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Bancos têm robustez para suportar impactos da Lava Jato

O sistema bancário brasileiro tem robustez para suportar eventuais impactos da Lava Jato, afirmou o diretor de fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, após o BC indicar em relatório que a operação desperta atenção sobre eventuais efeitos na capacidade de pagamento dos tomadores de crédito.

Em coletiva de imprensa realizada ontem, Meirelles disse que a investigação, que apura esquema de desvios milionários na Petrobras, merece atenção e monitoramento permanente do BC pelo fato de ser uma "operação de porte, que atinge setor relevante do ponto de vista econômico".

Apesar de reconhecer que o impacto exato da Lava Jato só será conhecido à frente, Meirelles afirmou que a autoridade monetária tem confiança de que as condições do sistema bancário brasileiro se encontram em situação robusta para suportá-lo.

"Temos bastante segurança da capacidade do nosso sistema financeiro de absorver eventuais impactos", disse.

Em Relatório de Estabilidade Financeira divulgado ontem, o BC apontou uma tendência de manutenção da resiliência do sistema de crédito na perspectiva agregada, mas indicou que o "acesso mais restrito a financiamentos pelas empresas investigadas no contexto da Operação Lava Jato e seus fornecedores, bem como indefinições quanto às condições e custos de oferta de energia elétrica e de água, ensejam atenção relativamente aos seus impactos potenciais sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito".

No documento, o BC avaliou que "o sistema financeiro nacional, em geral, encontra-se com adequado nível de provisões" para o risco de crédito.

Segundo o BC, o sistema bancário brasileiro seguiu apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência no segundo semestre de 2014, apesar de cenário marcado por ambiente externo complexo e com desafios fiscais no lado doméstico.

"O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário brasileiro, que já se apresentava em baixo patamar, reduziu-se ainda mais no segundo semestre de 2014, evento fortemente influenciado pela elevação do estoque de ativos líquidos nas instituições financeiras", trouxe o documento.

A autoridade monetária indicou que o índice de liquidez do sistema passou a 2,02 no segundo semestre, ante 1,71 na primeira metade do ano. No relatório anterior, o BC havia publicado um índice de liquidez de 1,51 para o primeiro semestre.

Quanto ao mercado de crédito à pessoa física, o relatório assinalou que pesquisa realizada em dezembro pelo BC mostrou uma potencial redução na oferta de empréstimos em função da preocupação com o nível de emprego e com as condições salariais.

"Tais elementos podem impactar de forma mais acentuada a concessão e os riscos de crédito nas carteiras de crédito para pessoas físicas no início de 2015 e seus desdobramentos devem ser observados ao longo do ano", disse o BC.

Na véspera, o Ministério do Trabalho divulgou que o Brasil perdeu 2.415 vagas formais de trabalho no mês passado, no pior resultado para meses de fevereiro desde 1999, após o registro de 81,8 mil demissões líquidas em janeiro.

SHADOW BANKING


Ontem, o BC também divulgou, pela primeira vez, uma estimativa do "shadow banking" brasileiro, expressão que define o sistema de intermediação de crédito que envolve atividades e entidades fora do sistema bancário tradicional.

Em dezembro de 2013, o shadow banking amplo no Brasil somou R$ 2,6 trilhões, equivalente a 1,8% da estimativa para o shadow banking global. O shadow banking estrito, por sua vez, alcançou R$ 382 bilhões.

Na avaliação do BC, não há riscos relevantes para o sistema bancário decorrentes do shadow banking no País.

"Considerando a medida estrita, existe baixa probabilidade de contágio, tendo em vista que as aplicações dos bancos em ativos financeiros das entidades shadow banking representam apenas 0,6% de seus ativos financeiros e as captações bancárias junto a estas entidades, em relação aos mesmos ativos financeiros, representam apenas 2,4 por cento", disse.

Acerca dos testes de estresse conduzidos no segundo semestre de 2014, o BC informou que o sistema bancário nacional mostrou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais.

