvimento, com alta capacidade de aprendizado e adaptação.
Novas perspectivas e o desafio da mentoria
A inclusão de jovens no quadro funcional é uma ferramenta eficaz para a oxigenação da cultura corporativa. Como nativos digitais, eles trazem uma familiaridade intrínseca com novas tecnologias.
Sua perspectiva, não moldada por vícios de mercado, pode gerar questionamentos produtivos. Contudo, esse potencial só é destravado com um programa de mentoria estruturado. Sem orientação e acompanhamento, a falta de experiência profissional pode levar a dificuldades de adaptação.
Uma das vantagens mais estratégicas do programa é a possibilidade de formar profissionais do zero, alinhados aos valores da empresa, criando um “pipeline de talentos” interno. No entanto, os gestores devem estar preparados para o desafio da alta rotatividade, comum nesta faixa etária.
Dificuldades em conciliar o trabalho com a rotina escolar são um dos principais motivos de evasão. Empresas de sucesso mitigam esse risco criando planos de desenvolvimento claros.
Desenvolvendo lideranças internas através da mentoria
Um benefício frequentemente subestimado do programa Jovem Aprendiz é seu impacto positivo na equipe já existente. Ao designar um colaborador mais experiente como tutor ou mentor do aprendiz, a empresa cria uma oportunidade de baixo risco para o desenvolvimento de novas lideranças.
O mentor é desafiado a aprimorar suas habilidades de comunicação, delegação, ensino e feedback, competências essenciais para qualquer cargo de gestão. Esse processo não apenas capacita o aprendiz, mas também identifica e treina potenciais líderes dentro da própria organização.
Os benefícios fiscais e a segurança jurídica condicionada
A estrutura legal do programa oferece vantagens, como a alíquota do FGTS reduzida para 2% e a isenção da multa de 40% quando o contrato se encerra no prazo. Embora o contrato de aprendizagem possua regras bem definidas, a segurança jurídica depende de uma gestão que respeite seu caráter formativo.
Há também o suporte das parcerias com entidades formadoras, como o CIEE e o SENAC, que simplificam os trâmites burocráticos do recrutamento, da seleção e da gestão da parte teórica do programa. Elas atuam como um filtro de conformidade, garantindo que os candidatos atendam aos pré-requisitos legais e que a empresa cumpra suas obrigações formais.
Contudo, o erro de muitos gestores é acreditar que o trabalho termina aí. O verdadeiro desafio estratégico, e onde o programa de fato se prova um sucesso ou um fracasso, reside na etapa seguinte: a integração humana e cultural do jovem à empresa.
Isso exige um plano de onboarding específico para o aprendiz, que estabeleça expectativas claras (com foco no aprendizado, e não na produtividade), defina quem será seu mentor direto e o apresente à cultura, aos valores e às regras não escritas da organização.
Para que o gestor possa se dedicar a esse planejamento estratégico de integração, é fundamental que a primeira fase, a da contratação, ocorra sem atritos. Compreender em detalhe como contratar jovem aprendiz — desde a escolha da entidade parceira até os aspectos legais do contrato — é um conhecimento que otimiza o processo.
Oportunidades estratégicas nos setores de comércio e serviços
Embora a indústria ainda seja o setor que mais contrata aprendizes, os dados de 2025 mostram um crescimento expressivo nos setores de Serviços (19.097 novos contratos) e Comércio (12.680).
Este movimento reflete a importância estratégica do programa para áreas como o e-commerce, onde empresas utilizam o Jovem Aprendiz para formar, desde a base, profissionais com habilidades essenciais para a economia digital.
O crescimento recorde no número de aprendizes, impulsionado pela fiscalização, também eleva o risco de que parte das vagas seja de baixa qualidade. Empresas que tratam o aprendiz como mão de obra de baixo custo, sem o devido acompanhamento, desvirtuam o propósito da lei. Em um mercado com muitas vagas, oferecer um programa genuinamente formativo se torna um diferencial competitivo para atrair os jovens mais talentos.