Mercado sem rumo: Fundos de criptomoedas atraem $6 milhões de dólares
Redação DM
Publicado em 15 de maio de 2025 às 07:58 | Atualizado há 2 meses
Depois de duas semanas em que mais de $1 bilhão de dólares deixou os produtos negociados em bolsa de ativos digitais, o relatório da CoinShares referente a 14-18 de abril mostra entradas líquidas de apenas $6 milhões de dólares, valor que, embora positivo, mostra uma hesitação do mercado.
Parte dessa fragilidade ficou evidente no meio da semana, quando números de vendas do varejo norte-americano acima do esperado dispararam resgates de $146 milhões de dólares em poucas horas, reforçando a percepção de que qualquer dado macro relevante é capaz de inverter o fluxo de capitais.
Fluxos divergentes entre gestoras e distribuição de ativos
Dentro desse ambiente de oscilações rápidas, os ETFs da BlackRock continuam captando (US$ 182 milhões), enquanto a Fidelity viu saídas de $123 milhões de dólares. Bitwise e a europeia 21Shares, por sua vez, somaram aportes combinados de $61 milhões de dólares. O contraste sugere que, em 2025, o histórico de cada emissor e a estrutura de taxas contam quase tanto quanto o desempenho dos criptoativos subjacentes.
O recorte por criptoativo mantém a fotografia irregular. O Ether registrou resgates de $26,7 milhões de dólares naquela semana, estendendo a linha de perdas iniciada em março. XRP, pelo contrário, recebeu US$ 37,7 milhões, beneficiado pela interpretação de que a disputa regulatória da Ripple nos EUA entrou em estágio menos agressivo.
O Bitcoin praticamente ficou no zero a zero, com saídas de $6 milhões de dólares, valor ínfimo se comparado aos $894 milhões que deixaram o ativo ao longo de abril. E, claro, sempre há novos projetos chegando, como o próximo lançamento na Binance 2025, que podem entrar nessa lista.
Enquanto os investidores ao redor do mundo mede cada passo, o brasileiro mantém um apetite voraz. Dados públicos da Receita Federal mostram que o volume de operações declaradas com criptoativos chegou a R$ 247,8 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, alta de 24,2% sobre igual período de 2023.
Esse ritmo, se preservado, coloca 2025 na rota de um novo recorde anual. Essa cifra se espalha por uma base que não para de crescer. Segundo estimativas da Foxbit Business, 63,4 milhões de brasileiros já tiveram contato com moedas digitais, um número 14,8% maior que no ano passado e próximo de um terço da população adulta.
Ainda que nem todos negociem todos os meses, a pulverização ajuda a explicar por que, mesmo quando os principais ETFs perdem fôlego, corretoras no Brasil relatam estabilidade no volume de ordens. No plano institucional, o Banco Central concluiu, em fevereiro, a primeira fase do piloto do Drex, versão tokenizada do real.
O relatório oficial aponta que mais de 30 instituições, de bancos a fintechs de cripto, testaram casos de uso como entrega versus pagamento e liquidação de títulos públicos. A autoridade monetária reforçou que as fases 2 e 3, previstas para o segundo semestre, avaliarão interoperabilidade com stablecoins e camadas DeFi permitidas pela regulação.
Sensibilidade a indicadores macro, timing e efeito dominó
A reação instantânea aos dados de varejo nos EUA mostrou que 2025 não será um ciclo de mão única. TLCIs que monitoram liquidez global mostram que o intervalo entre a divulgação de um indicador e a mudança de direção dos ETFs de cripto raramente ultrapassa duas horas, inferior à janela de 2023-2024.
Na prática, o investidor precisa conciliar uma visão estrutural, crescimento da adoção e avanços regulatórios no Brasil, com táticas defensivas diante de cada novo número de inflação, emprego ou consumo. Alguns fundos se especializam em capturar “eventos de protocolo”, isto é, hard-forks e atualizações de rede.
Eles já correspondem a 12% dos FIDCs de cripto aprovados pela CVM, segundo projeção interna de advogados que atuam junto ao regulador. A correlação é direta, quanto mais ruído internacional em torno dos ETFs, maior a busca por estratégias descorrelacionadas que dependem de lançamentos pontuais nas exchanges.
Apesar de a Instrução Normativa 1.888/2019 ter criado a obrigação de reportes mensais à Receita, a pesquisa “Perfil do Investidor Cripto 2025” do Ipec indica que 57% dos brasileiros que negociam ativos digitais não sabem exatamente como tributar lucros, e 42% desconhecem a diferença entre custódia própria e em corretora, o que acende o alerta sobre riscos operacionais.
Na somatória, 2025 começa um segundo trimestre com cheiro de transição. ETFs perderam parte do brilho que tinham no primeiro trimestre, mas a infraestrutura regulatória amadurece, e o investidor brasileiro reforça presença estrutural em cripto mesmo quando o estrangeiro hesita.