Banco Central não tem condições de manter programa de swap cambial por muito tempo

Mercado já começa questionar a capacidade da autoridade monetária em levar o programa adiante


O Banco Central não tem como continuar o programa de swap por muito tempo, disse à Reuters uma fonte sênior do governo, avaliando que a munição para usar esse instrumento está chegando ao fim.

"O Banco Central não tem mais munição. São US$ 115 bilhões em swap e tem US$ 370 bilhões em reservas e o programa está indo para 40% do uso da capacidade. Então, já começa a perder credibilidade", disse a fonte em condição de anonimato.

De acordo com ele, o mercado já começa a questionar a capacidade da autoridade monetária em levar o programa adiante.

O programa de swap e venda de dólares com compromisso de recompra adotado em agosto de 2013 foi estendido no início de janeiro até 31 de março e o BC tem até lá para indicar o que fará com esse instrumento de intervenção cambial.

O prazo se aproxima do fim num momento de forte alta do dólar no Brasil. Na quarta-feira (18), a moeda subia cerca de 1% à espera da divulgação do comunicado do banco central norte-americano sobre os juros, sendo negociada a R$ 3,2655.

Sobre o comentário da perda de fôlego do programa de swap cambial, a assessoria de imprensa do BC disse que a instituição não comenta declarações de fontes não identificadas.

GASTOS PÚBLICOS


No âmbito das contas públicas, a fonte informou que o corte de gastos será de cerca de R$ 60 bilhões neste ano.

"Vai ser um ajuste muito forte. Haverá um aperto forte", disse, indicando preocupação com o efeito do contingenciamento sobre a máquina pública.

"Temos que ver o impacto em cada órgão, senão provocamos um colapso no governo."

O Orçamento federal deste ano foi aprovado na noite de terça-feira pelo Congresso Nacional e o governo tem 30 dias, a contar da sanção da lei orçamentária, para apresentar a programação de gastos para o ano.

O corte de gasto público faz parte do ajuste fiscal posto em prática pela equipe econômica para reorganizar as contas públicas e fazer com que o setor público consolidado volte a registrar superávit primário, uma condição para o país não perder sua nota grau de investimento pelas agências de classificação de risco.

A previsão, segundo informou a fonte, é que o setor público volte a registrar superávit primário no resultado de fevereiro. Em janeiro, as contas públicas apresentaram resultado positivo de 21 bilhões de reais, em desempenho influenciado pela economia de Estados e municípios.

Para este ano, a meta de superávit primário de 2015 é de R$ 66,3 bilhões (já descontados R$ 28,7 bilhões de gastos com o PAC), equivalente a 1,2% do PIB.

CRESCIMENTO


A equipe econômica trabalha para reorganizar as contas públicas de forma a assegurar bases mais sólidas para o crescimento, mas o governo não descarta a possibilidade de um PIB negativo este ano, indicou a fonte.

De acordo com ele, a saída para o crescimento ocorrerá pela desvalorização cambial, que deverá ajudar o Brasil a ganhar mercado externo com a exportação de produtos manufaturados, ao mesmo tempo em que melhora a competitividades de produtos nacionais no mercado interno.

"O que vai puxar a economia para a frente será o câmbio porque, também em 2015, o investimento irá encolher", comentou.

A avaliação é que esse efeito comece marginalmente no último trimestre de 2015 e seja sentido de forma mais plena no início de 2016.

Na visão da fonte, o lado ruim é que o câmbio desvalorizado provocará mais inflação. Devido a esse efeito, ele considerou que a inflação de 2015 atingirá o teto da meta, mas não irá estourar a banda máxima por um efeito do PIB fraco sobre os preços.

A meta de inflação do governo é de 4,5% com 2 pontos percentuais de intervalo de tolerância para cima e para baixo.

Pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras aponta uma alta de 7,93% do IPCA neste ano, segundo a mediana das estimativas.

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